Quando minhas narinas, das quais choravam sangue, puderam perceber o odor de terra molhada trazido pela neblina escassa, consegui me acalmar e sentir a dor de minhas ardentes feridas pelo corpo. Os pingos de chuva que batucavam por minha pele lavavam consigo o sangue e também minha mísera dignidade. Os pássaros guinchavam numa canção angustiante que tremia minha orelha molestada.
Ao me localizar na rua de asfalto esfriado pelo nevoeiro daquela manhã chuvosa, me vieram em mente memórias rápidas daquela noite que se tornara a pior dentre todas de minha vida curta: ao voltar para casa, avistei um grupo de homens maltrapilhos e aparentemente jovens que riam entre si. Desnorteada esbarrei em um deles. Quase automaticamente eles formaram um círculo em volta de mim. Antes que eu percebesse, já estava sentindo mãos ásperas alisando meu corpo magricelo, as vozes maliciosas daqueles ogros me desesperavam ao ponto de ficar imóvel, a partir disso não me lembro de mais nada; agora que estou me arrastando por essa calçada áspera como as mãos daqueles homens, vejo que não há motivos para permitir a pulsação de meu coração despedaçado, estou partindo. Adeus.
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Melancolia (Contos)
General FictionContos demonstrativos de personagens diferentes dos quais sofrem com a psicopatia reforçada pelo cotidiano dos quais frequentam. Todos se disfarçam rotineiramente para esconder o monstro melancólico dos quais se tornaram. "O frio que prevalecia em m...