Uh-Oh

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Visto uma roupa que esconde bem meu rosto, quase não permitindo que eu seja reconhecida. Já fazem três dias desde que SeHun invadiu minha casa, e desde então, eu tenho vivido assustada e preocupada com tudo. Não consigo relaxar, nem dormir, muito menos prestar atenção às aulas. Hoje é quinta feira e, normalmente, eu teria uma aula de fotografia com SeHun, mas esse não é o compromisso que eu irei cumprir. Há coisas me aterrorizando, e eu não vou conseguir seguir em frente se essas coisas continuarem em minha mente.

Eu e Maiah temos compartilhado do mesmo medo e da mesma aflição. Desde aquela madrugada assustadora, eu e ela nos encontramos em uma das salas inutilizadas da faculdade, e ela me entregou sua arma de fogo sem pensar duas vezes. Assim como eu, ela nutriu um sentimento desespero em relação a SeHun que só cresce à medida que coisas como essa acontecem. Os traumas que ele vem causando a mim me afligem cada dia mais; Maiah me leva em casa desde então, eu cortei meu cabelo curto, e só tenho me escondido com medo de que ele volte. Tranco minhas portas com todos os fechos possíveis e impossíveis e as minhas cortinas vivem fechadas. Quando não estou na faculdade, estou encarcerada no lugar onde eu deveria me sentir mais segura.

Desde aquele dia, Bryan nunca mais apareceu na faculdade. Não soube-se se ele havia mudado de faculdade ou desistido do curso, como quase todos de nós fizemos. Ninguém na nossa turma é próximo o suficiente dele para perguntar por ele para alguém de sua família ou algum amigo seu, também por ninguém os conhecer. Enquanto todos tratam disso como se fosse outro aluno desmotivado por professores nada educados ou didáticos, eu trato isso como algo para eu ter medo. Ele desapareceu logo após fazer comentários sobre mim, mesmo quando não sabia sobre quem realmente se tratava, e isso é um motivo mais do que suficiente para que eu tema seu mal.

Meus pés no asfalto seguem, silenciosamente, cada passo calculado friamente enquanto encaro meus pés, incapaz de olhar para frente e ter a capacidade de ser reconhecida. Apesar de ser cedo, o céu está coberto de nuvens escuras e espessas. O sol não consegue iluminar bem meu caminho, e eu me sinto mais confortável assim. A claridade passou a me incomodar, mesmo que só por um pouco, e eu tenho frequentes pesadelos com luzes fortes em meu rosto, como se os flashes da câmera tivessem virado um trauma para mim. Quando chego em meu destino final, olho para os lados e certifico-me de que não há ninguém aqui para ver o que estou fazendo. Logo, abro a porta da casa de SeHun cuidadosamente, e ela está destrancada como minha casa costumava ser quando eu ainda tinha um pouco de paz de espírito dentro de mim.

O lugar continua escuro como sempre, sem uma única luz acesa, nenhuma janela aberta, nenhuma porta deixando a claridade entrar. Meus passos são dados na ponta de meus pés, cuidadosa e assustada, com medo. Maiah não faz ideia de que eu vim aqui, e eu tenho certeza de que se soubesse, me impediria. Cada centímetro da casa é silencioso como eu nunca vi lugar nenhum ser, e um cheiro metálico ainda mais forte do que da primeira vez impestia o ambiente, me deixando quase tonta. Eu não sei nem bem o que procurar aqui, mas eu tenho certeza de que algo nesse lugar está tirando minha paz. Há algo aqui, e eu preciso descobrir o que é. Meus olhos passam pelas portas dos quartos, e eu abro o quarto de SeHun primeiro. Lá, absolutamente tudo está normal, como da última vez em que eu estive aqui. A ausência de sons permite que eu ouça um tic-tac insistente de um relógio que fica na mesa de cabeceira de sua cama. Olho a hora e são cerca de uma e meia da tarde, e eu tenho medo de que SeHun chegue aqui em um horário diferente e me flagre bisbilhotando cada canto de sua casa. Porém, uma coisa me chama mais a atenção do que as horas é uma pequena, fina, escura e macia mecha de cabelo, amarrada com o mesmo tipo de fita no qual a rosa estava enrolada. Uma mecha de meu cabelo. Arrepio-me dos pés a cabeça por ver o quão doentio SeHun, de fato, é.

Olho pelo quarto procurando por mais algo, mas nada acho. Saio de lá e penso que preciso encontrar onde as fotos que SeHun tirou de mim estão. A segunda porta leva ao quarto branco, e eu não quero entrar lá por nada no mundo. A terceira porta possui algo desconhecido por mim, e que já me aterroriza só por ser um novo caminho para o mundo perturbado de SeHun. Junto minha coragem, toda ela, e abro a porta. Lá dentro, está uma coisa com a qual ele já deve estar acostumado: uma sala de revelação de fotos. A luz vermelha inunda meus olhos, e o horror em meus olhos desmancha-se em lágrimas ao ver-me pendurada nas paredes, de formas diversas e que eu jamais imaginaria ver em minha vida toda. Fotos minhas, do dia daquela infortúnia sessão de fotos, fotos minhas adormecida, várias delas, fotos minhas caminhando na rua, e até mesmo fotos minhas nua, ou trocando de roupa. Sinto-me violada ao pôr meus olhos em cada uma delas, imaginando quanto tempo faz desde que SeHun me observa, como se eu fosse seu objeto de adoração. Seco as lágrimas de medo que escorrem de meus olhos, e vejo as últimas fotos que ele revelou. Minha respiração quase para quando vejo fotos também tiradas no quarto branco, mas elas não são minhas. Sobre a cama, um homem com os olhos abertos e vidrados, o corpo arremessado de forma desajeitada e proposital, completamente amarrado, fortemente. Ele parece ter sido obrigado a fazer tal ato, e eu posso ver o medo brilhando em seus olhos em cada uma das fotos, como se ele quisesse apenas chorar e pedir por clemência. Cubro meus lábios para evitar gritar e explodir em prantos, quando vejo em cada uma dessas fotos uma pessoa que, agora, é com quem eu mais me preocupo. Bryan Langdon.

the watcher. ;; oshOnde histórias criam vida. Descubra agora