Na manhã de domingo ela não estava lá, não estava ao meu lado. Tateei a cama havia apenas um espaço vasio. Respirei fundo para afastar o atorduamento do sono. Olhei no relógio sobre o criado mudo 07:00. Que horas ela havia saido? Cambaleei ate o banheiro, bati na porta com cuidado. Sem resposta do outro lado, entrei e escovei os dentes. Desci a cozinha, Helen passava o café.
-Onde esta sua amiga? -Vim aqui na esperança de que pudesse me responder. Maneei a cabeça. -Que extranho. Ela saiu muito cedo pelo visto. Comentou algo com você? -Mas uma vez neguei em silêncio. O sentimento que percorria minha espinha, foi de esperança frágil a um mau pressentimento. No resto do dia tentei ignora os calafrios e sensores naturais berrando perigo por todo meu corpo. Como todo domingo este se seguiu preguiçoso, terminei a leitura que havia começado no dia anterior, fiz os deveres de casa, estudei para as avaliações. Como quem fecha um círculo num desenho cheio de espirais eu terminei aquele dia. Como quem fita o papel a procura de inspiração para começa um nova obra de arte fitei o teto buscando inspiração para levantar naquela segunda. E eu achei na lembrança embaçada dos olhos cor de amêndoa, da pele vermelha, do sorriso atrevido, nas cicatrizes por todo lado e no abandono precoce. Mesmo a metros da entrada pude ver. Havia algo diferente, um movimento estranho. Duas viaturas estacionadas no portão. Engoli em seco. Oque poderia ter acontecido?! Ao passar pelos portões fui instruida por um funcionário da escola a me juntar aos outros alunos no auditório. Ao chegar, algo, melhor, alguém me chamou atenção. No palco conversando com diretor um homem alto pele vermelha e cabelos negros. O diretor tomou a palavra, fazendo sesça o burburinho dos alunos.
-O assunto a seguir é de suma seriedade, portanto exijo que se comportem e escutem. E por Deus, tenham o minimo de sensibilidade! Todos presente conhecem a aluna Ana Paula do sengundo B matutino? -Todas as cabeças no auditório manearam em afirmação. Alguns mais corajosos arriscaram um "sim" timido. a maioria se entreolhavam a procura de resposta algo que os fizesse entender oque acontecia. Olhos arregalados em busca de outros, em busca de explicação. Quanto a mim, me vi condenada a uma personalidade passiva e um corpo imovel. Desde quando me tornei tão covarde, tão inútil? Me deixando levar pelo medo, ceder a desritimia cardíaca, a fomigação nas mãos, a confusão no cérebro e repiração a tropelada. Quando me tornei tão humana? - Pois bem, Ana Paula está desaparecida. -Queixos despencados, coxixos que tomavam um tom mais auto a cada palavra, Expressões exageradas de espanto o princípio de um pandemônio. O homem armario de pele de Pau Brasil tomou a palavra. Ao falar era grave, roco, um som que preenchia o ambiente com uma seriedade praticamente fúnebre.
-É importante que todos que tenha uma uma informação de onde ela pode ter ido nas últimas 24 horas nos comunique, vou ouvi-los. Tudo é indispensável, vocês são peças importantes para a acharmos! -O homem devolveu a palavra ao diretor.
- Vão as suas salas, lá receberam instruções. Cada turma será um time de busca. Menos a sala de Ana Paula vocês serão ouvidos de imediato. -Ordem dada, ordem cumprida. Fui arrastada pelo senso do dever e empurrada pelos alunos ate a minha sala. Nos foram dados cartazes de procura e as seguintes instruções: os alunos que possuíssem perfis em redes sociais deveriam anunciar o desaparecimento, quanto mais pessoas soubessem um campo da cidade maior seria coberto. Vasculhariamos todas as regiões. Fomos alertados a não nos separamos do grupo e ficarmos a tentos a qualquer movimentação estranha na rua. Não houve um só momento em que não me perguntasse se ela havia chegado em casa bem no domingo, a hora que ela saiu de casa e porque de ter saido sem nos avisar. A hipótese de ser minha culpa me esmagava, me enlouquecia. Mas eu iria acha-la, com certeza iria, sã e salva e daria um esporro quando a encontrasse. Que história era aquela de sair sem avisar. Saimos da escola e percorremos todo o barrio. As regras eram claras: a distância percorrida seria maior a cada série, o primeiro ano ficaria com o barrio da escola, sala A em direção ao Sul a B ao norte, o segundo ano conbriria o leste a A o Oeste a B seguindo a diante ao proximo barrio na mesma direção as três salas do terceiro ano cobriria ao norte ate o próximo barrio. Todos os pais foram alertados e convidados a montar um grupo noturno. Os turnos seriam respeitados, nesse caso, ficaria a critério ir para casa ou nos juntamos com as turmas vespertinas. Eu não descansaria até acha-la e o fiz. As dez para cinco as buscas vespertinas terminaram voltamos para escola sem uma pista se quer. Nos liberaram sob o alerta de irmos direto para casa. Obviamente eu não os obedeceria. Fracos, preguiçosos, enquantos eles descansam A.P esta por aí perdida. Não, eu não descansaria, eu não comeria e não respiraria ate te-la de volta, culpa minha ou não eu resolveria esse problema. Tomei o caminho para casa fazendo um desvio passando por debaixo das passarelas, olhando em becos. O senso de perigo fora embora no lugar morava o desespero incansável destemido, implacável, obsessivo. Andei por uma hora enteira ate os faróis de uma viatura me forçar parar. A porta se abriu de lá saiu uma Helen desesperada que me abraçou.
-Lara você perdeu o juizo, como você sai por ai sozinha, a noite?!
-Eu preciso encontra-la! - Tentei desfazer o abraço para retomar minha procura. Porem minha madastra me segurou pelas Buchechas me fazendo olhar em seus olhos. Estavam assustados e uma lagrima lhe ameaçava escorre do olho direito. Então voltei a mim por um segundo o esclarecimento.
-Eu perdi o juizo. Eu a perdi é culpa minha!
-Não, não é, não diga isso por favor, nós vamos acha-la eu prometo, mantenha a calma! -Quem quer que estivesse sob a direção do veículo não tinha o menor apresso ou respeito por sacadas dramáticas. A buzina que veio da viatura fez Helen saltar num susto.
-Vamos, temos que voltar a escola, o chefe de polícia quer conversar connosco. -Ela me puxou ate o banco de trás do carro. Durante todo o percurso fitei a janela do carro na esperança de a ver vagando na calçada, ou parada na esquina. Mas eu não a vi nem nesta esquina nem na próxima, nem na outra tão pouco as que se seguiram. No escritório do diretor quem hoje comandava era o chefe de polícia vugo pai da desaparecida. Ele me fitava severo, duro como uma gárgula de predios altos fitam os pedestres nas calçadas. O odor de seus malditos cigarros tomavam toda a sala, uma bituca ainda insistia no exalar de sua fumaça tóxica. Ao lado Helen também me fitava mas como quem suplica uma explicação.
-Eu estou esperando, garota, não tenho todo tempo do mundo. Porque saiu por ai sozinha sem avisar porque desobedeceu a ordem de recolher?
-Por não termos todo tempo do mundo. -Minha voz saiu fraca esganiçada. Percebi que estava seca, afinal eu não havia bebido, ou comido, ou se quer falado durante as últimas horas. O homem pareceu surpreso com a resposta.
-Proxiga.
-Ir para casa, descansar, comer tudo isso é perda de tempo. Cada segundo a mais que estou sendo obrigada a ficar aqui são metros de distância dela sera que não entende?!
-Eu entendo e concordo, eu não precisaria estar perdendo meu tempo com você se fizesse sua parte e fosse para casa como ordenado! -Dei meu silêncio como resposta. A final a menos que ele faça parte de a Bela e a Fera, com armários não se discute. -Eu entendo que você esta preocupada, pelo visto vocês eram próximas. Ela dormiu em sua casa no sábado. Sobre oque conversaram? -Pela primeira vez desde que entrei naquela sala deixei de olhar meus sapatos para fita-lo, perfuraria seus olhos com o meu olhar se possível.
-Sobre mentiras presunçosas, omissões cruéis e verdades dolorosas. -Não consegui conter o deboche, como veneno escorria-me dos lábios num sorriso, afetava minha voz. -Ele franziu o cenho. Me retribuiu o olhar leu-me e deixei que lesse ele poderia vasculhar até o mais profundo dos meus sentimentos pois nesse momento eu gritaria as quatro cantos que Ana Paula queria fugir e talvez tenha feito, talvez não tenha suportado mais, talvez não pudesse me esperar e tenha ido.
-Já chega, leve ela para casa! -O homem interveio, antes que eu pudesse o confronta-lo outra vez, espalmando a mesa. Notei que no dorso de suas mãos, enormes, havia arranhões profundos e inflamados como os feitos pelas unhas de um gato ou gata.
-Sim senhor! Vamos Lara você precisa descansar. -Helen se levantou me dando um leve puxão pela manga, eu a acompanhei vagarosamente ela saiu e antes que eu o fize-se a voz rouca me impediu.
-Garota! -Parei e sem olhar para trás esperei que continuasse. -É bom ter cuidado!
