Lá estava eu na quinta cadeira da fileira perto das janelas. Tinha 14 anos e espinhas vulcânicas na face. Eu ainda não havia me acostumando com meu novo corpo, agora tendo ele deixado a infância e entrando nesse bixô de sete cabeças chamado adolescência, Minha voz era estranha, meu andar era desengonçado, meus pensamentos eram confusos, principalmente os que se referiam a Abel, ele não ia além de um garoto normal mas algo nele me atraia de uma forma inexplicável, nem uma matéria no quadro era tão digna de ser lida quanto as expressões daquele garoto magrelo. Devia ser o castanho mel de seus cabelos finíssimos na nuca, ou o de seus olhos pontilhados de preto, o jeito de sorrir, talvez, mas com certeza o jeito que ele olhava para Ana Paula. Aí como que queria que ele olhasse assim pra mim, que seu olhos brilhassem da mesma forma quando raramente cruzavam com os meus.
Minhas pernas estavam trêmulas eu transbordava de anciedade. Hoje eu arranjaria coragem e falaria com Abel. Esperei até o intervalo, o segui até a cantina, a fila do lanche. Ele se sentou na mesma de Ana Paula e seus demais amigos, acho que eles poderiam ser chamados de populares, mas até onde eu sei Abel não era oficialmente um deles, faltava-lhe algo, apenas entre os meninos, havia algo como uma iniciação, seja lá está qual for. esperei Até que ele terminasse de comer. Então virei garganta a baixo o leite com chocolate do meu copo, como para buscar coragem na bebida. Andei em direção a mesa que ele estava, passando por trás e jogando um bilhete em sua bandeja vazia. Continuei andando, o observando de canto de olho. ele abriu o bilhete, depois me observou sair da cantina.
Ele estava demorando! O bilhete dizia: me encontre nos fundos da escola. Será que ele não entendeu minha caligrafia? Ou será que agora ele está rindo com seu amigos pensando: olha que idiota essa menina, quem em sã consciência iria querer-la?! Sim de fato era isso, só poderia ser isso, é só por isso vou embora daqui!
-Lara?! "Era ele, mesmo de costas reconheceria aqueles desafinos adolescentes."
-foi você que me deu esse bilhete?
-Foi sim, eu quero saber se você está livre no sábado?
-Você está me chamando para sair. "Ele falou sorrindo estava surpreso. Eu também estava onde diabos achei aquela coragem, o que as tias da cantina puseram no leite com chocolate?"
-É isso!
-Tudo bem, onde vamos?
-As 19:00 no Tonny's. "O Tonny's era onde todos os jovens da cidade se encontravam para terem suas primeiras experiências com sexo, drogas, e rock'n roll."
-Tudo bem, estarei lá! "A semana se passou a passos de tartaruga. Mas em fim era sábado e sete, e eu entrava no Tonny's. Fui recebida pelo cheiro de cigarros, e pelo punkRock das caixas de som. Uma das experiências já foi! Olhei para as mesas do fundo e lá estava ele, olhava fixamente para um copo d'agua, como se nele contece as respostas, para seja lá o que ele procura. Me aproximei."
-Esperou muito? "Ele levantou os olhos, sobresaltando-se, como se minha voz havia o arrancado de seu mundo próprio."
-Não, tudo bem eu acabei de chegar. "Me sentei na poutrona a frente dele. Sei que esses lugares geralmente são reservados para grupos. Mas nós éramos em muitos, ocupavam aquele lugar: incertezas, anciedades, medos, timidez, exitação, Abel e eu. Nós pedimos sanduíches e coça, e conversamos, aos poucos nos soltamos, e ele era engraçado. Falava e jesticulava bastante, e era bonito extremamente bonito"
-E então Lara, porque me chamou pra sair?
-Não é óbvio?! Eu gosto de você!
-Tão vocês quer, tipo, namorar comigo?
-Acho que é nosso que esses sentimentos vão dar.
-Como?
-Isso foi um sim. "Meu coração pulsava a galopes, dava impressão de poder ser ouvido por toda lanchonete."
-Também gosto de você, Lara, acho que podemos tentar namorar. Quem sabe?! Acho que temos boa química! "É difícil pensar num relacionamento como um como um hidrocarboneto ou uma cadeia aromática. Mas sim eu concordava e estava feliz, exorbitante. Era difícil naquele momento pensar em outro melhor. Na volta para casa ele me levou até a porta e estávamos de mãos dadas, e elas suavam, não sei se era a minha ou a dele, talvez as duas. Como nerd que sou pensava naquilo como nossa primeira troca de informações genética. Na entrada ele me beijou a face, que se ruboresceu, despediu-se e foi.Nas semanas seguintes sentávamos juntos todos os recreios. Eu o ouvia falar dos jogos de futebol na tv sem entender muito ou no minimo gostar do esporte, mas me bastava apenas observa-lo, eu ficaria feliz apenas por esta ao seu lado. mas naquela manha de sexta foi diferente, ao soar do alarme para o intervalo, Abel me puxou pela mão corremos em direção ao mesmo lugar em que o chamei para sair.
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Enquanto Morro.
RandomEssa é uma história que a Morte ouviu quando deveria estar, apenas, fazendo o seu trabalho.