Fixo o olhar no teto, nas estrelas de plástico que brilham no escuro, percebendo vagamente os lábios que se aproximam dos meus seios. São setenta e seis. As estrelas, quero dizer. Sei disso porque nas últimas semanas tive tempo de sobra para contá-las durante esses momentos
desagradáveis.
Eu, deitada, imperceptivelmente indiferente enquanto Grayson explora meu rosto, pescoço e, às vezes, meus seios, com lábios curiosos e excitados demais.
Se não estou curtindo, por que deixo ele fazer isso?
Jamais senti alguma ligação emocional com os garotos com quem fico. Ou melhor dizendo, com os garotos que ficam comigo . Infelizmente é algo bem unilateral. Apenas um garoto chegou perto de provocar alguma reação física ou emocional em mim, mas no fim das contas acabou sendo apenas uma ilusão autoinduzida.
Six e eu já analisamos minha falta de reações físicas com garotos muitas vezes. Por um tempo, ela desconfiou que eu devia ser lésbica. Quando tínhamos 16 anos, após um beijo muito breve e constrangedor para “testar” essa teoria, chegamos à conclusão de que não era esse o caso. Não é que eu não goste de ficar com garotos. Gosto, sim caso
contrário, não ficaria com eles. Mas não gosto disso pelos mesmos motivos das outras garotas. Nunca fiquei caidinha por ninguém. Ninguém jamais me fez sentir frio na
barriga. Na verdade, desconheço totalmente essa sensação de ficar encantada por alguém.
A verdadeira razão pela qual gosto de ficar com garotos é a seguinte: me sinto completa e confortavelmente entorpecida. São em situações como esta em que estou agora com Grayson que gosto de desligar a mente. Ela se desliga por completo, e gosto disso.
Meus olhos estão focados nas 17 estrelas no quadrante direito superior da constelação no teto. De repente, volto bruscamente à realidade. As mãos de Grayson se aventuraram além do que deixei no passado; rapidamente percebo que ele desabotoou minha calça jeans e que seus dedos estão na borda de algodão da minha calcinha.
— Não, Grayson — sussurro, empurrando sua mão.
Ele retira a mão, geme e depois pressiona a testa no meu travesseiro.
— Qual é, Sky. — Ele está respirando forte em meu pescoço e apoia o peso no braço direito, olhando para mim, tentando me conquistar com seu sorriso.
Já mencionei que sou imune ao sorriso arranca-calcinha dele?
— Por quanto tempo vai ficar fazendo isso? — Ele desliza a mão pela minha
barriga e aproxima as pontas dos dedos da minha calça mais uma vez.
Fico horrorizada.
— Isso o quê? — Tento sair de baixo dele. Ele ergue o corpo, se apoiando nas mãos, e olha para mim como se eu fosse totalmente sem noção.
— Essa história de pagar de
“santinha”. Já não aguento mais, Sky. Vamos fazer isso de uma vez por todas.
O que me faz voltar a pensar que, ao contrário do que dizem por aí, não sou uma vagabunda. Nunca transei com nenhum dos garotos com quem fiquei, nem mesmo com
Grayson, que está fazendo bico na minha frente neste exato momento. Sei que não reagir sexualmente poderia facilitar e me fazer transar com pessoas aleatórias. No entanto, também sei que é exatamente por isso que não devo transar. Sei que, no
instante em que fizer isso, os boatos vão deixar de ser apenas boatos. Tudo vai passar a ser verdade. E a última coisa que quero é que as fofocas sobre mim se concretizem.
Acho que posso creditar meus quase 18 anos de virgindade puramente à teimosia.
Pela primeira vez nesses dez minutos em que ele está aqui, percebo o cheiro de
álcool.
— Você está bêbado. Eu disse para você não aparecer mais aqui bêbado.
Ele sai de cima de mim, e eu me levanto para abotoar a calça e ajeitar a camisa.
Fico aliviada por ele estar bêbado. Estou mais do que querendo que vá embora.
Ele se senta na beirada da minha cama, agarra minha cintura e me puxa para perto.
Em seguida, põe o braço ao meu redor e encosta a cabeça na minha barriga.
— Desculpe — diz ele. — É que eu quero tanto você que acho que não vou
aguentar mais vir aqui se não puder tê-la toda para mim. — Ele abaixa as mãos e encosta na minha bunda, depois pressiona os lábios na pele entre minha calça e minha
camisa.
— Então não venha mais aqui. — Reviro os olhos e me afasto dele. Em seguida, vou até a janela. Quando abro a cortina, vejo Jaxon saindo do quarto de Six. De alguma maneira, nós duas conseguimos condensar as visitas de uma hora para dez minutos.
Olho para Six, e ela me lança um olhar de “hora de escolher um sabor novo”.
Ela sai pela janela logo depois de Jaxon e se aproxima de mim.
— Grayson também está bêbado? Confirmo com a cabeça.
— Terceiro strike. — Eu me viro e olho para Grayson, que está deitado na cama, sem perceber que já passou da hora de ir embora. Vou até a cama e pego sua camisa, arremessando-a no rosto dele.
— Se manda — digo. Ele olha para mim e ergue a sobrancelha. Quando vê que estou falando sério, sai da cama de má vontade e calça os
sapatos fazendo bico, como se fosse um menininho de 4 anos. Eu me afasto para que ele possa sair.
Six espera Grayson sair pela janela e depois sobe por ela enquanto um dos garotos murmura a palavra “ vagabas ”. Já dentro do quarto, Six revira os olhos, vira-se e põe a
cabeça do lado de fora.
— Engraçado, nós somos vagabas porque vocês não comeram ninguém. Canalhas.
Ela fecha a janela e vai até a cama, deixando-se cair no colchão e cruzando as mãos
atrás da cabeça.
— E mais um já era.
Acho graça, mas minha risada é interrompida por uma forte batida na porta do quarto. Destranco-a na mesma hora e dou um passo para o lado para que Karen entre.
Seus instintos maternais não me desapontam. Ela olha freneticamente ao redor do quarto até avistar Six na cama.
— Droga — diz ela, virando-se para ficar de frente para mim. Ela põe a mão nos quadris e franze a testa.
— Jurava que tinha escutado algum garoto aqui dentro.
Vou até a cama e tento disfarçar o pânico total que se espalha pelo meu corpo.
— E está desapontada porque … — Às vezes não entendo mesmo as reações dela.
Como já disse… é contraditório.
— Você vai fazer 18 anos daqui a um mês. O tempo que tenho para deixá-la decastigo pela primeira vez está se esgotando. Precisa começar a aprontar um pouco mais,
menina.
Suspiro aliviada ao perceber que ela só está brincando. Quase me sinto culpada por ela não suspeitar de que a filha estava sendo apalpada cinco minutos antes neste mesmo
quarto. Meu coração bate tão forte no peito que fico com medo de que possa escutar.
— Karen? — diz Six atrás da gente. — Se serve de consolo, dois caras bonitinhos estavam se agarrando com a gente ainda agora, mas nós os expulsamos logo antes de você chegar porque eles estavam bêbados.
Fico boquiaberta e me viro para lançar a Six um olhar que eu espero ser capaz de lhe dizer que o sarcasmo não tem muita graça quando o que se diz é verdade .
Mas Karen ri.
— Bem, talvez amanhã à noite vocês arranjem uns gatinhos sóbrios .
Não preciso mais me preocupar com a possibilidade de Karen escutar meu coração, pois ele parou de vez.
— Gatinhos sóbrios, é? Acho que posso providenciar isso — diz Six, piscando para mim.
— Você vai dormir aqui? — pergunta Karen a Six ao voltar para a porta.
Six dá de ombros.
— Acho que hoje vamos ficar lá em casa. É a última semana que tenho para curtir minha própria cama pelos próximos seis meses. Além disso, tem Channing Tatum na minha televisão.
— Espero que você conheça um
italiano bem gato — diz ela para Six.
— Espero que eu conheça mais que um — comenta Six impassível.
Quando a porta se fecha após Karen sair, me viro, pulo na cama e dou um murro no
braço de Six.
— Você é uma vaca — digo. — Não foi engraçado achei que ela havia acreditado.
Ela ri, segura minha mão e se levanta. — Vamos. Tem Rocky Road lá em casa. Ela não precisa pedir duas vezes.
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A Lest case {Justin Bieber}
Ficção AdolescenteSky cataloga garotos como sabores de sorvete. Alguns são baunilha, outros um pouco mais ousados. Mas nenhum a empolga. Em seu último ano de escola, conhece Justin Bieber, um rapaz com uma reputação capaz de rivalizar com a dela. Em um único encontro...