-Sempre! -Fui levada para casa. Ao sentar em mimha cama pude sentir o cansaço do dia sobre meu corpo era como se agravidade dobrasse seu efeito em mim. Tirei os sapatos e as meias, havia calos por todo pé. Levantei com cuidado mas no caminho ao banheiro inevitávelmente ou dois calos nas solas acabaram por estourar. Tomei um banho, voltei ao meu quarto e por mais que quisesse fazer vigília, repassar mentalmente cada rua pensar, pensar nos incontáveis lugares que ela poderia estar agora, procurar na minha caixinha de lembranças alguma pista de seu paradeiro fui vencida pelo cansaço. Embarquei numa noite turbulenta de sonhos confusos: vi A P sem camisa na minha cama me mostrando suas cicatrizes, me sentia arder, vi seu pai e os arranhões nas mãos, era como se eu estivesse dentro de um vulcão, em todo tempo a voz de A P repetia "omissões cruéis" a frase ecuava e acada vez o vulcão aquecia mais. Acordei na manha de terça-feira afogada em suor mas não havia tempo para um banho os calos minha cabeça e corpo latejavam, nos calos eu espalhei ban-daids, coloria de verde, azul e roza os meu pés. Vesti-me e desci a cozinha, comeria algo para aliviar a dor na cabeça, e andaria em busca de A P oque poderia ou não sanar a dor no corpo. Uma torrada e leite, sobe olha severo de meu pai. Fim do café, já saia da cozinha quando.
-Onde pensa que vai?
-Ajudar nas buscas
-Você não saíra de casa hoje, esta de castigo por ontém?
-Você só pode estar brincando, não é?! -Ele maneou a cabeça negando. -Deixa para me castigar outro dia A.P esta perdida e eu vou ajudar a encontra-la!
- Não, não vai, ficará aqui em casa passiva, para aprender que se você der um passo maior que suas pernas cai e as quebra! -Respirei fundo, sorrir de nervosismo. Onde sera que eu já tinha ouvido essa frase?!
-Você não pode ser tão cruel, pense nela porfavo!
-Eu pensei! Helen vai te subistituir nas buscas. -Um grito escapou-me da garganta parecia ter vindo de um lugar ainda desconhecido do meu corpo, lugar esse tão, tão profundo. Helen que até então apenas assistiu a desculção se lançou em minha direção e só quando ela me sustentou percebi que havia perdido o equilíbrio.
-Não, não toque em mim é culpa sua! - A empurrei para longe, mas anida não tinha forças nas pernas, caí de bunda no chão. -você não deveria ter contado nada para ele! - Continuei dessa vez soluçando.
-Não a culpe pelos seus erros! -Meu pai repreendeu me pegando em seu colo. Eu apenas soluçava a cabeça explodia, pudia sentir o suor frio escorrer pela testa e pescoço.
-Ela esta ardendo em febre. -Helen disse com a mão sobre minha testa.
-Vou leva-la para cima, prepare a banheira. -Meu pai correu ate meu quarto seguido por Helen que foi ao banheiro prepara a banheira com água morna e álcool. Receita de família. Meu pai me deitou na cama, tirou meus sapatos.
-Como pretendia andar com isso? -resmunguei algo indefinível. Ele tirou o resto da minha roupa e seu cuidado e dedicação me lembrava quando ara apenas nós dois e eu era jovem de mais para despir-me só. Tomou-me em seus braços de novo.
-Já esta pronto? -Helen maneou a cabeça afirmativamente. Papai ajoelhou me deitando com cuidado na banheira. Sentia a água doer os ossos. Com a mão em concha Helen regava meu peito e testa.
-É culpa minha, eu preciso encontra-la!
-Nada disso é culpa sua, por favor, meu bem não se esfoçe tanto! -Helen retrucou. Quando a água de fato esfriou papai tirou-me da banheira, Helen cobriu-me com a toalha. Pai voltou ao quarto ainda me carregando. Me pos na cama secando meu corpo e cabelos. Ele me vestiu com um pijama que já não cabia direito em mim. Helen entrou no quarto com um chá pra gripe o pai me obrigou a bebe-lo me fezendo deitar em seguida. Briguei contra o sono, o cansaço e a febre por alguns poucos segundos antes de ser vencida completamente. Durante o tempo que dormi novamente tive sonhos ruins: a mesma frase se repetia aqui "omissões cruéis" e era como se eu estivesse fora do meu corpo e flutuava sobre ele que estava jogado em um latão de lixo, na minha orelha havia sangue e no lugar do brinco um machucado como se estivessem o arrancado a força, no pescoço marcas de dedos, derrepente algo, uma força me puxou para cima, tive medo, tentei me agarrar ao meu corpo, mas foi inútil, a força me levava cada vez mais alto pude ver a viela onde estava o latão o qual pertencia a um prédio comercial em um bairro alta periculosidade. A força me puxou para o espaço e pude ver o vazio a própria existência do nada e havia um vaco em meu peito, algo tinha sido tomado de mim. Acordei desesperada. Teria sido um sinal? Não esperei que o cosmos me dissesse. Lavantei tomei meu casaco, o passe do ônibus e saí, cambaleei ate a porta atravessei a varanda e o gramado, na calçada ja no ponto de ônibus percebi que estava descalça, mas não havia tempo para busca-lo o ônibus que me levaria ao meu destino ja se aproximava
Dei sinal, ele parou abrindo a porta, entrei passei o cartão, a maquininha destravoi a roleta. Eu não deveria esta com uma aparência boa ja que a cobradora me perguntou se esta tudo bem e se eu queria ir ao hospital. Murmurei um não me sentando no fundo do ônibus. Debrucei na já nela sentindo o corpo estremecer. Chegando no bairro do meu sonho num ponto à 100 metros de distância da viela escura fria e mal cheirosa, desci, caminhei e já na entrada pude ver o latão de lixo havia poças de agua por todo lado a umidade dos ar-condicionados dava a todo o lixo um odor ainda mais forte. Me aproximei usando um caixote para alcançar a altura do latão, vasculhei entre os sacos pretos afastando algumas caixas de papelão eu a encontrei exatamente como no meu sonho.
