Fernando acordou com um pulo quando bateram com força em sua porta. Ele se sentou com a coluna ereta no sofá, ainda atordoado e sonolento. Esfregou o rosto com as mãos sujas e se arrependeu instantaneamente de ter feito isso.
Sua barriga estava roncando de fome e ele conseguia sentir o hálito ruim dentro de sua própria boca. Sentia-se horrível e com fortes dores de cabeça. Parecia que a arqui-inimiga de Fernando chegara: a ressaca. Sua garganta ardia um pouco. O dia lá fora estava cinzento e parecia que estava chuviscando. Como ele esquecera de fechar a janela de madrugada, o frio entrava violentamente. Não sabia que horas eram, mas tinha a sensação que já passara do meio-dia.
Bateram novamente na porta, dessa vez, mais forte. Isso fez o pobre homem se levantar num ímpeto e tropeçar nos próprios pés. Ele foi de forma totalmente descoordenada até à porta e se apoiou na parede de madeira. Balançando a cabeça, atordoado, levou a mão livre até a maçaneta e a puxou com lentidão. Do outro lado, estavam dois policiais fardados.
O coração de Fernando parou por um instante. E, quando ele analisou melhor os dois homens, percebeu que conhecia um deles. A vontade de vomitar foi grande, mas ele resistiu.
— Fernandinha? — falou Carlos, dando um sorriso de deboche.
Carlos estudara com Fernando. Eles haviam perdido contato depois da escola. Era um homem de cabelos negros, um pouco gordinho e com bastante barba. Não havia mudado muito desde a última vez que os dois se encontraram.
Fernando ficou irritado com o deboche de seu nome, o que acarretou em uma dor de cabeça mais intensa; como essa brincadeira idiota podia continuar depois de tantos anos?
— Olhe os modos, Carlos — repreendeu o outro, lançando um olhar sério para o parceiro.
Este era negro, tinha o cabelo bem curto nas laterais e era bem grande. Ele segurava uma pasta fina azul.
— Desculpe — disse Carlos. — É que nós estudamos juntos...
— Está em horário de serviço, não deve tratar os envolvidos no caso dessa forma, como se fossem íntimos... — A tonalidade da voz do policial pareceu se engrossar e ficar mais séria, fazendo Carlos abaixar a cabeça, envergonhado. Ele murmurou um pedido de desculpas. Fernando ficou feliz em ver seu ex-colega se sentindo humilhado, porém evitou sorrir para manter a atmosfera séria.
— Caso? — ele perguntou, sem se importar se estava despejando seu bafo de álcool e fome para cima dos policiais. — Que caso?
Os dois pareceram um pouco hesitantes e tiveram uma rápida troca de olhares.
— Podemos conversar? — indagou o homem que ainda não tinha um nome.
Fernando assentiu e os três se encaminharam para dentro daquele lugar horrível que ele chamava de casa. Apesar de tudo aquilo ser uma vergonha, ele não se sentia envergonhado. Os policiais examinavam o ambiente sem esconder a repulsa que sentiam nas expressões faciais. Carlos engoliu o próprio vômito ao ver a pizza de três semanas atrás.
Os homens não se sentaram, apesar de Fernando ter oferecido seu sofá gosmento. Dava para perceber que os dois não viam a hora de sair daquele apartamento correndo.
— Bom... — começou a falar o homem sem nome. — Eu me chamo Júlio e vim para tratar sobre seu vizinho, Roberto. Parece que o síndico do prédio veio procurá-lo essa manhã e não o encontrou. Tentou ligar para o celular, mas ninguém atendeu. Então, ligou para um dos amigos dele e ficou sabendo que ninguém estava conseguindo fazer contato com ele desde que ele chegou esta madrugada no prédio. Além disso... a manhã toda, ouvi alguns vizinhos dizerem que uma mulher ruiva encapuzada estava colocando estes cartazes... — Retirou uma folha de dentro da pasta azul e me mostrou. — Por toda a vizinhança.
O cartaz mal feito se tratava de uma foto do rosto de Roberto com as palavras:
DESAPARECIDO!
Roberto Antônio dos SantosFernando engoliu em seco e relançou os olhos para o policial, que guardou o cartaz de volta na pasta.
— Bem, ninguém viu direito o rosto da mulher — continuou Júlio —, algumas pessoas disseram que ela não era ruiva e poucas acharam que era um homem. Também houve relatos que ela estava usando um moletom manchado de algo vermelho. E... bem... como ele era seu vizinho, talvez possa nos dar alguma informação para podermos encontrá-lo...
— Vocês não vão encontrá-lo — Fernando disse, frio e pensando nas palavras que está prestes a dizer. Ele sabia o que tinha acontecido com seu vizinho. — Roberto está morto.
*Olá, pessoal!
A última parte desse conto sairá na segunda-feira, com a revelação e o plot twist. Espero que tenham gostado até aqui e que eu tenha deixado vocês confusos e curiosos rs.
Comentem! <3*
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A Assassina da Minha Rua (CONTO)
ContoFernando está desempregado há 3 meses e sua busca por um emprego o deixa cansado, mas ao mesmo tempo não o deixa dormir. Com a insônia reinando em sua cabeça, ele passa a maioria das noites acordado, olhando pela janela de seu apartamento, fumando c...