02. O Garoto Do Lago (Parte 1)

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Ele estava olhando para a janela, para um lindo jardim de rosas-brancas, vestia uma camisa branca despretensiosamente para fora das calças jeans e seu cabelo escuro lembrava muito o

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Ele estava olhando para a janela, para um lindo jardim de rosas-brancas, vestia uma camisa branca despretensiosamente para fora das calças jeans e seu cabelo escuro lembrava muito o... Não pude conter a cara de espanto, quando ele se virou e vi que não só parecia, era o garoto do lago. Seus olhos brilharam em azul quando me viram e uma onda de choques e de calor invadiu meu corpo, tive que me segurar no corrimão para não cair sentada na escada, pois, minhas pernas falharam. Ele veio em minha direção falando comigo, com a expressão um pouco assustada e preocupada. Queria fugir dali, pois, sei que deveria ter medo dele, mas algo nele me puxava para mais perto como um Imã. Ele falou comigo novamente e tentei forçar meu cérebro a escutar e entender o que ele falava, mas só escutei o nome "Cellina".

-Sim, sim, este é meu nome. -Pensei alto, sem querer.

Ele me olhou com uma cara estranha, como se quisesse uma explicação para o que eu tinha falado.

-Não me lembro de nada, nem do meu próprio nome. -Falei, analisando sua expressão.

-Nem de mim? Nem de nós? -Ele perguntou, parecendo um pouco decepcionado.

Em resposta apenas acenei negativamente com a cabeça e o vi baixar a sua e ficar calado, seus cabelos cobriram tudo que eu poderia ver de seu rosto, me fazendo lembrar de como ele ficou quando a garota de vestido negro queimou daquela maneira tão estranha.

-Tem uma coisa, mas deve ter sido um sonho que tive... -Falei, sem querer contar que, na verdade, eu tinha certeza de que havia tido uma visão. Ele me olhou curioso.-Um baile e uma garota de vestido negro, muito parecida comigo, ela fugiu do baile e se encontrou com você perto de um lago... -Parei, pois, não queria falar o resto, era absurdo.

-Você sonhou mesmo com isso? -Ele perguntou me olhando, não consegui decifrar seu olhar, se era compreensão ou preocupação, julgo que foi um pouco dos dois. Mas para minha surpresa não vi nem um traço de confusão e nem cara de que me achava louca.

-Na verdade... eu encontrei um bilhete na biblioteca e acho que eu tive uma visão, não sei, tudo girou e quando vi estava no meio do baile._ Felei rapidamente, analisando suas expressões.

-Você viu só até nos encontrarmos? -Ele perguntou, parecendo ter medo da resposta.

Sacudi a cabeça negando e sua expressão se tornou uma total preocupação.

-Você está bem? -Ele me perguntou por fim e eu não soube o que responder.

Cansada de me segurar no corrimão da escada, sentei em um dos degraus com a cabeça entre os joelhos esperando que, pelo menos, a tontura passasse. Após uns minutos, senti uma mão mexer em meus cabelos, ele estava penteando-os com os dedos e quando encostou em minhas costas, uma onda de choques, formigamento e calor ainda mais forte que a última me obrigou a olhar para ele que agora estava sentado do meu lado, senti uma vontade absurda de beijá-lo e, ao mesmo tempo, senti muito medo que acontecesse como na visão. Fiquei olhando para ele enquanto ele colocava o braço por cima do meu ombro, me puxando para mais perto, sempre me olhando como se pedisse permissão para o que fazia. O abraço dele era tão quente e confortável, que me deixei levar e praticamente deitei a cabeça em seu colo. Ficar tão perto dele assim, me fez ter certeza de que o amava muito, mesmo sem nem saber seu nome. Um nome veio em minha cabeça, não sei como, mas ouvi nitidamente a voz dele se apresentando para mim, mesmo que ao olhar para ele, vi que sua boca não se movia.

-Miguel? -Perguntei, com medo de estar errada.

A cara com que ele me olhou, a admiração em seu rosto e a alegria em seus olhos me disseram que eu estava certa. Me peguei rindo com ele, feliz por lembrar e principalmente por ele estar feliz. O sorriso dele me deixou ainda mais enfeitiçada por ele, paralisada, hipnotizada, analisando cada detalhe de Miguel, seus caninos eram um pouco mais afiados que o normal, o que tornava seu sorriso ainda mais sedutor.

