Sua exaustão começava a transparecer sobre seus grunhidos, caminhara mais do que caminhou em sua vida inteira, e o tempo não ajudava, estava congelando e era a noite mais escura que Benjamim se lembrava. A ferida em seu pé esquerdo começava a doer de modo desconfortável, ele cogitou a ideia de desistir do caminho que estava seguindo, até que, para sua surpresa, sentiu o pequeno desnível quase imperceptível entre o gelo caído no cascalho da floresta e o gelo no chão de pedra. Isso o fez suspirar, pois significava que sua caminhada estava quase acabando. Em suas costas, ele carregava Covaske o que deveria ter, pelo menos, quase que seu próprio peso. O homem sangrava de uma forma violenta, mas não poderia parar por nada naquele mundo ou Covaske morreria em seus braços. A cabana deveria estar a poucos passos, rezava para que pudesse estar certo, já não aguentava tanto peso e frio. Enquanto andava sentia o chão coberto de pedras e cascalhos, olhou para suas calças e viu alguns dos resquícios da guerra, os rasgos que as espadas deixaram lhe causaram tantos danos. Sorriu com amargura e imaginou que uma hora dessas os desgraçados que lhe feriram, provavelmente, estavam enterrados na neve. Benjamim se permitiu parar para respirar e olhou para frente, foi quando viu uma pequena parte da cabana, a pequena cabana onde Covaske morava. Graças aos céus suas preces foram ouvidas e seus cálculos estavam certos, o casebre estava logo à sua frente e, pelo que percebeu, aberta.
— Deve ser o Sr. Ruiz. — Benjamim estava tão fraco que não percebeu que havia um homem ao seu lado, por um momento sentiu um frio passando por sua espinha "Fomos descobertos!" — Sou Marcus Borbon, curandeiro de Asragan.
Benjamim respirou de uma forma tão aliviada que todas as suas fraquezas e dores se extinguiram. Alguém deveria ter avisado a Marcus para seguir até a cabana.
— Sou Benjamim Ruiz. — Como Benjamim não pôde lhe cumprimentar da forma correta, Marcus prontamente lhe ofereceu ajuda; assim, os dois homens trataram de carregar Covaske para dentro da cabana que se encontrava quente e iluminada.
Quando conseguiram colocar o corpo desfalecido em uma cama, Benjamim sentou-se para descansar e o curandeiro tratou de cuidar dos ferimentos de Covaske.
— Acha que ele está muito mal?
— O rapaz perdeu bastante sangue, não tenho certeza se conseguirá acordar.
— Como a ferida se encontra? — Benjamin perguntou suspirando derrotado, precisava se lavar, ele pensou enquanto observava o corpo sujo e ferido em cima da cama.
Marcus olhou para Benjamim que estava suando feito um animal doente. Seus ferimentos podiam não ser como os de Covaske, porém também precisavam de cuidados.
— Quase que consigo ver o osso do crânio, a batida foi extremamente forte!
Benjamim arregalou os olhos e se levantou aflito, andara sem parar por mais da metade da noite e, mesmo com o frio cortante, conseguiu chegar vivo, porém com Covaske quase à beira da morte. Mirou novamente o homem deitado na cama e sentiu vontade de rezar por ele.
— Sente-se, ou suas feridas ficaram piores! — o Curandeiro ralhou enquanto não tirava seus olhos de Covaske.
— Quem o avisou para vir até aqui? — Benjamim perguntou enquanto começava a andar de um lado para o outro, sem se importar com suas feridas.
— O Sr. Juan — Marcus falou depois de terminar de enfaixar a cabeça de Covaske. — Ele não virá para a cabana.
— O rei descobriu algo? — Benjamim perguntou se mostrando bastante agitado, durante o trajeto não conseguia pensar em nada a não ser em Covaske, agora já não conseguia tirar o rei de sua cabeça. Estava completamente atormentado, e Marcus percebeu.
— Não! A princesa agora é dona de metade das terras e ele teve que se unir a ela para que nada fosse descoberto. — Marcus se levantou para poder lavar suas mãos do outro lado da cabana, mas, antes, empurrou Benjamim para que pudesse se sentar.
— Se não se sentar, sangrará até morrer — grunhiu.
— Você sabe dos planos?
— Sei o necessário — ele gritou, do outro lado da cabana.
Benjamim assentiu e, antes de caminhar para ir atrás do curandeiro, ouviu um gemido.
— Marcus! — Benjamim ficou tão petrificado que não conseguiu sair de seu lugar, apenas viu o curandeiro correndo para encontrar Covaske mexendo-se.
— Ele está acordando! — Marcus se surpreendeu, pois estava quase certo que Covaske não acordaria nunca mais.
Benjamim levantou uma de suas sobrancelhas e, como se tivesse ouvido uma das piadas dos soldados, não conseguiu se conter e soltou uma de suas gargalhadas mais escandalosas. Suas preces outra vez deram certo, afinal.
— Quem são vocês? — Covaske grunhiu se sentando na cama com sua mão na cabeça.
— Se acalme, você precisa descansar. — Marcus chegou mais perto e o deitou outra vez na cama. — O senhor está com uma ferida muito grande na cabeça, precisa descansar.
— Quem são vocês? — ele grunhiu novamente
— Não sabe quem sou? — Benjamim perguntou depois de ter se recomposto e recebeu apenas outro grunhido como resposta.
— Se lembra disso? — Ele retirou uma pulseira de ouro de seu bolso e mostrou ao homem.
— Não! O que fazem em minha cabana?
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Nova história real - (degustação)
ChickLitEnclausurado e sem memória, assim encontrava-se George, um ex-guarda do reino de Asragan, e agora prisioneiro de Agaehl. Sua vida mudou depois que sofreu um acidente, ainda não conseguia buscar em suas memórias o que ocorrera, suas últimas lembrança...