Que Bom Que Você Chegou.

DOIS

   Frio.
 
   Molhado.

   Frio.

   Acho que estou sussurrando essas palavras. Sinto algo frio na minha testa. Tento tirar, mas dedos macios me impedem.

   Abro os olhos devagar. Quando minha visão se adapta a claridade da sala percebo que estou deitada no sofá, Arthur está sentado ao meu lado, com um pano molhado sobe minha cabeça.

"Oi" ele sussurra me dando um pequeno sorriso.

"Oi" sorrio de volta, tentando sentar.

"Hey, hey. Calma, você ficou desacordada durante um bom tempo."

   Ele põe a mão na minha cintura, me forçando a deitar.

"Tipo quanto tempo?" faço uma carreta para o lado protetor dele.

"Uns 20 minutos" responde se inclinando e plantando um beijo na minha bochecha, me deixando rosa e surpresa.

   Acho até que eu babei um pouco.

   A boca dele é tão macia.

   Fleches de imagens passam pela minha cabeça.

   Meu reflexo.
  
   Uma copia.

"Arth, eu tive um sonho louco enquanto você fazia a massagem em mim" sento no sofá, ele faz uma carreta de desaprovação.

"Envolvia alguém idêntico à você?" pergunta com receio.

"Não exatamente, era mais um reflexo, mais diferente que parecido. Mas, como sabe disso?" pergunto confusa.

   Aquela imagem não era como eu, sou apenas a sobra daquela imagem.

"Licy, não foi um sonho" ele levanta e me olha com pena.

"Como...?" e ela entra na minha linha de visão, está no canto da sala, quase como um lindo enfeite, tentando ser invisível.

   Não deu certo.

"Não! Quem é você?" minha voz sai como um engasgo desesperado.

"Oi Felicity. Acredito que precisamos conversar" a boca dela se meche, mas ouço a minha voz, mas...minha boca esta fechada.

"Quem é você?" pergunto de novo, me levantado.

   Ignoro a dor que minha cabeça libera, como repreensão pelo movimento brusco.

"Eu me chamo Felícia. Sou sua gêmea" fala do nada, tentando se aproximar.

"Não!" me afasto dela. "Eu não tenho irmã, muito menos gêmea. Nem mãe eu tenho" sorrio de forma amarga. "Não sei que brincadeira sem graça é essa que você pensa que esta fazendo comigo, mas eu quero que pare agora."

   Arthur entra em minha frente, ficando entre mim e Felícia.

"Licy, escute ela" pede segurando meu rosto nas mãos.

"Falou com ela enquanto eu estava apagada?" pergunto tirando as mãos dele de mim.

"Sim, o que eu deveria fazer? Mandar ela embora Licy? Escute ela!" pede de novo, me olhando nos olhos, nos meus olhos que estão decididos a não ouvir essa sósia que diz ser uma irmã que eu não tenho. "Por mim" com a pronuncia dessas duas palavras minha fachada se desmancha, e eu sedo.

   Concordo e ele me senta no sofá, Felícia se senta ao meu lado, mantendo distância.

"Quando nós nascemos nossa mãe quis nos levar para longe, fora do alcance do nosso pai, ela me disse que ele era muito violento, e depois que nascemos ele ficou pior. Usava drogas e bebia muito. Quando ela decidiu se separar ele não a deixou ir, mas depois de um tempo ele decidiu deixar com a condição de ficar com uma de nos duas, nossa mãe não aceitou é claro mas ele já havia ido no tribunal, que concordou em deixar uma com cada um dos pais" ela faz uma pausa, olhando para a almofada.