Capítulo 2 - Cara a Cara

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Uma escuridão. Um sentimento de agonia. Oxigênio estava acabando. Estava de baixo d'água. Como um foco de luz , destacou um homem desacordado em que resquícios de sangue saiam do seu abdômen e braço.

Tentei nadar o mais rápido que podia, queria salvá-lo, queria tira-lo daquela agonia, ver uma pessoa morrer diante dos meus olhos e não fazer nada seria uma das piores culpas da minha vida. Meus pulmões começaram a queimar e minhas pernas começaram a doer por conta da imensa força que colocava para alcançar ele, sentia a sensação de que também morreria naquele exato momento .

Não quero morrer. Nunca pensei que minha morte seria assim.

A ponta dos meus dedos tocaram seu casaco.

Só mais um pouco, faltava pouco para salvá-lo, estava tão perto , minha mão estava fechando para agarrar seu casaco preto.

Uma correnteza muito forte começou a me levar ao sentido contrário. A cada segundo me distanciava dele, percebi que seus olhos tinha aberto por pouco tempo e seus lábios ficaram entreabertos como se pedisse socorro, isso partiu meu coração em vários pedaços.A minha vista começou a ficar turva, meus olhos ficaram pesados, o corpo cansado e sem forças para lutar contra a correnteza , então me entreguei ao sono tentador.

*****

- Bianca! - senti um enorme tapa em minha cara.

- Isso dói. - Minha bochecha estava queimando, Vitória tem uma mão pesada.

- Foi necessário, já gritei, sacudi você por muito tempo e não acordava. Pensei que estivesse morta. - Sua voz começou a falhar.

- Eu estou bem. Dá próxima vez não faça isso, sua mão é muito pesada.

Minha bochecha ficou dormente , Vitória com certeza seria uma ótima lutadora. A imagem do homem na água voltou a tona e isso fez meu corpo congelar.

- Por acaso você tentou morrer?! Por que está encharcada?

Olhei para minha farda que estava ensopada e meu cabelo pingava de tão molhado.

O que diabos está acontecendo?

Olhei confusa para Vitória, não sabia como explicar , com certeza ela diria que bati a cabeça no chão por dizer coisas sem sentido, ou seja, algo que é impossível de acontecer , mas diante dos meus olhos foi real. Levantei rapidamente e fui em direção ao espelho, uma marca de mão estava lá , mas não era a minha, desta marca estava escorrendo um líquido vermelho. Sangue?

- Não sei como seu celular está intacto, pois não ficou ensopado como você. - Ela olhava para mim desconfiada.

- Você viu essa marca de mão no espelho quando entrou?

- Bia, não tem nada no espelho.

Virei para o espelho novamente e a marca da mão tinha desaparecido, não sabia se ficava assustada ou indignada por não ter provas para comprovar minha sanidade mental. Foquei no meu reflexo que estava no espelho e percebi uma coisa, meu colar tinha sumido , o colar que meu pai entregou antes de sair da minha vida.

***

Prestar atenção na aula de matemática estava sendo impossível, nem mesmo o professor prendia minha concentração apesar de ser um pedaço de mau caminho , pois ainda pensava naquele homem que estava desacordado e machucado, que por sinal parecia bastante familiar.

- Espera um segundo... - sussurei - Aquele era...Chung-Hee. - Tapei minha boca para evitar o grito.

Como assim? Estou alucinando?Pareceu tão real... Era real! Como eu entrei na história? Será que tenho poderes?

Olhei para minhas mãos abismada ao imaginar que sou mutante,mas se fosse como nos quadrinhos eu deveria ter chegado perto de algum produto radioativo.

Belisquei meu braço.

Acorda para a vida Bianca ! Já estou viajando demais .

Peguei meu celular ,tentando ao máximo para o professor Gabriel não ver, fui imediatamente para o webtoon Saahra e me deparei com um novo capítulo , senti um frio repentino por todo meu corpo e suor escorrer pelo meu rosto.

Na atualização do último capítulo, eu estava exatamente com minha farda escolar e nadando em direção ao grande herói das histórias em quadrinhos, Chung-Hee. Não conseguia gritar, correr ou até mesmo jogar o celular para longe de mim, pois minha mente ainda tentava processar o ocorrido no banheiro, parecia que meu cérebro apertava o replay incontáveis vezes para apreciar meu choque.

- Ei, está tudo bem? - Sussurou Vitória- Até parece que viu um fantasma.

- Eu... Estou começando a pensar que sou louca. - Disse

- Amiga,você já é.

- Acho que vou desmair.

- De novo não.

A última coisa que vi foi Vitória me segurando para não bater a cabeça no chão, minha visão ficou completamente escura, mas no meu subconsciente sabia que não estava na sala e sim em outro lugar bem distante.

Senti um aperto em minha mão, era um aperto leve e sem força, por um momento achei que iria ver minha amiga deseperada aos berros achando que morri, mas eu vi ele novamente , Chung-Hee , segurando em minha mão. Eu poderia nesse exato momento soltar sua mão, nadar para longe e logo em seguida ficar desesperada pensando que vou morrer,mas não o fiz, apenas segurei em seu casaco e nadei rapidamente para a superfície, sentia meus pulmões se rasgando lentamente,meu corpo suplicando por descanso, mas tentava manter o pensamento positivo e forte. Quando finalmente consegui respirar meu corpo relaxou, então encarei seu rosto que estava mais pálido do que o normal e com seus lábios carnudos extremamente roxos. Lentamente observei os traços do seu rosto, ele é mais bonito pessoalmente do que ver apenas o seu desenho em uma tela de celular.

O som do motor de um barco salva-vidas de pequeno porte vinha em nossa direção e agradeci ,pois a água estava muito gelada. Voltei a observar o rosto de Chung-Hee e seus olhos negros me encaravam profundamente como se pudessem ver meus segredos mais profundos , como era de noite a luz da lua iluminava a sua face, sua mão enconstou em meu braço e um nervosismo se instalou deixando meu estômago virar uma pedra de gelo em questão de segundos. Novamente ele fechou seus olhos , pelo seu rosto era fácil perceber o cansaço e a dor .

Um forte zumbido em meus ouvidos surgiu de repente, era agoniante e doloroso, foi então que pequenas palavras apareceram atrás dele...

Continua .

Continua

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