Tonto o que não entenda, conta assim uma lenda:
Outrora houve uma cigana que era apaixonada por um calé. Mas, na época era expressamente proibido o casamento entre tribos e, por isso, o casal não poderia estar junto.
Lançando suas cartas e meditando de coração partido, Ametista rogava aos espíritos que lhe dessem uma forma de estar com seu amado. E num momento de lágrimas ininterruptas sentiu uma revelação abater-se sobre si.
— O monte... — sussurrou uma voz enchendo o cômodo de vento. --- Vai ao monte...
--- O quê? --- perguntou a moça apreensiva. --- O que farei no monte?
--- Ora... ergue uma prece à Ela Da Noite... --- a voz prosseguiu o seu discurso. --- No zênite ela ouvirá teu pedido...
--- Obrigada. --- disse a moça com lágrimas nos olhos, um sorriso nos lábios e esperança no coração. --- Muito obrigada, espírito.
E a brisa acalmou-se... deixando Ametista a sós com a angústia se dissipando cada vez mais no seu coração...
*****
Ametista andava sorrateira e apressada pelo acampamento, levando ao braço um cesto com objectos e ingredientes para o ritual que realizaria quando, atenta em busca de azáleas nos canteiros dos vizinhos, esbarra bruscamente em alguém.
— Peço desculpas, eu estava... — começa a dizer a moça.
— Calma aí, Ametista. — a loira disse sorrindo. — Onde vais com tanta pressa?
--- Ahn, oi Hera. --- disse a morena aceitando o braço da amiga pra se erguer. --- A sítio nenhum. Estou apenas à caça de elementos pra decorar a caravana e por aí... --- ela começou a dizer, evasiva.
--- O quê? --- Hera disse olhando pra o cesto da amiga. --- Deixa-me ver... endro, velas, selenite, sálvia... hm, isso não são elementos decorativos, vais fazer um ritual à lua?
--- Hm, sim... --- disse a morena com o olhar baixo, envergonhada pela mentira.
--- Porquê?! --- Hera perguntou intrigada. --- A tribo sempre o faz em conjunto.
--- Ahm... --- Ametista viu-se numa encruzilhada. Nada do que dissesse serviria para justificar a sua ausência à celebração costumeira da tribo. Além disso, Hera era sua melhor amiga! Mas, contar-lhe seria colocá-la em risco ao pedir-lhe que guardasse seu segredo...
--- Tist? --- Hera perguntou levando a mão ao ombro da amiga. --- Fala comigo. O que te apoquenta?
Ametista olhou pra Hera com melancolia nos olhos de mel. — Nada. — fingiu um sorriso o melhor que pôde. — Eu apenas busco um bocado de mais privacidade.
--- Está bem. Um pouco de isolamento tem sempre efeitos positivos. — Hera abraçou a amiga com carinho e pesar. Era notável a melancolia que inundava os olhos cor-de-mel.
--- Eu sei. Por isso preciso da tua ajuda. --- Ametista disse, levando a amiga a um canto mais isolado. --- Na fogueira de hoje, pouco antes do ritual, eu vou escapulir-me pela floresta até ao monte e preciso que me acobertes. Podes fazer isso? É que preciso mesmo de estar sozinha.
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Filho da Lua
Fiksi PenggemarUma jovem busca estar com o seu amado e ergue uma prece à Lua. Como pagamento, a Lua exige dessa jovem o seu primogénito. Conto 1 da Colêtanea Melodias, baseado na música "Hijo de la Luna" da banda Mecano.