Episódio 8

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No episódio anterior:

- Levitraz pressiona Lucrécia;

- Alcione se declara a Ludmárcia e Ivanir vê o que não devia.


– Minhas joias não, seu desgraçado! Eu te imploro! – Lucrécia de joelhos, agarrada a sua caixa de joias improvisada, chorava e se humilhava. – Tudo, menos minhas joias, pelo amor de Deus. Um rim, me arranca um rim e vende no mercado negro de órgãos, mas me deixa com as minhas joias, diabo!

Lixando as unhas, parando de vez em quando para assoprar o pozinho, Levitraz ouvia indiferente as súplicas da desgraçada.

– Terminou? – perguntou com ar de enfado, enquanto a louca rolava no chão abraçada à caixa de joias, impossibilitada de continuar implorando devido à violência do pranto. – Agora, levanta que nós vamos sair.

– Sair? – estranhou Lucrécia, até parando um pouco de chorar ante o inesperado "convite".

– Claro, né, Lulu Escândalo. Ou você acha que eu vou aceitar suas joias como pagamento de suas dívidas.

– Não? – Uma ponta de esperança surgiu no coração da vilã. – Graças! Graças, meu Deus! Eu sabia, desgraçado, que tu é ruim, mas não é o diabo. – Abraçada à caixa, beijava-a ardentemente.

– Claro que não, Lulu Bijou! Você vai empenhar as joias e me pagar, ora! O que eu iria fazer com essas joias? Só trabalho com dinheiro, minha filha.

Se naquele momento Lucrécia tivesse em mãos qualquer arma, algum objeto pontiagudo, uma pinça que fosse, teria matado Levitraz.

– Minha filha, olha, cá pra nós, que eu não gosto de fofoca... – comentava uma das vizinhas de Dona Calô. – Longe de mim, você me conhece, Calô. Tenho horror a fuxico. Mas ouvi dizer que aquela biscate mulher do padeiro, além de ser uma vaca, é uma porca. Milha filha, me disseram, fonte segura, que a desgraçada usa a mesma calcinha de 3 a 4 dias, depois vira do avesso e usa mais outros 3 dias. Tu já pensou a catinga de bacalhau? Não sei como... Ih! Que carrão... Quem será, Calô? Eita, parou aqui. É visita pra ti, mulher.

– Visita pra mim coisa nenhuma, tá doida, eu lá me misturo com... – Espantou-se – Epaminondas?

– Eu mejmo, Calormina. Voxê não deixou recado com a empregada da xecretária da minha axexora pedindo para que eu viexe aqui? Poij bem, vim!

– Ah, verdade! Eu até podia ter ido lá, Epaminondas, mas com a passagem de ônibus do preço que está!

A vizinha, inadvertidamente, arriscou-se a um comentário infeliz, para puxar conversa com o milionário doutor:

– Essa Calô! Ô, mulher segura! – ainda falou, mostrando o punho cerrado.

– Seguro é teu sutiã, que não deixa teus peitos baterem no joelho, bicha mexeriqueira! Arreda daqui, sua galinha de macumba. – E para o velho amigo disse: – Repare não, Epaminondas, a vizinhança aqui é horrível. Entre, que só mesmo dentro de casa a gente pode ficar a salvo da língua ferina desse bando de futriqueira. Deus me perdoe!

A outra saiu quase correndo de tanta vergonha.

– Mash, Calô, voxê e exa xua língua grande! Ah, a propójito, eu queria lhe pedir um favor: não mande maish osh meuj empregadosh tomarem na tarraqueta, nem no trovejante, nem em lugar nenhum, shim?

– Quem manda você se cercar de gente incompetente! A idiota querendo que eu marcasse hora para falar com você. Só o que me faltava. Mas, entre logo, entre, que precisamos muito conversar.

Meu Reino por um PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora