" Mais uma vez aquela noite foi tomada de pesadelos. Levantei-me e olhei pela janela, apenas para ver o caos lá fora. Meu coração começou a enlouquecer assim que vi as criaturas de olhos vermelhos, corri para dentro e me escondi como uma covarde no armário, tentando desesperadamente lembrar como se fazia para respirar. Fechei os olhos, a inconsciência ameaçando me agarrar, até que ouvi alguém abrir a porta e quase gritei de pânico -algo que atualmente me dá vontade de rir, afinal, eu nunca sinto pânico...nunca sinto nada- a única coisa que me impediu naquele momento foi o toque de uma mão conhecida que tapou a minha boca. Voltei meus olhos para cima e logo o rosto familiar de James entrou na minha linha de visão, a gravidade em sua expressão e os olhos dourados brilhando em preocupação mostravam-me o quão ruim estava o inferno que havia se formado lá fora. Um soluço escapou-me sem querer e ele me puxou contra o peito, abraçando-me com força contra si. Comecei a chorar agarrada a camisa negra que ele vestia, tentando voltar a respirar normalmente para que não nos encontrassem, já que a minha respiração soava alta demais em meus ouvidos, rezei para que o esconderijo nos protegesse do pesadelo lá fora. Foi quando a porta explodiu, se desprendendo das dobradiças e batendo com força na parede oposta. James levantou corajosamente, protegendo-me com o corpo e logo caiu de joelhos com a visão da mulher que entrava pela porta. O ouvi sussurrar em uma língua incompreensível e então seu corpo grande começou a ter espasmos horríveis e a se contorcer. Lembro-me de ouvir um grito de gelar os ossos sair de sua garganta, foi quando sua pele rasgou e os ossos e músculos começaram a crescer e a se modificar, fazendo um barulho perturbador. Não pensei nem sequer um segundo naquele momento, corri para a janela e pulei, sabendo que em baixo de mim havia uma tenda..."
Despertei do devaneio meio tonta, olhando o local aonde me encontrava. Era um quarto enorme em tons de branco, um rosa suave, dourado e bege, com uma decoração delicada e flores, flores de sakura, em vasos no ambiente. Eu relaxei por um segundo até que uma voz conhecida me fez despertar. Assim que James sussurrou "minha pequena flor de cerejeira" eu pulei da cama. Chuto o criado mudo em direção a cadeira em que ele se encontrava, o que faz o homem que um dia eu chamara de amigo dar um pulo para trás para evitar o impacto. Ao mesmo tempo eu rolo para o lado da cama, procurando as armas que estavam presas ao coldre na minha cintura, no entanto ele não estava mais ali e nem o cinto. Ponho as mãos na frente do rosto em uma posição clara de luta encarando meu inimigo, os olhos dourados dele nos meus e o cabelo castanho extremamen arrumados em um corte mais curto do que eu me lembrava. As roupas estavam arrumadas e forçadas demais para dar um ar de casualidade que me deixasse tranquila. Ele estava vestido com uma calça jeans e uma blusa vermelha que não escondida o corpo musculoso e ameaçador que estava tenso. Os olhos dele acompanhando cada movimento meu.
-Isso é jeito de tratar um velho amigo, minha pequena flor de cerejeira?
Cerro os punhos, meu coração teimoso querendo amolecer com as palavras dele. Me movo procurando alguma arma quando sinto algo frio e familiar raspar meu pé dentro da bota. A faca de caça tão conhecida sendo uma presença muito bem vinda, como uma amiga que jamais te deixaria em hipótese alguma...como eu achava que ele era pra mim.
-Não é um apelido muito apropriado para a presente ocasião, senhor -Falo de forma fria ainda estudando os movimentos dele -Aonde está sua coleira?
-... Você está muito diferente, Sakura -Ouço algo como amargura em seu tom de voz -Não é mais como eu me lembro...
-Creio que isso seja bom, considerando que a garota que você se lembra era covarde e assustada.
Vejo uma abertura na defesa dele é tento correr, mas ele me agarra impedindo minha fuga. Acerto o nariz dele com o cotovelo, ouço o barulho da cartilagem se partindo com um "crecj" e logo o sangue jorra, manchando a blusa de James e a minha roupa de vermelho vivo. Ouço um rosnado sair de seus lábios cerrados e sinto uma dor insuportável no braço quando suas garras que saíram dos dedos perfuram minha carne com o barulho de algo sendo rasgado. A dor que me tomou foi tão lancinante que eu quase perdi o foco de meu objetivo e desabei. Com uma joelhada bem dada no estômago que parecia uma parede composta por músculos ele me soltou sem ar, o que me deu a oportunidade de correr para o outro lado do quarto, ainda bem longe da porta de saída. Procuro alguma arma desesperadamente, ainda não queria revelar a minha faca. Seguro o braço junto ao peito, a manga, minhas mãos e o chão estavam respingados de vermelho vivo.
Vejo James se recuperar, ajeitando a postura. A imagem de calma composta anteriormente completamente desfeita. Ele me encara com os olhos dourados selvagens e os punhos fechados.
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Sakura
RomanceViver sozinha sempre foi difícil. Se não fossem as irmãs que comandavam a escola aonde eu estudei, não sei o que seria de mim. Achei que ele estivesse no "mesmo barco", achei que seríamos nós dois contra o mundo, mas aí ela apareceu e ele assumiu su...