Capítulo IV

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OUTUBRO, 2014

Há alguns meses, a dificuldade era maior.

Mamãe estava histérica e assustada, mas tenho certeza que o desespero dela desaparecera aos poucos enquanto nos via treinando sempre que podíamos. 

Minha cota de treinar magia já estava acabada naquela tarde, afinal, já tínhamos aprendido o suficiente, pelo menos eu achava que sim, afinal, não se aprende tudo em um piscar de olhos, principalmente esse tipo de coisa!

Logo depois do jantar, me retirei da mesa, deixando minha mãe e meu irmão ainda comendo um delicioso Gammon Steak (carne de porco) com ovos fritos e batatas, e fui para o meu quarto. Tudo parecia tão distante naquela noite, e eu estava tão inquieta. Minha cabeça doía e minha visão escurecia por meros segundos. Minha mente parecia estar me alertando de algo, mas eu não sabia o que era. Decidi deixar de lado e tomar um banho gelado; quem sabe fosse apenas cansaço.

Se eu pudesse, ficaria pela eternidade dentro desta banheira. Parecia que eu não tinha mais nenhum problema. Comecei a cantarolar uma música, que percebi mais tarde, não me recordar de tê-la ouvido em nenhum outro lugar. Mas isso era normal, certo? Uma garota normal poderia criar uma melodia normal... mesmo sendo do nada, correto? Estou certa, não estou? CLARO QUE ESTOU!

Me levantei da grande e confortante banheira, aonde a água morna e espumante ainda exalava um suave aroma de rosas. Foi difícil sair dali, pois a sensação de relaxamento era quase irresistível, mas eu precisava. O banheiro era espaçoso, com azulejos brancos brilhantes e detalhes em dourado que refletiam a luz suave das velas aromáticas acesas ao redor da banheira. A janela entreaberta deixava entrar uma brisa leve e refrescante, balançando a persiana.

Peguei a toalha felpuda, de um branco fosco, que estava pendurada em um elegante cabide de madeira ao lado da banheira. Antes de me enrolar nela e sair do banheiro, me olhei no grande espelho que estava fixado atrás da porta. A superfície lisa e cristalina do espelho refletia minha imagem com nitidez, me permitindo ver cada detalhe. 

Minha pele negra estava resplandecente sob a luz suave, os tons ricos e quentes destacando-se em contraste com o branco dos azulejos. Observei, fascinada, como a luz brincava sobre meus pequenos seios, ressaltando as suaves curvas e linhas do meu corpo.

Meus olhos escuros e expressivos, refletiam uma mistura de cansaço e curiosidade. Meus cabelos, ainda úmidos e com os cachos caindo em cascata sobre meus ombros, brilhavam à luz das velas, com pequenos fios claros cintilando aqui e ali. Notei as pequenas gotas de água que escorriam pela minha pele, traçando caminhos sinuosos até desaparecerem na toalha.

Cada curva do meu corpo parecia contar uma história, uma jornada de autodescoberta e aceitação. As marcas sutis de meu crescimento, as pequenas cicatrizes que guardavam memórias de aventuras passadas, tudo estava ali, refletido no espelho. Senti um misto de orgulho medo e ternura ao me ver daquela maneira, compreendendo que minha aparência era uma parte essencial de quem eu era, mas não me definia por completo. Por onde será que estava essa observação quando eu mais precisava anteriormente?

"Tu és sagrada, menina

Me cobri rapidamente e olhei em volta. 

Nada. 

Eu podia jurar ter ouvido algo. Devia estar realmente cansada. 

Saí do banheiro e abri meu guarda-roupas. Peguei uma camisola esverdeada e longa e sequei meus cabelos. Fui até a janela, subi no sofá e olhei para ver se tinha alguém no jardim, apenas para desencargo de consciência. 

Ninguém.

Bati na porta do quarto de Matt, e ele também não estava lá.Achei que dormir seria bom, mas não estava com um pingo de sono. Então, peguei um livro qualquer na minha prateleira, me sentei na cama e me encostei na cabeceira. Porém, logo na primeira página estava escrito: 

Viajante - A DescobertaOnde histórias criam vida. Descubra agora