Era uma vez uma pistola de pregos

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- Foda-se. Até no final de semana é esse inferno.

O som de serra me fez gemer em frustração e indignação.

Eu não conhecia mais o som do meu despertador. Era a décima vez nas últimas duas semanas que aqueles malditos barulhos interrompiam meus sonhos mais quentes. O que, coincidentemente, começaram quase no mesmo dia que as obras na casa vizinha que, só por ironia, era geminada com a minha casa.

Na primeira vez que aconteceu, a obra tinha acabado de começar e agora era algo quase que habitual. O que era mais irritante visto que eu trabalhava em casa e ficava refém do barulho pelo dia inteiro.

Mas não adiantaria de nada protelar.

Me sentei e fiz o alongamento habitual antes de levantar e fazer a higiene no banheiro.

Devidamente vestida em um top e calça legging preta e bege, peguei os tênis e as meias e desci para a cozinha e coloquei a cafeteira para trabalhar enquanto amarrava meus cadarços. Final de semana eu sempre saía pra correr um pouco e não era o estresse que me impediria.

Dei uma rápida espiada através da janela da sala de estar e realmente não havia ninguém nos jardins, nem mesmo aquela abundancia irritante de gente que trabalhava com equipamentos de gravação.

Logo no começo, antes mesmo de se iniciarem as obras, os novos vizinhos bateram na minha porta me oferecendo uma cesta de bolinhos para se desculpar pelo transtorno que viria com a obra que, segundo o empreiteiro, duraria cerca de sete semanas. E, segundo o casal Bennet, eu não seria incomodada com nada além de um barulho ocasional. O que se provou verdadeira e irritantemente certo.

Eu os desculpei, logicamente. Eu sabia bem como era. A minha reforma foi um inferno também. Mas, então eles entraram nas explicações sobre o programa de Tv que acompanharia a coisa toda. Property Brothers.

Eu já tinha ouvido falar sobre o programa de reforma dos irmãos Scott, eles eram bem conhecidos nesse ramo e meio que celebridades na cidade, mas não imaginei que eles se abalariam para um bairro tão no subúrbio de Las Vegas.  

Foi uma grata surpresa, no entanto, ver aqueles gêmeos de perto. Outdoors e chamadas na tv não faziam jus a realidade de conhecer os gêmeos Scott. 

Não que eu os tenha conhecido, no sentido literal da palavra. 

O empreiteiro, Jonathan, eu vi algumas vezes na primeira semana ainda, enquanto falava com os trabalhadores da obra. Eu o ouvi do outro lado da cerca no quintal, passando ordens para todos. Ele era confiante e sua voz era forte e provocava coisas estranhas em mim. Drew, no entanto, eu vi apenas uma vez. No dia que ele e o Senhor Bennet - meu novo vizinho - vieram falar comigo a respeito do termo que os responsabilizava por qualquer dano que a obra deles provocassem na minha propriedade. Ele estava lindo em um blaser azul escuro, camisa cinza e calças jeans. No entanto eu apenas me perdi nos seus olhos.

Foram poucos minutos de interação, mas que faziam minha mente viajar todas as noites.

Era confuso ter desejo pela voz e olhar de um homem, mais confuso ainda era que elas pertenciam a homens iguais que eram pessoas diferentes.

Suspirei e fechei as cortinas, logo voltando ao meu processo de preparar e tomar o café enquanto ouvia o barulho inconfundível de uma pistola de pregos e tentava imaginar porque uma pessoa sairia do conforto da própria casa para trabalhar sozinho em uma casa alheia. 

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