19 de Abril de 1968, (semana santa), nossa família era muito pobre, morava-mos em um pequeno sítio de cinco hectares na divisa do Paraná com Santa Catarina, mais precisamente na Serra do Tateto dentro do Município de Marmeleiro.
O que nós produzíamos no sítio mal dava para comer, eu, quatro irmãos e a mãe, separada do pai há muitos anos.
"Semana santa a gente tem que comer peixe." Falou meu irmão mais velho Jocelino, eu Marco Antônio de Almeida, o mais novo dos homens da casa com doze anos, já que a caçulinha da família era Maria do Carmo com apenas seis anos, disse: "Vamos pescar por que não temos dinheiro para comprar."
A mãe interveio: "Olha aqui "Marquinho", agora não da mais tempo, hoje é quarta feira, e o único rio que da peixe de fato é o Rio Manoel Velho, que fica há 30 Km daqui."
Era quase vinte horas, e já estava escurecendo, e a única iluminação que tínhamos em casa era um lampião a querosene. Como a mãe não estava por perto, Jocelino, voltou a falar olhando fixamente para a chama: "Só tem um jeito, se nós sairmos amanhã de madrugadinha, perto das quatro horas, chegaremos lá em torno de dez e meia da manhã sem nos cansar e os cavalos." Tínhamos que nos preocupar com isto, já que os cavalos eram nosso único meio de transporte. Jocelino tinha um cavalo zaiano muito bonito, o meu era um potro alazão domado por mim, tordilho negro era do meu outro irmão Pedro.
A mãe chegou sorrateiramente sem que percebêssemos e escutou que nós estávamos cochichando, então falou em um tom áspero: "Vocês não estão pensando em pescar naquela distância? Mesmo porque eu já disse que é muito tarde para isso! Amanhã já é quinta e na sexta feira santa . . . Deus me livre, vocês se pegarem lá naqueles cafundós, longe de casa, e eu já avisei que nesse dia a gente tem que ficar em casa recolhido fazendo nossas orações, porque nesse dia Jesus Cristo está morto, e lá fora quem manda é o outro! (O Belzebu). Vocês não podem pescar lá na barranca do rio de Quinta para Sexta feira santa da paixão de Cristo! Se vocês forem vão se arrepender disso, não teimem com a mãe eu sei o que to falando. E ta encerrado o assunto."
Meu irmão Jocelino levantou-se, nos fez um sinal e desceu para o porão de nossa casa, eu e Pedro o seguimos, Jocelino acendeu outro lampião que estava lá e acertamos a pescaria. Arrumamos as tralhas, linhadas de mão, esperas, espinheis e alguns pelegos velhos usados para nossas pescarias.
Então saímos às três e trinta da madrugada de Quinta feira!
A VIAGEM
Uma viagem longa por uma estrada de cão que passavam alguns caminhões Ford e Chevrolet buscando porcos e madeiras nos matos.
Depois de uns vinte Km o que era apelidado de estrada ficou ainda pior, e tinha vegetação alta no meio, porém percebia-se que por ali a muito tempo não passava ninguém, aquele carreador era usado por safristas que criavam porcos nos matos e depois levavam em tropeadas para vender no comércio mais próximo.
Chegamos na barranca do rio por volta das dez horas da manhã, um rio de muitas corredeiras, mas também alguns pontos represados e fundo.
"Ali da muito peixe!" Disse meu irmão mais velho.
Havia uma cachoeira aos pés de uma grande árvore, parecendo ter sido acampamento de tropeiros a muito tempo.
Nesse ponto, ajeitamos nossas tralhas e pegamos nossas linhas de mão e esperas. Meu irmão mais velho falou para Pedro: "Você providencia as iscas!" Já que não deu pra levarmos de casa, pois saímos muito cedo.
Em pouco mais de vinte minutos, Pedro voltou com uma lata cheia de minhocas.
Para atravessar para a outra margem do rio, havia um lugar bem raso, porém, um grande lamaçal que com certeza por ali passavam os poucos tropeiros que usavam aquele caminho, e era bem em frente do nosso acampamento.
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História Verídica
Mistero / ThrillerVocê acredita no obscuro? Já sentiu que alguém lhe observa mesmo quando não existe ninguém por perto? Quando apaga a luz do seu quarto à noite tem a nítida impressão de que tem alguém por perto? Isso revela que mesmo que inconscientemente você acred...