Prólogo

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Aos sete anos, fui perguntado sobre o que queria ser quando crescesse. Respondi que queria viajar o mundo. Na época eu não sabia que "viajar o mundo" não era exatamente uma profissão, mas qualquer ser humano decente jamais arruinaria os sonhos de um garoto de sete anos. Eu queria conhecer todos os quatro cantos do planeta em que vivia, pois parecia estranhamente triste que as pessoas se contentassem em ver tão pouco de um mundo tão grande ao longo de toda a sua vida, e nascer e morrer sem nem mesmo deixar sua cidade natal.

Aos doze, decidi que queria ser um astronauta. Até hoje o universo nunca deixou de ser um fascínio para mim; toda a sua misteriosa imensidão, com suas milhares de estrelas reluzentes e planetas não tão parecidos com o meu, mas tão intrigantes quanto. No entanto, nunca botei os pés em qualquer lugar fora da Austrália, quem dirá na lua.

Aos dezesseis, quando sentei de frente para os meus pais e disse em voz alta que era gay, decidi que queria ser outra pessoa. Independente de quem me tornaria, eu precisava deixar de ser quem era. Aquela revelação não foi tão bem recebida como quando contei sobre meu entusiasmo em relação ao mundo e seus continentes, ou ao universo em que vivemos. Na verdade, naquela tarde de agosto, houve muita gritaria, móveis quebrados e lágrimas. Eu dormi na casa de Ashton naquela noite.

E, depois disso, eu não me importava mais em conhecer o mundo ou mesmo outro planeta. Tudo o que eu queria era sair daquela casa. E foi então que entendi como as pessoas se contentavam com tão pouco. E eis aqui minha conclusão: nem todo mundo é igual. E nem todo mundo era como eu. Portanto, não cabia a mim esperar que outras pessoas compartilhassem dos meus excessos. Porque eles eram meus.

E meus pais estavam contentes com o pouco que tinham, assim como seus amigos Ainsley e Ted, que se conheceram no ensino médio e moram na mesma rua em que viveram toda sua adolescência. Talvez algumas pessoas simplesmente tenham medo demais para se arriscar com o que é novo. Porque o novo é sempre incerto.

Talvez, naquela tarde em que finalmente tive uma conversa sincera com meus pais sobre algo que guardava por tanto tempo, tudo o que eles queriam para mim tenha se tornado incerto. Todo o amor, o carinho, a expectativa de que eu crescesse e me tornasse um adulto feliz e responsável deve ter ido por água abaixo. Talvez os pensamentos de que eles erraram em alguma coisa tivessem ofuscado seus raciocínios.

E eu os perdôo por isso. Afinal, apesar de meus excessos, as vezes também tenho medo das incertezas da vida. De dar o próximo passo quando me encontro na escuridão. Porque eu não sei o que vêm a seguir. Foi aí onde eles erraram. Eles erraram quando me abandonaram para caminhar sozinho. No início, minha sexualidade foi um fardo para mim também. Era incerto. E teria sido mais fácil se as pessoas que eu mais amava estivessem comigo. Mas, novamente, os perdôo. E espero que me perdoem por ter ido embora.

E essa é a história não tão curta de como eu resolvi juntar dinheiro e comprar meu próprio apartamento em Melbourne, onde passo os meus dias não sendo astronauta ou um viajante, mas longe de todo o drama da minha família e de seu contentamento com o pouco. O que não é exatamente bárbaro, mas bom o suficiente.

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⏰ Última atualização: Jul 27, 2017 ⏰

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HIM ✿ mukeOnde histórias criam vida. Descubra agora