Cap. 2 - Morte à Bruxa

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Ando devagar pelas ruas enfeitadas, crianças fantasiadas correndo de um lado para o outro, como é bom ter inocência.
Os adultos e alguns jovens bebendo, fumando e fazendo arruaça. Típico.

Gostosuras ou Travessuras, não é mesmo?

O que as pessoas não sabem é que em meio à escuridão, seres demoníacos espreitavam cada um, esperando pacientemente um vacilo, para levarem algumas almas desavisadas. Por um instante senti medo, ao vê-los olhando diretamente para mim.

- Não era pra eu estar aqui. - Repetia pra mim mesmo em voz baixa.

Eu estava em um lugar onde nenhum mortal poderia me ver, mas ainda estava do lado de cá. Não estava no céu, nem no inferno, estava no meio, entre eles e o mundo humano. Acho que estava no limbo. Esquecido, sem mais valor, aguardando o que fazer, aguardando a resposta de porquê ainda estar aqui.

O limbo é como estar em um pesadelo, do qual você não consegue acordar. Onde os monstros são reais e te espreitam tentando comer cada pedacinho da sua alma.

...

Chego na casa de Helena. Olho pela janela, e por impulso, consigo abri-la. Como foi possível eu ter feito isso?

Vejo-a sentada no sofá assistindo um filme com Augustus. Ah, que casal lindo. Suspiro.

Olho no relógio, meio tarde já. Agora era o filme que assistia aos dois.

Tento me aproximar, mas a única coisa que consigo fazer ao tocá-los é frio, eles se cobrem com a coberta. Após alguns instantes observando-os, Augustus se levanta e vai até o banheiro, sigo meu irmão e ao vê-lo enxaguar o rosto, ele olha para o espelho e arregala os olhos ao me ver.

- Vinc...? - Ele diz se virando bruscamente ficando cara à cara comigo.

Mas por algum motivo ao tocá-lo, entrei dentro de seu corpo, me apoderei de seus pensamentos, agora estava vendo o que ele via, sentindo o que ele sentia. Não poderia invadir a privacidade de alguém dessa maneira, então resolvi deixá-lo em paz, esse tipo de comunicação não era muito legal, eu poderia prejudicá-lo de alguma forma.

Ao me desligar do corpo de meu irmão, ele caiu subitamente batendo a cabeça na pia do banheiro.

- Augustus! - Desesperado, tento acordá-lo, mas dessa vez minha mão não passa direto, pude tocá-lo.

Com a tentativa em vão de acordá-lo, noto que ele apenas desmaiou com a pancada, ele vai ficar bem. Me levanto rapidamente, deixo um recado escrito fixo no espelho, tranco a porta do banheiro e saio atravessando a mesma. Pego o celular de Augustus e coloco no bolso da minha roupa.

Dizem que quando você morre, você vaga por aí com a mesma roupa que morreu, logo, eu estava vestido com a maldita fantasia de palhaço infernal.

Pois bem, terei minha vingança feita hoje. Já que de alguma forma, consigo tocar em pessoas e coisas, vai me ser bem útil nesta noite de "Gostosuras ou... Morte".

...

A primeira pessoa que irei ceifar a vida miserável é dela, Susan. A observo terminando os enfeites de sua casa, com seus pais, estavam bastante felizes. Ah, se eles soubessem a cobra que criam dentro de casa.

Vou até sua garagem, pego um galão de gasolina do velho carro de seu pai, encharco a grande fogueira de enfeite que eles acabaram de fazer, vai ser perfeito.

Pego algumas cordas, e quando à vejo saindo, fecho a porta atrás dela, apenas com a força do pensamento.

- Isso é novo. - Digo em voz alta e ela parece ter me escutado.

- T-tem alguém aí? - Ela diz com receio, sua fantasia de bruxa estava perfeita pra ocasião.

- Olá, Susan. - Digo me aproximando.

- N-não pode ser. Q-quem é você? Pára com essa brincadeira ou eu chamo a polícia. - Ela dizia trêmula, mas não conseguia sequer dar um passo para correr.

- Ora, porquê hoje você quer chamar a polícia? E no dia em que ajudou a me matar, hein? Porquê não chamou? - Ela arregala os olhos, e faz menção de correr, mas era tarde, quando ela deu por si, já estava amarrada naquele poste e encharcada de gasolina.

- Vinc... Por favor, não faz isso comigo. - Ela chorava enquanto eu marcava em sua barriguinha magricela a letra "V". - NÃOOOOO.

As pessoas que passavam por perto achavam que era uma encenação, então continuavam seu trajeto. Que sorte a minha.

- Sabe, Susan, você poderia ter feito algo, mas não o fez. Decidiu se tornar uma assassina, então vou adiantar sua ida pra seja lá onde for depois que morrer.

Fiz alguns outros cortes nela para poder pegar um pouco de sangue, iria deixar um recadinho para todos, então escrevi na parede.

"A noite é uma criança."

E de fato estava sendo mesmo.
Acendo um fósforo e jogo sem pensar duas vezes.
Me diverti bastante com a cena em que Susan gritava desenfreadamente, se debatendo, sua carne chiava, fritando no fogaréu.

Me escoro em uma árvore, e as pessoas começam à se aglomerar, tentando conter as chamas, em vão.

Vejo ao longe, um par de olhos que me são familiares. Helena, fico feliz que esteja assistindo ao espetáculo da morte dessa bruxa horrenda.

Quando os gritos se silenciam, vejo alguns vultos negros passarem em volta das pessoas, especialmente de Susan, que à essas horas já estaria queimando em outro lugar.

Helena foca sua visão em mim, será que ela estaria me vendo? Enfim, tenho muito o que fazer ainda. Viro as costas e saio em busca do próximo.

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Um Abração e Até o Próximo Capítulo... 🤡

Gostosuras ou... Morte - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora