Room 217

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O despertador arrancou-me de um sono profundo às cinco e meia da manhã. O sol ainda não havia vencido as montanhas mas o céu já havia clareado, a leste, as nuvens já recebiam um tom rosado como algodão-doce.

Como de costume, abri os olhos mas não quis me levantar, fiquei deitada e vi que horas eram, e caí no sono de novo deparando-me novamente com aquela figura horripilante de silêncio persistente com seus longos braços estendidos. E meu despertador soou mais uma vez e me levantei abruptamente e verifiquei mais uma vez o relógio e são seis e quinze, eu vou me ferrar.

Corri para o chuveiro e esperei que o mesmo ficasse quente e o banheiro a todo vapor, entrei no boxe e deixei a água quente bater contra o meu corpo frio. A água escorria pela minha pele em filetes, levando para longe as imagens do sonho. Resisti a vontade de contar a Wendy o que havia sonhado, mas do jeito que ela é frouxa, de nada adiantaria. Depois de esfregar todo o meu corpo, saí do chuveiro me enrolando na toalha e tentei me concentrar na tarefa à frente.

Enquanto secava meu rosto não pude deixar de notar os círculos profundos ao redor dos olhos e afastei uma mecha de cabelo castanho escuro que caía sobre meus olhos amendoados de mesmo tom, e comecei a me maquiar, quando terminei, tentei ver se parecia melhor e meus olhos me encaravam de volta como se dissesse-me, se melhorar estraga.

Sai do banheiro e me vesti o mais rápido que pude. Coloquei minha calça jeans branca e vesti a minha blusa favorita do Led Zeppelin, joguei por cima uma jaqueta de couro preta, escovei meus cabelos, pegando a minha mochila, pois dormiria lá por alguns dias, e saí do meu quarto pegando meus saltos. Tudo isso me tomou uns vinte minutos. Desci as escadas e deparei-me com Wendy deitada no sofá com uma coberta assistindo a sessão de desenhos do canal aberto. Sem olhar pro café despedi-me de Wendy dando um tapa em sua testa e a mesma resmungou em protesto esfregando o lugar onde havia batido.
- Porran...! Bom dia, pra você também, pessoa. Não vai tomar café?
- Não vai dar, estou atrasada. Me deseje sorte!
- Boa!- disse Wendy.
Peguei as chaves do carro e atravessei a porta de casa em disparada, preparada para fazer um viagem de duas horas em uma.

                                ***

Não me restou tempo para fazer uma parada no mirante, mas o pouco que pude ver de relance da janela do carro foi um lugar que parecia não ter fim, delineado de verde escuro por pinheiro e abetos. Os pinheiros davam lugar a penhascos que caíam a grandes profundidades antes de se tornarem planos. Eram montanhas belíssimas, mas duras, não perdoariam erros. Quando a paisagem mudou e pinheiros deram lugar a um longo gramado verde-vivo, cercado por barras de ferro negro, soube que havia chegado no meu destino.

A estrada de terra que levava ao St. Mungus subia uma pequena colina. Era rodeada de árvores e grama baixa, que se estendia por centenas de metros, até ser interrompido por um muro de tijolos cor de laranja que parecia acompanhar todo o contorno das rochosas. Alcançando cerca de três metros de altura, era encimado por um único fio elétrico. Senti uma pequena piedade pelas pessoas do outro lado do muro, que sabiam o quanto o mundo queria vê-las confinadas.

A visão era sombria e pouco agradável, ao lado de cada um dos muros, havia uma torre, e sobre elas, pelo menos três atiradores, trazendo nos braços rifles. Ao lado dos portões, ainda havia mais quatro guardas, todos também munidos de armas. No mesmo instante que parei o carro e mostrei minha identificação, minha entrada foi autorizada e dois guardas abriram o portão, que por si só dava boas vindas. As dobradiças provocaram um rangido mórbido que me causou arrepios.

O caminho de cascalho me levou até um espaço amplo com uma placa branca, maltratada pelo tempo com letras padrões, informando que ali era o estacionamento. Quando desci do carro e fui em direção do St. Mungus notei três prédios brancos que havia uma construção em estilo gregoriana, cada um deles tinha quatro andares, mas as colunas eram altas dando a impressão de que o número de andares era o dobro.

Embora Seja Tão VívidoOnde histórias criam vida. Descubra agora