"A noite passada foi como todas as outras em que eu pensei que fosse morrer. Talvez você também tenha sentido isso alguma vez na vida e se identifique com este texto. Então, se você está lendo isso, não foi dessa vez que seu coração parou".
21 de Maio de 2017. Encontrava-me no meu horário de descanso no plantão do trabalho enquanto conversava com alguns amigos no WhatsApp e assistia um filme na Netflix chamado "Sobre meninos e lobos". Este filme fala sobre um assassinato misterioso e diferenças entre amigos de infância. O que o filme tem a ver com a minha possível morte? Nada, mas me abalou psicologicamente enquanto eu assistia.
Deitado, comecei a sentir uma dor nas costas que surgiu do nada, mas era como se eu tivesse levado uma pancada muito forte. O pior é que essa dor incomodava em cada posição que eu procurava na cama e isso começou a me preocupar. Você lembra da morte daquele humorista ""? Ele faleceu após um ataque cardíaco num hotel na Alemanha durante a copa do mundo de 2006. Lembro-me de uma reportagem na TV que exibiu detalhes da carreira do humorista. Nessa entrevista eles alegaram que Bussunda sentiu fortes dores nas costas antes de sofrer o ataque cardíaco que provocou a sua morte. Desde então, toda e qualquer dor que eu sentia nas costas era um motivo de preocupação pra mim, mas na noite anterior não foi apenas a dor que me incomodou.
Alguns minutos depois senti algo que me fez ver toda a minha vida passando diante de mim. Mais precisamente, vi meus amigos e as pessoas que eu gosto, além de duas garotas que não revelarei os nomes, mas que naquele momento conversavam comigo por mensagens. A história da dor nas costas já rondava na minha cabeça quando de repente senti os batimentos do meu coração acelerarem de uma forma inexplicável.
Tu tu! Tu tu! Tu tu! Tu tu! Tu tu! Tu tu!
Foi assim. Meu coração deu uns 12 saltos como se pulasse de alegria num bloco de carnaval. Foi tão forte que eu senti minha caixa toráxica estremecer por dentro. Isso levou menos de 3 segundos e me deixou preparado para dar um grito de socorro pelo nome dos meus colegas de plantão que estavam do outro lado do meu alojamento e que levariam cerca de 30seg pra chegar até mim, 10min para encontrar o motorista de plantão e mais 26min ou mais para me levarem até o hospital. Eu com certeza teria falecido na metade do caminho.
Pensei nisso rapidamente e ao sentir os batimentos do coração normalizar, então desisti de gritar e continuei mandando minhas mensagens. Nesse dia eu passei toda manhã e toda a tarde sozinho, isolado em meu alojamento e aguardando mensagens de pessoas próximas. Sentia como se tivesse ido ali pra morrer naquele dia. Foi só o que consegui imaginar no resto da noite.
Eu precisava dormir um pouco para assumir minha função no plantão das 2h às 4h da madrugada. Então fui até o Whatsapp, mandei uma mensagem para as duas moças que citei no início do texto e percebi que uma pequena confusão de assuntos pessoais havia se formado. Pra quem precisava desligar a internet e ir dormir, a noite seria longa naquele chat e algumas coisas precisavam se resolver ou se acalmarem.
Era por volta das 00:34 quando consegui acalmar as coisas, desliguei a função Wi-Fi do celular e peguei no sono que durou até as 01:45h. Levantei e assumi meu posto às 02h e ali ficaria até as 04h da manhã. Quando cheguei no posto, o rapaz que estava na função me falou que havia chovido bastante nas últimas duas horas.
"Veríssimo... Choveu tanto que as estrelas que tinham no céu caíram junto com a água"
Foi o que ele me disse, olhando para o céu que já não estava tão estrelado quanto a duas horas atrás. Eu achei engraçado a colocação dele, sorri e assumi a função. Na minha cabeça eu ainda morreria naquela noite, então fiz questão de tentar resolver o problema que surgiu algumas horas antes de dormir e de ir até minha lista de conversas recentes e escolher algumas pessoas mais próximas de mim pra deixar uma mensagem com a hora e um "Amo você" ou um "Te amo".
Mandei 3 mensagens para 3 pessoas diferentes. Uma às 03:38h, uma às 03:41h e outra às 03:42h. Pretendia continuar a lista de mensagens até chegar em todos os amigos mais próximos. Queria deixar um adeus antes de ir, mas parei quando notei que a chuva começava a cair novamente. Então lembrei das estrelas.
Às 04h eu passei a função e voltei ao alojamento pra dormir. Deitei, coloquei a mão no peito e senti os batimentos normais até pegar no sono. Às 06h da manhã acordei com um beliche sendo arrastado. O barulho me deixou irritado, mas lembrei da noite anterior que seria a minha última, mas não foi graças ás estrelas que ainda haviam pra cair.
Nessa noite eu aprendi uma coisa:
Enquanto houverem estrelas no céu, haverá muita chuva pra se molhar. Não foi dessa vez que meu coração parou.
. . .
> Próximo capítulo - 01 Set 17, às 20h. (Adicione esta leitura às suas bibliotecas para receber notificação)
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Vida contada
Non-FictionUm rapaz como outro qualquer resolveu separar algumas histórias que lhe vieram a cabeça sobre fatos que lhe transformaram no decorrer da vida. > Um capítulo por mês <