Embalos de Sábado a Noite

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Sexta a noite. Anunciei quebrando o silêncio concentrado da mastigação de meu pai e madrasta -Eu já sei oque quero de presente de aniversario!

-Diga. -Respondeu meu pai de boca cheia.

-Quero a permissão de vocês para duas coisa, primeira: trazer uma amiga para dormir aqui no sábado. -O semblante de minha mãe postiça se iluminou, e sorriu dizendo.

-Claro que pode não é querido? -Ela tocou no braço do meu pai, fazia expressão de gato pidão. Será isso poder de convencimento feminino? Acho que sim, afinal ele assentiu um tanto relutante.

-Ótimo porque eu já a convidei. -Meu pai me fitou com um certo deboche desaprovador.

-Tem certeza que ira pedir a próxima ou sera mais um anuncio? -Sorrir.
-É um pedido mesmo. Eu quero cortar o cabelo. -Sei que não havia falado sobre minha aparência, ela nuca foi de fato algo importante para mim; enfim no momento sou uma menina mirrada palida como minha mãe cabelos negros como os de meu pai, o, cultivei sempre soltos até o meio das costas.
-Por que, isso agora? Quando era menor eu queria corta-lo para facilitar a minha vida, você não deixava. Já sei, viu como é difícil desfazer os nós sem quebrar, não é?!- meu pai como sempre questionando. Sorrir recordando da época em que ele me penteava.
-Também. -Respondi apontando o garfo em sua direção. -Porém eu não sou mais aquela menina aqui dentro. -Apontei o garfo para a minha cabeça. -Apenas quero externar isso. -Meu pai buscou o olhar da companheira eles discutiram em silêncio. A fala dos que amam.
-Tudo bem, só te peço para esperar alguns anos para os piercing's, tatuagens e cortes moicanos, ok?!
-Pode deixar por enquanto nada muito radical.
-Por enquanto? -Sorrimos. No resto da noite as conversas foram sobre os nossos dias papeladas no escritório de um os alunos do outro. Minha madrasta era professora do maternal. Minhas notas, a superfícialidade do dia à dia de cada um.
No dia seguinte as 08:00 Hele me acordou.
-Bom dia velhinha! Ainda quer cortar o cabelo?
-Com certeza! Quais os planos para hoje?
-Preparei seu café-da-manhã.
-É bolinho de chuva com doce de leite?! -perguntei animada, sentado na cama.
-Seria o café da manhã especial da Lara se não fosse?!
-Touchê! -Nos entreolhamos e ela parecia tão feliz quato eu. Não faz muito tempo que Hele esta conosco, para ser mais específica esse é o terceiro aniversário que passamos como uma família. Nos damos bem, ela é amável e delicada como um dente de leão, jovem de mais para um casamento principalmente considerando a minha existência. Sinto as vezes que se não fosse por mim, meu pai e ela se divertiriam muito mais, estariam menos cansados e talvez ate mais felizes. Mas no momento eu quero apenas me abrigar na sinceridade do olhar dela.
-Te espero lá em baixo tá?! -Assenti, ela desceu, me vesti e fui à cozinha.
-Cadê o papai?
-Desculpe, querida, seu pai teve uma emergência no trabalho. -Aquelas palavras me teletransportaram para para Alaska.
-Sei. -Mesmo tentando esconder a frustração foi impossível.
-Ele deixou isso para você. -Ela me estendeu o pacote embalado para presente, o peguei, com ele vinha um bilhete escrito à mão pelos garranchos de meu pai "Sinto muito querida, queria estar com você, prometo recompensa-la depois, por enquanto, espero que goste! Com amor papai." Abri o pacote era um livro, capa mole e verde, havia a foto de um rosto entre folhas.
-A Solidão dos Números Primos. -Li em voz alta. -Apropriado eu diria.
-Gostou? Ele disse que pensou em você assim que o viu. Você gosta de matemática é inteligente!
-É intrigante, eu diria! oque esperar de um romance sobre os números primos?!
-Feito para pessoas de exatas, como você. -Sorri. Ok, ele havia acertado em cheio no presente e ela me fez ver isso. Mas...
-Isso não ameniza a ausência dele, admito que gostei. Mas se olharmos, assim de canto de olho, isso vai sooar como uma piada maldosa.
