Depois do Fim

Capítulo 1

Capítulo 1

"Somos um par de olvidos que se volverán a encontrar"

Maio de 2022

Era um recomeço em Los Angeles que instigava Anahi a viver. Ela queria com tudo em si, deixar para trás todos os últimos anos no México, se preocupando apenas em viver tudo que tinha pela frente. Após o conturbado divórcio, as criticas enormes em seu próprio país, Anahi peitou todas as adversidades por seu filho, para poder finalmente recomeçar com ele longe de toda aquela sujeira em que havia se metido e finalmente podendo ver um novo horizonte ao se mudar para Los Angeles.

As escolhas ruins, os erros, as mentiras, estavam no passado. Talvez fosse tarde para consertar tudo que tinha feito, mas aquelas decisões erradas não podiam defini-la para sempre, pelo menos assim ela queria acreditar. Ainda faltava esperança, mas sobrava vontade. Em um novo lugar, com seu filho, sem que as pessoas a olhassem com tantos julgamentos e raiva.

Por muito tempo Anahi segurava os sentimentos dentro de si, se anulava em nome de uma ganância que honestamente não importava mais, nunca deveria ter importado. Tudo que ela tinha perdido, os anos, uma vida, liberdade, amigos, eram coisas que nenhum dinheiro no mundo podia pagar. No meio daquele turbilhão de perdas e ganhos, ela perdeu o que mais lhe doeu perder, o amor. Ela admitia sua culpa, sentia o peito apertar e o sangue queimar de raiva ao pensar em quanto tinha sido estúpida, como tinha deixado tantos pequenos empecilhos e futilidades a impedirem de ser feliz, de estar com quem amava, de deixar a felicidade lhe escapar pelos dedos.

Anahi deixou outros ditarem as regras de sua vida, mas de agora em diante ela estava no controle e assumir a posição de espectadora de sua história não era mais uma opção. Talvez nada resolvesse o estrago feito, a dor causada, os anos perdidos, mas ela tinha dentro de si a tentativa, a chama e mais nada a perder.

Seu filho estava dormindo depois de uma animada rodada de vídeo game com um amigo. Era 5 de maio, uma data importante que era bastante festejada pelos mexicanos que viviam nos Estados Unidos. Então, porque ela também não poderia se dar ao luxo de comemorar? Ela ainda era patriota afinal, mesmo não acreditando mais no sistema depois de tudo que viveu. O que ela não conseguia tirar da mente era que, em algumas quadras de onde ela morava, não muito longe, poderia estar à sorte de um encontro.

Ela olhava as redes socais, sem dar sinal de vida, em sua timeline do twitter nas últimas semanas tinham noticias surpreendentes. Lá estava ele, Alfonso. Vivendo entre Los Angeles e México, divido entre os negócios e carreira de ator em LA e seu filho que ainda vivia no México com a mãe após a separação. Ela queria deixar para lá, deixar ele seguir com a vida da maneira como achava melhor, longe dela, feliz, como fez durante todos aqueles anos. Mas era demais pedir para seu coração que não saltasse do peito só em pensar na possibilidade de vê-lo, de olhar seu sorriso e descobrir se o cheiro dele ainda continua o mesmo de anos atrás. Ela sentia falta em cada minuto do dia e, para deixar seu orgulho de lado admitindo tudo isso deliberadamente, era porque aquele sentimento já tinha transbordado dentro de si há muito tempo. Ela precisava concluir um ciclo, olhar nos olhos dele mesmo sem a menor ideia do que dizer.

Sem pensar duas vezes, ela se arrumou casualmente, uma calça de couro preta, um suéter branco e os saltos altos com um rabo de cavalo frouxo. Anahi poderia fazer daquilo uma coincidência, mas era tarde demais para jogos. Ela pediu um Uber e se dirigiu até o restaurante dele na cidade, La Carmencita, era impossível não sorrir com aquele nome sugestivo que a lembrava de épocas tão boas vividas. Era triste constatar que só percebemos o quanto um momento é especial quando ele já virou lembrança, saudade.