Capítulo III

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As horas já haviam se passado, mas para Ellie era uma eternidade. O oxigênio estava acabando e a cabeça da garota pesava por conta disso, ela lutava para não perder os sentidos pois sabia que se desmaiasse ali não acordaria mais, porém o escuro que fazia dentro da caçamba piorava ainda mais a situação.

"Se eu tiver a sorte de sair daqui eu vou acabar com a vida de cada um deles, um por um, e vou fazê-los sofrer como me fizeram. Mas se for pra eu morrer aqui que seja".

Ellie não percebeu que havia adormecido, pois o escuro de seus pensamentos era muito parecido com o escuro que fazia dentro da espaçosa e fétida caçamba de lixo. Quando o cheiro de chorume foi substituído por um cheiro ainda mais podre e a garota percebeu que podia ficar de pé, ela abre seus olhos.

Ela não achava que estava sonhando, achava que tinha morrido sem ar e que estava no inferno, pois o chão estava coberto de ossos, e seus pés descalços podiam toca-los. Ela se encontrava num campo aberto e sombrio, o sol parecia ter se escondido e o vento frio batia em seus braços nus, ao olhar para si, a garota se vê num vestido branco e sujo. Os ferimentos em seus braços e pernas permaneciam, provavelmente os do rosto também já que a parte do colo de seu vestido estava coberta de sangue. Ao tentar andar ela se vê mancando sem suas muletas, o que faziam os ossos no chão baterem uns aos outros em um barulho sórdido.

— TEM ALGUÉM AÍ? — Ela grita enquanto avança pelo lugar.

O silêncio absoluto responde sua pergunta e ela continua caminhando sem nem saber o porquê, a pouca luz que havia ali parece ter diminuído ainda mais e ela se vê em algo parecido com uma noite de luar. O cheiro de cadáver, apesar de só haver ossos secos ali, penetra em suas narinas e revira seu estômago, ela parece suar frio. Mas ela não sentia medo, sentia-se infeliz, pois sabia que estava morta e que aquele lugar era o inferno, não havia mais esperanças para ela.

"Será que terei que passar a eternidade aqui? Sozinha, suja e sentindo esse cheiro?"

Depois de mais algum tempo caminhando, Ellie vê uma luz ao final da imensa escuridão que aquele campo de ossos se tornara.

— EI! — Ela grita — AQUI!

A luz amarelada vai se aproximando e ela começa a distinguir do que se tratava, a silhueta de um menino surge e ele parece estar segurando uma espécie de lampião. Ao se aproximar ela vê que tratava-se de uma criança muito bonita, seus cabelos eram dourados e sua feição era de anjo, mas ele usava umas roupas estranhas, pareciam medievais, como as de um pequeno camponês.

— Olá — a criança diz com um leve sorriso, mas seu olhar era triste.

— Aqui é o inferno? — ela pergunta sem ao menos cumprimentar a criança.

— Sim, esse lugar é o meu inferno. O que você está fazendo aqui? — o menino pegunta confuso.

— Eu não sei, eu não sabia que crianças iam para o inferno.

— Eu não sou uma criança — ele responde, como se a observação dela fosse a coisa mais maluca que havia escutado.

— Tanto faz, eu quero sair daqui. Você pode me ajudar?

— Sim.

Ellie fica esperando ele dizer como, mas depois de um tenso silêncio ela percebe que estava enganada.

— Então me ajude!

— Eu te ajudo se você me ajudar.

— O que?

— Eu te ajudo a sair se você me ajudar a sair também.

— Mas eu achei que... — ela ia dizer que ele havia dito que aquele era o inferno dele e que pela lógica ele não conseguiria sair dali, já que a intrusa era ela. Mas afinal, o que Ellie sabia sobre inferno?! — tudo bem, eu te ajudo.

O Livro de SangueWhere stories live. Discover now