-Então arregale os olhos e olhe pra mim. -Obrigada. Sei que eu deveria ter dito isso em voz alta. Mas me contentei em sorrir e devorar o café da manhã. Fomos ao salão de beleza e aprendi uma nova lição: você pode até marcar um horário mas só será atendido meia hora depois e sairá tarde. Porém valeu apena, eu parecia um aspirante às forças armadas e era força mesmo que eu queria ter e transparecer. Sorri para o espelho bagunçando o penteado lambido da cabeleireira, me familiarizado com o novo cabelo e por quê não o novo eu?!
Saímos dalí, Hele me levou ao shopping, contou-me historias sobre sua adolescência, me fez escolher algumas blusas, entramos em uma joalheria e enquanto ela olhava alguns colares eu bisbilhotava as vitrines, algo nelas me roubaram a atenção. Num subto uma idéia me ocorreu, me aproximei da funcionaria mais próxima.
-Moça você pode pegar aquele par de brincos para mim?
-Claro! -Ela falou como se o Natal chesse mais cedo esse ano. Provavelmente vendedora em experiência. -Este de florzinha?
-Não, aquele de menininha, foleado a ouro. -Ela pegou o entregando a mim, eles eram pequeninos pareciam os adesivos de sinalização do banheiro feminino ainda assim eu os achei fofos e perfeitos para a idéia. Eu os levei ao caixa e fiquei ainda mais feliz pelo preço. Hele e eu almoçamos pizza na praça de alimentação. Na volta para casa ela passou no super mercado, pediu que esperasse no carro, não demorou muito e ela ja voltava com algumas sacolas, pôs tudo no porta malas e saimos. Em casa ela foi para cozinha guadar oque havia comprado e eu subi ao meu quarto. Deitei na cama com a caixinha dos brincos e meu livro novo, abri a caixa espiando os brincos animada pus a caixa aberta em cima da cama para poder olha-los de hora em hora em busca do conforto visual e do alívio à ansiedade que eles dariam nos momentos seguintes. Abri o livro o qual me dediquei o resto da tarde. Confome as horas avançavam a ansiedade crescia e o espaço de tempo entre um olhada e outra para os brincos era menor.
-Lara, desça, hora do jantar! -Tirei os olhos do livro, o fechei, sabia de có o número da página que havia parado, peguei a caixinha me levantando da cama, a feixei pondo-a na escrivaninha. Desci as escadas. Ma cozinha meu pai e Hele me esperavam sorrir por ele ter chagado a tempo para o jantar. Me sentei, fizemos a prece de agradecimento, comemos eu não conseguia parar de pensar o quanto eu queria que ela estivesse aqui. Sorrateiramente oque era uma pequena ansiedade se tornou uma angústia crescente. Terminamos o jantar e antes que eu saísse da mesma.
-Lara, espere. -Hele se levantou em seguida meu pai, ela pegou um bolo, ele diminuiu as luzes, as velinha com um 1 e um 5 iluminaram o lugar instintivamente sorri sem jeito sem, graça e sem saber oque fazer. Cantamos parabéns pra você.
-Faça um desejo, querida! -Olhos cerrados, apenas eu saberia, apenas eu conhecia o desejo em meu peito "Venha e fique para sempre" eu as apaguei, a escuridão preencheu o ambiente, eu ainda degustava o sabor do meu pedido quando meu pai reacendeu a luz. Comi um pedaço do bolo para não fazer desfeita. Não que ele estivesse ruim, mas é difícil comer quando se esta ansioso. Lambi os dedos, agradeci e voltei ao quarto, peguei o livro novo me sentem à escrivaninha, li mais um capítulo e meio e já dava como perdido os embalos de sábado à noite quando algo estalou em minha janela. Sobressalto e saltei da cadeira olhei pela janela e lá estava ela. Me a acenou sinalizei que subisse, voltei a posição inicial a esperando por alguns minutos. Três batidas na porta, ela a abriu.
-Não vai me dizer que esta fazendo lição de casa em pleno sábado no seu aniversário?! -Me abraçando pelas costas com cuidado pois segurava um pedaço do bolo com as velinhas acesas. -A Solidão dos Números Primos?! Isso é tão a sua cara, me da sono só de ler o título!
-Pra quê as velas?
-Não estava aqui para vê-las sendo apagadas, pedi a sua madrasta que acendesse elas novamente. -Ela respondeu desfazendo o abraço, girei a cadeira para olha-la nos olhos, ela uzava um laço de cetim, preto, no pescoço. -vamos como da primeira vez! - "Só falta o resto" apaguei as velas ela sorriu pondo o bolo em cima da escrivaninha, me abraçando afagou minha nuca. -Oque você fez com seu cabelo?
-Não gostou? -Perguntei laçando sua sintura.
-Gostei, claro, mas vou sentir falta.
-Ele cresce.
-Você vai cortar denovo. -Rimos. - Agora abra o presente. -Sem que houvesse mais palavras entendi a quê ela se referia. Sem desfazer o abraço me levantei ficando nas pontas dos pés para alcançar seu pescoço. Com a boca desfis o laço e o abraço em seguida. Ela tirou a fita de meu labios.
-Me dê seu pulso! -O estendi. -Assim vai lembrar do seu presente quer onde esteja. -Ela refez o laço nele. Sorri.
-Obrigada por não ter ido embora quando eu mandei.
-Obrigada por não me deixar quando tentei. Teria sido uma burrice e tanto me afastar por vergonha e medo!
-Não precisa temer, eu estou aqui! E para que entenda isso de uma vez... -peguei a caixinha na escrivaninha.-
-Você não acha que somos novas de mais para um casamento?! -Ela pois a mão no rosto atuando tão bem quanto antagonista de novela mexicana.
-Engraçadinha! -Debochei abrindo a caixinha. Os olhos dela brilharam ao ver o par de brincos.
-Que fofinhos. -Peguei um deles entregando a caixinha para que ela segurasse. Me aproximei pondo o brinco nela que pegou o que estava na caixa e pós em mim. -E agora oque faremos? -Ela me perguntou. Franzi o cenho, de fato não sabendo sobre oque ela dizia. -É a primeira vez que você traz alguém pra dormir com você?
-Agora que você perguntou, sou obrigada a falar que nunca fui de muitos amigos. -Falei, me sentando na cama e recostando na cabeceira.
-Isso eu já fazia ideia, mas não sabia que era a esse nivel. -Ela respondeu se sentando ao meu lado.
-Qual é a popular de nós duas aqui é você. -Olhando para o tento ela parecia busca nele algo que havia perdido.
-Ok, a gente junta o útil ao agradável! Verdade ou conseqüência? -Franzi o cenho, outra vez, a fitando.
-Como isso é juntar o últiu ao agradável?
-Você quer saber mais sobre mim e eu não quero morrer de tédio.
-Você não tem curiosidade sobre mim?
-Você é mais transparente do que pensa, Lara.
-Verdade ou conseqüência? -Pergutei tentando afastar a sensação de estar nua.
-Consequência! -Olhei pra ela como quem pergunta "Ta me zuando" ela sacudiu a cabeça rindo. - Verdade, vaí, sua chata! -Havia tantas coisas antes que queria perguntar e agora todas elas pareciam estúpidas ou inapropriadas.
-Você pode começar? Não sei oque perguntar! -Ela revirou os olhos.
-Verdade ou conseqüência?
-Verdade!
-Seu primeiro beijo, com quem foi? -Franzi o cenho, por um instante meu olhar se perdeu ao lembrar de Abel.
-Saquei não precisa reponder, já começamos mal!
-Tudo bem! -Sacudi a cabeça para afastar os fantasmas. -Verdade ou conseqüência?
-Verdade, não tenho escolha! -Risos.
-E você com quam seu primeiro beijo?
-Pera isso vale?! É plágio!
-Vale, contanto que satisfaça minha curiosidade. -Ela serrou os olhos.
-Ninguém. -A fitei em clara e expressa descrença. -Se você continuar a me julgar pelo oque ouve nos corredores jamais sera capaz de saber quem eu sou fora dos muros da escola. -se são apenas boatos, porque nunca os desmentiu? -Que diferença faz? As pessoas criam a reputação eu apenas me aproveito dela. -Tudo não passa de mentiras, sua vida, fama tudo não passa de fruto da fértil imaginação dos adolescentes da escola? -Isso você que vai ter que me dizer, acho que não sei um terço do que falam de mim! -Nesse caso eu posso descartar todos os caras e garotas que disseram ter ficado com você?-Garotas?! -Ela me encarou, os olhos arregalados, eu assenti. -Estão me transformando numa vadia, acho melhor eu começar a prestar atenção nisso. -Ela completou se deitando como se estivesse exausta, as pálpebras tremulavam, os cílios longos como as asas de uma borboleta, a respiração curta. Deslizei o olhar pelo dorso dela, sua blusa subiu quando deitou revelando a cintura de pele vermelha, liza. Porem mais a cima nas costelas havia algo de errado, instintivamente eu as toquei, cicatrizes de queimaduras, pequenas e circulares, tateei mais a cima, a blusa seguia meu movimento. A respiração dela fazia minha mão levitar. Alguns machucados ainda recentes. Eu não conseguia desviar o olhar tão pouco deixar de acariciar cada cicatriz com a ponta dos dedos, dedilhando suas costelas, como se o gesto pudesse curar suas feridas. -Não é só de mentiras presunçosas que minha vida é feita. Mas de verdades dolorosas e omissões cruéis. -Ela sussurrou, em seguida abriu lentamente os olhos, me fitou eu correspondi seu olhar de cenho franzindo e clara confusão, maneando a cabeça eu implorava por uma explicação, ela respirou fundo apertou os olhos buscando coragem. -Já falamos das mentiras. Sobre as verdades, primeira: minha minha mãe cometeu suicídio quando eu tinha apenas cinco anos, eu a encontrei no quarto dela e do meu pai segurando a arma que disparou contra o próprio peito. Segunda: Meu pai é chefe de policia as vezes no trabalho ele se estressava oque piorou depois da morte de minha mãe e eu acabo virando seu bode expiatório em algumas ocasiões. -C-Como, oque... -Cigarros ele os apaga contra minha pele. -Ela voltou a se sentar arrancando a blusa do corpo, as marcas se espelhavam por todo tórax chegavam a se atrever por debaixo do sutiã, verde esmeralda. -Fale com alguém sobre isso, tal vez se o diretor da escola souber possa nos ajudar. ela abriu um sorriso assustador. -E como você acha que eu entro de óculos escuros?! Com certeza não é com minha reputação de piranha. -Ela arrancou minhas esperanças. Eu a abracei, queria poder fazer algo por ela. Mais uma vez o sentimento de impotência me assombrando, mais uma vez eu estava de mãos atadas apenas sentindo o peso das fatalidades sobre os ombros. -E essa é uma das omissões cruéis. Mas isso não será pra sempre.
-Claro que não, eu vou te tirar daqui. -Completei pegando a blusa para ajuda-la a vesti. Embolei a camiseta a estendendo, ela se inclinou para que eu passasse a gola por sua cabeça em seguida enfiando os braços pelas mangas. Desembolei o resto da blusa para cobrir seu corpo. Deitei e agora me sentia tão cansada quanto ela.
-Quando você entrar numa faculdade bem longe daqui eu fujo com você e arranjo um emprego, vou comprar um fusca conversível, azul céleste e nos finais de semana eu te busco na entrada do campos e a gente pega a estrada até o litoral. -Eu ri e isso era surpreendente. Como ainda depois de tanta dor ela ainda fazia questão de sorrir e me levar consigo. Ela fechava os olhos enquanto descrevia seus planos para o nosso futuro e era quase como se eu pudesse ver o sol litorâneo aquecer sua pele. Melhor, ela tinha um sol próprio dentro do peito e esse sol me aquecia e iluminava.
-Fusca, azul?! Excêntrico!
-É atemporal, jovem desde os anos 60!
-Você não vai fazer facudade?
-Não levo jeito pra essas coisas, acho que passo tempo de mais pensando na liberdade que eu não tenho e acabo não pensando em que carreira seguir, oque estudar durante cinco anos e em que emprego me prender pelo resto da vida. No final nós somos só mais uma peça no jogo de poder capitalista desse país. Não me importo se serei Peão ou Torre. -Confesso que não esperava uma reflexão política da parte dela, principalmente no momento em questão.
-Você é uma caixinha de surpresas!
-To mais pra caixa de Pandora.
-Nesse caso eu sou Pandora? -Ela sorriu bagunçando meu cabelo, soprei as mechas que me cairão por sobre os olhos e sorri. -Verdade ou conseqüência?
-Verdade!
-Vai mesmo fugir comigo?
-Na sua mala se preciso. Nesse caso qual seria o desafio?
-Fugir comigo!

Enquanto Morro.Onde histórias criam vida. Descubra agora