01. Despertar

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Senti um calor morno aquecer meu rosto e uma estranha claridade invadiu meu subconsciente me fazendo despertar. Abri meus olhos lentamente e demorei a me acostumar com toda a luminosidade. Forcei os olhos, semicerrando-os para ver melhor onde eu estava, encontrava-me deitada em uma grande cama, com lençóis extremamente brancos e limpos. Percebi que a luz e o calor vinham de uma brecha das grossas cortinas negras que cobriam uma janela ao meu lado, do outro, havia um guarda-roupas, ao lado de uma porta fechada.

Tentei me sentar, mas minha primeira tentativa foi falha, já que meu corpo não obedecia muito bem os meus comandos. Tentei novamente, ainda com um pouco de dificuldade, mas desta vez consegui, ajeitei o travesseiro em minhas costas e encostei-me na cabeceira da cama para ter uma visão melhor do cômodo em que estava. Em frente a cama havia outra porta e essa estava entre aberta, mas eu não conseguia ver o que tinha fora dela. Ao seu lado uma penteadeira muito organizada com muitas gavetas e um espelho que ia de cima a baixo na parede. Era um quarto muito espaçoso e confortável.

Girei rapidamente na cama para pôr os pés no chão e poder me levantar, me arrependi, pois, senti como se meu cérebro balançasse dentro de minha cabeça e a bile tentou subir por minha garganta, quase vomitei. Meu corpo inteiro doía, músculos que eu nem sabia ter, latejavam de dor. Resolvi fazer tudo muito devagar a partir daquele momento. Desci meus pés da cama um a um e muito lentamente me pus de pé.

Caminhei calmamente pelo quarto analisando tudo, querendo ver se algo despertava minha memória. Parei ao chegar ao espelho, olhei meu reflexo de cima a baixo e fiquei perplexa ao perceber que não fazia a menor ideia de quem eu era. Tentei manter a calma, pois, tinha certeza de que se não a mantivesse a dor voltaria.

Continuei me analisando, tentando entender o que estava acontecendo, meus pés estavam descalços e eu vestia uma longa camisola branca de um tecido tão macio que só podia ser seda. Meus cabelos estavam soltos, um cabelo longo e ruivo com leves ondas amassadas e um pouco bagunçadas. Não usava maquiagem ou joias, apenas uma delicada correntinha no pescoço, com uma pequena pedra azul esverdeada no final.

Quando toquei no pingente senti ele aquecer meus dedos os fazendo formigar, me assustei, mas algo me impediu de soltar. Essa sensação que era, ao mesmo tempo, estranha e gostosa foi se espalhando por meu braço e depois por todo meu corpo. Selei minhas pálpebras por um momento e vi olhos quase negros se transformando rapidamente em um azul tão claro e tão lindo quanto a pedra. Fiquei hipnotizada pelo que achei ser um longo segundo, até que a imagem sumiu e pisquei.

Decidi sair daquele quarto para ver se encontrava algo, ou melhor, alguém que pudesse me explicar o porquê de minha mente parecer um livro em branco. Fui lentamente até a porta que estava entreaberta e sai em um longo corredor, com apenas três portas e o que parecia ser uma grande janela coberta por grossas cortinas no final. Além da porta em que eu acabara de sair, havia uma quase ao lado, que estava fechada e outra no outro canto, do lado oposto, perto de uma escada, que estava aberta e com muita claridade. Pensei que poderia ter alguém lá, então fui até ela. Lá dentro haviam várias estantes com livros de vários tamanhos e cores, alguns mais velhos e outro com aparência mais nova. Para meu desanimo não havia ninguém e a luz vinha de uma grande janela com cortinas abertas.

Já estava me virando para sair do cômodo quando algo chamou minha atenção. Em um dos cantos da biblioteca em que me encontrava, havia uma pequena mesa com apenas uma coisa em cima. Cheguei mais perto e percebi que era uma carta já aberta e com aparência antiga, pois, o papel já estava amarelado. Uma curiosidade tomou conta de mim e em um impulso peguei o envelope. Nele estava escrito com uma bela letra "Para que não me esqueça: ASS. Luce" dentro havia apenas um papel que não consegui ver, pois, ao tocá-lo tudo em minha volta girou, me fazendo fechar os olhos.

Quando os abri estava em outro lugar, um enorme salão onde muitos casais dançavam algo que acredito ser uma valsa, tocada por alguns homens ao canto. As mulheres usavam longos vestidos de baile e penteados elaborados e os homens vestiam ternos e smokings.

Um casal em meio a dança passou muito perto de mim, sem me notar, olhei em volta, ninguém havia notado uma garota de camisola em meio ao salão. Fiz alguns testes, tentando chamar atenção, dei inclusive o grito mais alto que consegui e nada.

Quando estava quase me desesperando, notei algo ainda mais assustador. Um pouco atrás de mim, uma garota da qual eu ainda não tinha visto o rosto completamente, cumprimentava centenas de homens, todos parecendo estar mesma faixa etária, em fila para se apresentar a ela, que era idêntica a mim. Fui mais perto para olhá-la melhor e tive a certeza de que ela era eu.

Estava com o cabelo preso em um belo coque, usava um vestido que me lembrava o céu em noite estrelada, pois, era todo preto com alguns brilhos que refletiam as luzes do salão, não tinha mangas e era rodado no ponto certo, nem tão volumoso, nem tão estreito. Ela estava bem maquiada, mas sem exageros e usava lindas joias no pescoço e orelhas, sem falar da coroa que completava seu penteado.

Estava tão concentrada olhando para ela, que fui a única que notou quando ela se desculpou com os homens da fila, pedindo licença e foi sorrateiramente para outra parte do salão, entrando em um corredor mal iluminado por velas. Eu a segui e após caminhar um pouco saímos por uma porta de madeira, que parecia ser muito pesada. O vento extremamente forte me fez ficar arrepiada e jogou meu cabelo todo em meu rosto, quando consegui me desvencilhar dos cabelos, a garota já estava correndo em meio as árvores e já estava um pouco longe de mim. Corri atrás dela com medo de perdê-la de vista, pois, apesar de a lua estar cheia e o céu estrelado, os grandes carvalhos quase não deixavam a luminosidade passar. Após correr um pouco vi o céu novamente e começamos a andar por uma trilha de cascalhos. Andamos por vários minutos e já me sentia cansada, quando chegamos à beira de um lago esverdeado. Me distrai por um instante vendo as estrelas refletindo no lago e quando me virei, vi que a garota não estava mais sozinha.

Ela estava de costas para mim e alguns passos em frente a ela havia um homem surpreendentemente bonito, mais que todos os que estavam no baile, mesmo não usando roupas de festa como eles. Ele usava vestes simples, parecidas com as de camponês de filme antigo, parecia ter uns vinte a vinte e três anos, tinha a pele clara, que se tornava quase pálida contrastada a noite escura, portava cabelos escuros em um tom de castanho quase preto, seus olhos também eram quase negros, mas ao olhar para ela seus olhos escuros brilharam em um azul tão puro e hipnotizador que me fez lembrar dos que vi quando toquei no colar, eram os dele, tive certeza.

Enquanto juntava as coisas em minha cabeça, vi, sem prestar muita atenção, que eles conversaram um pouco e ela entregou a ele um envelope. Quando voltei a observá-los, percebi que ele se afastou um pouco dela e o olhar que notei nele, era de uma tristeza tão grande e tão sincera que tive medo do que aconteceria. Mesmo sem entender nada, me afastei um pouco mais dos dois. O observei falar mais alguma coisa para ela e agora além de triste, ele parecia extremamente preocupado. Os dois ficaram de cabeça baixa por um longo minuto, até que ela pareceu falar algo e chegou mais perto dele.

Os braços dela enlaçaram o pescoço dele, enquanto as mãos dele encontraram a cintura dela. Ela ficou na ponta dos pés e eles se beijaram, porém quando seus lábios se tocaram, algo aconteceu, ela começou a tremer e tentou se soltar dele, caindo no chão, tendo convulsões. Quando pensei que tinha acabado, um fogo vindo de dentro dela percorreu todo seu corpo, queimando tudo e sumiu deixando apenas cinzas da garota. Em quanto isso ele se ajoelhou e ficou lá, com as mãos cobrindo o rosto. Quando o fogo se dissipou, ele tirou as mãos do rosto que estava vermelho e lágrimas escorriam de seus olhos.

Senti tudo girar novamente e fechei os olhos, agradecendo por não precisar mais ver tanto sofrimento. Quando os abri, estava novamente na biblioteca. Derrubei o bilhete que estava segurando nas mãos e corri para procurar alguém, sem me importar com a dor e o enjoo que isso causava. Eu precisava encontrar alguém, dizer que eu estava vendo coisas, pedir ajuda. Desci os degraus da escada abruptamente, mas parei no meio do caminho, quase caindo, quando me deparei com uma pessoa ao final dela, de costas para mim.

Olá caro leitor, este foi o primeiro capitulo de "O despertar Imortal", muito obrigada por ler até aqui, gostaria muito de saber se está gostando do livro, então se puder deixe seu voto e comente sobre o que está achando. Agora passe para o próximo capítulo e descubra quem é esta pessoa.

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