-Eu sabia, sabia que eu ia te encontrar! -Eu a puchei a arrastando para fora do latão.
-Eu vou te levar pra casa, vou cuidar de você! - A arrastei com dificuldade para fora da viela e andei pela calçada em direção ao ponto de travessia da avenida onde outros pedestres já esperavam o sinal de trânsito abrir. A cada passo ela parecia mais pesada e meu corpo mais frágil. As pessoas me olhavam com uma cara estranha. Horrorizados!
-O que aconteceu com ela vocês? -Uma senhora me perguntou, mas antes que eu pudesse responder minha vista escureceu, senti meu corpo ceder e mais uma vez a escuridão me engoliu. Quando acordei uma luz branca feriu meus olhos. Helen estava coxilando numa poltrona ao meu lado. Havia uma agulha em minha mão esta ligava ao soro que pingava vagarosamente gota à gosta em minhas veias. Olhei meu corpo e estava com uma camisola estrenha. Aos poucos recobrei a memoria.
-Helen onde eu a encontrei! -Falei minha voz saiu tremula, embreagada. Ainda assim Helen me ouviu despertando de seu sono e correndo para mais perto de mim.
-Eu a encontrei!
-Sim, querida, você conseguiu! -Ela confirmou, mas ao invés de Alegria, alivio e orgulho, no tom de sua voz havia pena e uma dor esmagadora.
-Onde ela esta? - Perguntei tentando me sentar -Preciso vê-la!
-Você tem que desar, porfavor tente não exigir mais de seu corpo.
-Mas que tenho que vê-la, Helen! -Retruquei em tom de voz mais alta. -Eu tenho que vê-la! -Vociferei. -Porfavor. -Agora mais baixo em súplica lembrando de como eu havia a encontrado. -Me diz que ela esta bem. -Chorei.
-Ela eta melhor agora.
Naquela quinta feira o sol nunca brilhou tanto, os carros na rua nunca foram tão barulhentos, as crianças nunca sorriram tanto, o mundo nunca foi tão insensível como agora. Ela não estava usando nosso brinco, seus olhos enormes não me engoliam, sua pele vermelha estava palida. Ela estava perturbadoramente linda naquele vestidinho branco as mãos sobre o peito pareciam segura o coração, mas ele não sairia pela boca ele estava descansando em paz e não iria a lugar algun. Me aproximei de seu caixão, ignorando a figura da presença carrancuda do pai dela, tirei meu brinco e escondi entre suas mãozinhas.
-Leve-me consigo! -Sussurrei.
*****-E assim fez, eu nunca mais tive vida depois daquele dia, minha alma foi interrada junto a ela naquele caixão! -Ela ofegava. Mal posso imagianar a dor que sentia em suas entranhas pelo veneno e em seu coração pelo que acabara de contar. -A vida foi cruel em me machucar tanto entregando a você as mulheres que me fizeram viver. Por isso eu quero me entregar a você me leve para longe da vida como ela me levou para longe da felicidade. -Ela parecia pronta agora pois trancou os olhos. Eu me debrucei sobre ela pus meus labios nos seus e quando suguei sua vida ela sorriu. Já em meus braços eu pude ve-la com mais clareza havia machucados por todo lado, machucados este que levariam mais que uma eternidade para se curarem. Como teriamos todo esse tempo juntos sussurrei.
-Obrigada por contar-me sua história, conta-lhe-ei entre uma canção e outra as das almas que como você recolhi por aí.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Enquanto Morro.
RandomEssa é uma história que a Morte ouviu quando deveria estar, apenas, fazendo o seu trabalho.