2.

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Assim que Arabel despertou, sua dama de companhia já a esperava para lhe ajudar a se vestir. O dia amanheceu com um sol tórrido e ela desejava poder trajar apenas seu leve e confortável vestido habitual, porém não poderia se satisfazer de suas vontades. Não com seu pai, o rei de Asragan, à sua espera. Mesmo sendo rainha de Agaehl, ela sentia-se na obrigação de seguir as exigências de sua aristocracia quando era necessário, até porque, Arthur jamais a aprovaria, se a encontrasse trajando um de seus vestidos simples.

— Senhora, creio que está atrasada — murmurou Victoria preocupada, amarrando os laços sem dificuldades com uma voracidade impressionante.

— Não se preocupe, Victoria, papa chegará mais tarde. Jakael ontem pela noite nos comunicou de conflitos pelas saídas de Asragan.

— Acha que lhe trará um esposo? — disse a pequena mulher esperançosa, fazendo Arabel sorrir. — Me desculpe, não quis parecer mexeriqueira.

— Não me pareceu mexeriqueira, Victoria. — Respirou fundo logo que o último laço fora apertado. — Eu espero que papa não me traga nenhum rapaz. Já lhe disse que não preciso de homem nenhum. — Suspirou. — Já tenho Raphael que me desgasta, também tenho Agaehl para cuidar. Um homem só traria problemas.

Assim que olhou seu corpo refletido pelo espelho, lembrou-se de seu velho passado. Esses vestidos espalhafatosos lhe traziam diversas lembranças.

— A senhora está maravilhosa!

— Não é? — Arabel concordou.

A porta foi escancarada trazendo um menino loiro emburrado.

— Já lhe disse para avisar antes de entrar, menino Raphael! — falou Victoria enrubescida pela ousadia do pequeno garoto.

— Não preciso bater à porta de minha mama — respondeu malcriado para a pequena mulher que agora se parecia com os morangos da Sra. Gertrudes.

— Não fale assim, meu filho. Victoria está certa — Arabel caminhou até o garoto e lhe pegou pela mão. — Agora saia e bata à porta como um verdadeiro cavalheiro.

Mama! — ralhou o pedaço de gente.

— Raphael. — falou a rainha doce como mel, fazendo o menino sair contrariado.

Arabel sorriu para Victoria lhe mostrando como deveria ser. Raphael era um garotinho difícil desde bebê. Era carente de atenção e sempre queria qualquer coisa que encontrasse com o olhar. Arabel sempre foi punho forte, porém, às vezes, sofria com a tristeza de seu pequeno, ele sentia falta de um pai. Mesmo que nunca o houvesse tido.

Na porta, as duas mulheres conseguiram ouvir o baque suave por duas vezes.

— Está autorizado a entrar, pequeno Raphael — respondeu Victoria sorrindo para o garotinho que entrava com o rosto sério.

— Eu posso conversar com a mama sozinho? — Ele falou cortês e com seu olhar fixo para a dama de companhia.

— Senhora?

— Pode se retirar, Victoria, em poucos minutos desceremos.

Satisfeito, Raphael sentou-se na cama de sua mãe sem dificuldades. Pouco tempo atrás, aquele simples movimento de se sentar, era trabalhoso para aquele pequeno rapaz. Ele estava crescendo rapidamente e, embora não se parecesse em nada com seu pai na fisionomia, seu temperamento era divinamente igual.

Mama não estou me sentindo confortável com este traje — disse olhando-se.

— Eu também não me sinto confortável com este em que estou vestindo, meu anjo. — Arabel foi se sentar ao lado do garoto. — Mas precisamos nos vestir com estas roupas para poder receber o vovô.

— Vovô ficaria zangado se me visse vestindo meus trajes de soldado? — Arabel sorriu, Raphael completaria oito anos no próximo verão, apesar de aparentar ser mais velho.

— Vovô preferiria que você usasse essa roupa em que está vestido, meu filho. — Arabel se levantou e novamente se olhou no espelho. — Venha para cá com sua mama.

Raphael se levantou e ficou ao lado da mulher loira de traços fortes, se olhou no espelho e se surpreendeu.

— Viu como nós nos parecemos? — Arabel sorriu ao espelho, fazendo Raphael sorrir instantaneamente.

— Estamos bonitos, mama. — Ele se olhava orgulhoso, certamente Mari não fizera o que ela lhe prescreveu. Não a censuraria, porém conversaria novamente e deixaria mais claro como deveria fazer para aquele garotinho aceitar algumas ordens que deveriam ser respeitadas, mesmo sentindo desconforto.

— Você está vestido com um rei, meu amor.

— Seu rei, mama. — Ele falou orgulhoso olhando para a bela mulher refletida no grande espelho.

A campainha apitou avisando que já era hora de se apresentar à mesa. Arabel tocou seus lábios nas bochechas vermelhas do menino, pegou em sua mão e rezou silenciosamente saindo pelo quarto.

Nova história real - (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora