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  Observando seu pequeno dormitório, George se imaginou vivendo livre pelo reino de Agaehl. Ainda buscava em suas memórias o porquê de sua prisão; pelo que contaram, era um homem livre há oito anos, até que, por uma infelicidade, tornou-se um prisioneiro da Coroa Real. Bella lhe dissera que perdera a memória na guerra lutando bravamente por seus senhores, não a rechaçou, afinal, não se lembrava de absolutamente nada, porém ainda não havia se satisfeito por completo desta história, ainda não tinha ideia do que acontecera anos atrás para que ele fosse preso. O que teria acontecido para perder sua memória e tão logo se tornar um prisioneiro? Depois de ser cuidado por Marcus alguns anos atrás, ele foi retirado de modo grosseiro de sua cabana e levado para o lugar onde está trancafiado. Benjamim fugiu e nunca mais ele o viu.

George caminhou até o único e pequeno vão de seu recinto e reclinou a cabeça para poder observar uma pequena parte do verde de Agaehl. Sem demora conseguiu encontrar o menino Raphael, que provavelmente estava zombando da pequena garotinha que se divertia com uma espécie de fantoche. Não podia negar que o garoto era travesso e, todas as noites, escondido de sua ama, ele aparecia para lhe espiar pela fresta da parede para enchê-lo de contos sobre seu reino. O pequeno rapaz seria o próximo na linha de sucessão há cuidar dessas terras.

Logo pôde ouvir um ronco em seu interior, a fome chegará e, com ela, a chamada em sua porta. Provavelmente seria seu almoço que nunca se atrasava.

Um senhor delgado adentrou o aposento conduzindo o famoso transporte de alimentos. Seu cinto provavelmente lhe apertava demasiado, pois seu abdômen parecia clamar por liberdade. Ele parecia desgostoso em estar ali.

— Quem é o senhor? — perguntou George se distanciando da pequena fresta. O senhor pareceu ignorar a pergunta, passando as porcelanas com o alimento para a mesinha velha sem piscar.

— A campainha soou. O senhor solicitou o almoço?

— Sim. Para Bella trazer o meu almoço. — respondeu George franzindo o cenho tentando entender o porquê daquele homem estar ali fazendo um trabalho que claramente não era o dele.

Embora George parecesse desafiador, o senhor apenas terminava de arrumar a pequena refeição.

— Está devidamente servido.

— Por onde anda a Bella? — perguntou novamente sem tirar seus olhos furiosos do empregado.

Era a primeira vez em muitos anos que Bella não aparecia para lhe entregar suas refeições, apesar de saber que a linda mulher não era nenhuma serviçal, pois seus trajes eram diferentes, ele queria saber o que podia ter acontecido.

— É impossível a presença da senhorita Bella nestes aposentos por hoje. Coma! Eu esperarei as porcelanas do lado de fora.

Rapidamente o senhor rabugento começou a caminhar para a saída quase encontrando os corredores do castelo, se não fosse as grandes mãos de George o segurando.

— Eu preciso de uma resposta — murmurou com uma paciência invejável.

— Não há o que lhe responder. — Pela primeira vez ele o encarou com seus olhos negros.

— Como ficará minha liberdade de hoje? — George ralhou nervoso, não poderia sair caminhando livremente sozinho pelos labirintos daquele lugar. Afinal, não era nem sequer um criado, e sim, um pobre miserável trancafiado que só poderia sair com a permissão da rainha.

— Eu não sei, homem! — rebateu mirando para as mãos de George que ainda o seguravam. Atônito, ele o soltou, o coitado estava apenas trabalhando.

Lentamente a porta fora fechada, deixando George novamente rodeado por sua solidão. Se Bella estivesse ali, ele não estaria daquela maneira. Os dois certamente conversariam sobre os mexericos que aconteciam em Agaehl ou até mesmo sorrindo sem motivo.

Certa vez havia a beijado, se lembrava nitidamente do gosto adocicado daqueles lábios, aquele corpo pequeno moldado ao seu e sua pequena mão em seus cabelos. Nunca em sua vida sentiu tanto prazer em beijar uma mulher. Teria sido maravilhoso sentir o gosto de sua pele, se ela não tivesse deixado aquela lágrima cair. Naquele dia, George se espantou, a linda moça havia chorado com seu beijo, ele nunca esqueceu aqueles olhos vermelhos e aquele pequeno murmúrio tristonho "Isso nunca mais poderá se repetir". E, logo depois, saiu correndo como se George fosse um lobo faminto. Ela nunca o contará qual o motivo, mas George sabia. Claro que sabia. Ele não poderia manter um relacionamento. Segundo o reino, pessoas como ele eram de sangue impuro. George era a escória. Bella nunca seria sua, mas ele se contentava em apenas fazê-la sorrir.

Nova história real - (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora