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Para Aristóteles, existiam três tipos de amizade. A amizade segundo o prazer, a segundo a utilidade e a mais perfeita de todas, a por virtude e além disso, só os bons teriam a última. Acho que eu e Michael fomos abençoados no dia que nascemos, porque nós temos essa amizade por virtude desde que tínhamos exatos cinco anos de idade e eu joguei um lápis na cadeira de um menino que ele não gostava.

É engraçado observar que a maioria das amizades se desgasta ao longo do tempo e isso é com todo mundo. Acho que é porque estamos em constante mudança, principalmente na adolescência, e tentamos achar quem somos e em qual grupo nos encaixamos. Eu e Michael já tivemos nossa fase desgastada, porém foi um período em que eu não estava na escola por motivos de saúde. Após o período de estranhamento e de autoconhecimento, voltamos a ser Ash&Mikey, os inseparáveis.

Enquanto procuro um pijama e escovo meus dentes, fico pensando em quantas pessoas eu já observei tendo amizades por virtude e concluo que são menos de cinco. Ou até menos de três, não tenho certeza. Hoje em dia as pessoas querem ser algo que elas não são só para provarem ser merecedoras de amizades falsas e com contatos para festas e bebidas.

Calum Hood é desse tipo. Ele tem dezessete anos, é muito inteligente, curte vários tipos de jogos e é apaixonado em História e Filosofia, tanto que já o ouvi falar que vai tentar ser um professor de uma dessas matérias, mas ele estava muito bêbado nessa ocasião e aposto que nem lembra do ocorrido. Eu acredito que ele vá ser um grande professor, caso ele realmente tentar. Para impressionar seus amigos, o menino insiste em parecer burro, não presta atenção nas aulas e arranja brigas desnecessárias com qualquer pessoa, mas ele protege muito Luke Hemmings e cultiva um carinho muito grande pelo garoto, talvez seja a única amizade por virtude dele. Acho que Aristóteles ia ficar confuso com Calum Hood, assim como eu fico.

No dia seguinte, sou acordado com um alarme, indicando que já são seis e meia da manhã e que eu vou me atrasar se continuar molengando na cama. Como está muito frio, só boto meu casaco em cima do pijama e uma calça jeans e vou correndo tomar um café antes que Michael chegue buzinando e acordando a vizinhança toda.

- E aí, cara? Tá de ressaca também ou sou só eu? – Pergunta o menino assim que eu sento no banco do passageiro.

- Hm, acho que tô de boa. Você ficou de pegar uma bebida pra mim e nunca mais apareceu também...

- Quando eu fui lá, você tava conversando com o Luke, achei melhor não atrapalhar.

- Não era nada demais, apenas aquela conversa bem típica de festa.

- Tipo oi, você quer ficar comigo?

- Não, Michael! Você sabe que ele fica por aí procurando a pessoa certa e eu só acho isso curioso. Ele falou um pouquinho disso e foi embora.

- De longe parecia que ele tava flertando com você.

- É que eu sou a pessoa mais linda de todas, sabe? – Eu respondo, gargalhando.

Michael sabe que eu não quero me envolver com ninguém e respeita tanto isso que eu fico pasmo. Ele também não é de ficar com as pessoas, mas já beijou mais do que eu, o que não é difícil, já que eu raramente demonstro interesse nas pessoas nesse modo. Só tive o desprazer de fazer isso uma vez em todos os meus dezessete anos e foi mais pra entender porque todo mundo gosta de fazer isso. Não entendi e ainda saí babado, querendo vomitar.

Uma vez Michael me disse que foi porque o meu beijo não combinou com o da pessoa e que é muito bom quando combina e você sente atração por ela. Eu acredito nele, mas sinceramente, foi meio traumático. Um dia eu sei que não vou lembrar mais disso, mas eu lembro nitidamente de como foi.

- Você tem que ouvir essa música! Alguém botou pra tocar na festa, é foda! – Diz Mikey, aumentando o rádio.

- Caralho, que música boa! Qual o nome?

- Hold me in your arms, de um cara chamado Rick Astley.

E eu simplesmente estou feliz nesse momento. Não sei se é por causa da música, porque a minha amizade com o Michael é muito boa ou se era porque eu vi algumas pessoas que eu gosto da escola sorrindo.