Quando me desliguei de meus devaneios, ouvi passos vindo de trás de mim, de onde ficava uma das portas de grande sala em que estávamos, no final da escada onde havíamos sentado tinha um grande sofá vermelho do que parecia ser veludo, atrás dele uma grande janela, coberta pelas mesmas grossas cortinas negras do quarto, em frente ao sofá tinha uma baixa mesa de centro. Do teto pendia um grande lustre. Em outro canto da sala tinha mais uma porta, que estava aberta, dento havia uma bancada com banquetas altas e atrás disso uma pia, fogão, várias categorias de colheres, penduradas nas paredes, além disso, pude ver um pedaço de uma adega com vários vinhos.
Virei-me para a direção onde ouvia os passos, eram uma mulher e um homem, a mulher loira com os cabelos curtos, meio repicados, grandes olhos castanhos e lábios grossos pintados de rosa choque, ela era magra e incrivelmente bonita, parecia ser um pouco mais velha que eu. Estava com um vestido preto curto e solto e um sapato de salto de uns doze centímetros nude. O homem, com cabelos castanho claro, mais dourado que o da mulher, com os olhos acinzentados e escuros, tinha uma barba rala, como se fizesse apenas dias que não a tirava, vestia uma camiseta preta com uma jaqueta de couro por cima e calças jeans escura. Descobri logo que o vi, que sentia algo por ele, só não sabia o porquê e nem o que sentia, era um misto de atração com um pouco de raiva.

A mulher veio correndo e me abraçou, era um abraço tão apertado e, ao mesmo tempo, com tanto cuidado, para não me machucar. Me senti obrigada a retribuir.

-Você está bem? -Ela perguntou, me soltando calmamente.

-Mais ou menos.-Respondi, meio sem jeito. Ela me olhou com um sorriso de compreensão.

-Ela perdeu a memória... -Miguel falou atrás de mim. -Não lembra de muita coisa. Mas tem algumas lembranças e visões de outras vidas. -Ele completou, me olhando como se pedisse permissão para contar.
Ela pareceu um pouco assustada, como se isso fosse loucura. Logo eles que estavam falando sobre outras vidas. Quando o "choque" passou e ela olhou para mim e se apresentou como sendo Sarah dizendo que era minha amiga, há muito tempo, pensei que ela falava de uma amizade de infância, mas algo na ênfase que ela deu para aquela frase me fez pensar em mais tempo do que isso.
Olhei ao lado dela e vi que o homem me observava, lembrei da roupa quase transparente que eu estava usando e senti vergonha, cruzei os braços em frente ao corpo, para cobrir um pouco meus seios ao perceber que estava com os mamilos endurecidos por causa do frio. Vi que Miguel percebeu meu desconforto, pois, olhou irritado para o homem.

-E... E ele? Quem é? -Perguntei, apontando para o homem desconhecido e com olhar penetrante.

-Me desculpe pela falta de educação... - Ele ficou sério e depois abriu um belo sorriso sarcástico. -Thomas Bernarddi, a seu dispor. -Ele falou fazendo uma reverência antiga, me fazendo rir, mas ao olhar para o lado, vi o olhar de Miguel para Thomas, ele não parecia mais irritado e sim enfurecido. Em circunstancias normais, tenho certeza de que me irritaria com aquilo, mas estava confusa demais até para ficar braba com a demonstração gratuita de ciúmes de Miguel. Além disso, algo me dizia que Miguel podia ter razão em sentir aquilo, o olhar de Thomas para mim era como o de um leão admirando um cervo, prestes a dar o bote.

Segui com o olhar, para onde ouvi badaladas, era um grande e antigo relógio que ficava na parede ao lado da porta, estava avisando que eram duas horas da tarde. Queria ficar sozinha um pouco, grande ironia, procurei alguém para me ajudar a entender o que estava acontecendo e esse alguém só me deixou mais confusa.

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⏰ Última atualização: Mar 22, 2019 ⏰

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