A Assassina da Minha Rua

140 31 27
                                    

O vizinho de Fernando saltou do carro e se despediu de seus amigos, parecendo bem alegre ainda — e embriagado. Fernando tomou um grande gole da sua cerveja enquanto assistia Roberto andar cambaleando pelo asfalto, vindo em direção ao prédio.

Nisso, a mulher ruiva e misteriosa apareceu do ponto escuro no começo da rua e seguiu o mesmo caminho que faz em todas as madrugadas. Trajando a mesma roupa de sempre e não deixando nenhum vestígio de luz alcançar seu rosto. Roberto parou para encará-la. Ele semicerrou os olhos, parecendo preocupado com a mulher. Depois, sorriu ao reconhecê-la.

— Ah... você me assustou... — Fernando conseguiu ouvi-lo nitidamente do seu apartamento. A mulher continuou caminhando em passos rápidos em sua direção. — O que faz na rua tão tar...

Ele não terminou a frase, pois ela tirou uma lâmina reluzente do bolso de seu moletom e a cravou contra a barriga de Roberto, o fazendo soltar um gemido alto de susto e dor. Sangue jorrou.

Pasmo, Fernando tapou a boca com as mãos e se abaixou com tudo, encostando as costas na parede e tremendo. Ele estava segurando a garrafa de cerveja com força e acabou deixando o cigarro cair na rua. Será que eles me viram?, ele pensou, entrando em desespero mentalmente. Aquela garota esfaqueou mesmo Roberto? Eles se conheciam? O que estava acontecendo?

Fernando não estava se sentindo nada corajoso naquele momento. Ele sentia uma forte vertigem e medo. Seu vizinho estava sendo esfaqueado na sua rua e tudo que ele podia fazer era ficar escondido abaixo da janela, tremendo. Com a mão livre, ele agarrou seu celular no bolso e começou a discar o número da emergência. Aos poucos, levantou-se e olhou para a rua novamente; deixando visível apenas seu rosto do nariz para cima.

Então, ele viu que as duas pessoas na rua haviam sumido. O ambiente continuava deserto, silencioso e normal. Ninguém estava esfaqueando ninguém. Não havia sangue. Não havia sinais de luta. Nada.

Suspirando de alívio, Fernando desligou seu celular antes que alguém atendesse. Ele refletiu que estava na hora de tentar dormir novamente. Havia bebido demais naquela madrugada. Sua falta de sono e embriaguez já o estavam deixando maluco.

Cambaleando, ainda um pouco aturdido pelo susto, ele caminhou até o interruptor e apagou a luz. Deitou-se naquele sofá gosmento, agarrou o controle e desligou a televisão, cessando os gemidos das mulheres do filme pornô. Por fim, pousou o controle na mesa de centro e agarrou um amontoado de roupas do chão. Colocou o monte no braço do sofá, para utilizá-lo de travesseiro improvisado e desconfortável. Assim que Fernando deitou sua cabeça, uma das peças deslizou suavemente para o chão e ele esticou a mão para agarrá-la. Assim que puxou, viu que era um vestido de ceda vermelho. Estranho... pensou ele; não me lembro da última mulher que eu trouxe para cá...

Por algum motivo, teve uma lembrança rápida e distorcida de uma mulher ruiva, que não via há meses. Gelou ao pensar na mesma mulher ruiva que ele via todas as madrugadas. Balançou a cabeça, tentando afastar esse pensamento. Não podia ser isso. Aquilo era apenas mais um delírio da sua cabeça que está sem dormir.

Suspirou e soltou o vestido com desdém, fechando os olhos e mergulhando para dentro de seus sonhos.

A Assassina da Minha Rua (CONTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora