Mensagens Para Ela

Capítulo -6

Alguns dias depois, eu lembro de ter tentado levantar da cama, no meu quarto.

O estranho era que... Eu não lembrava de ter ido para casa.

Fiz força para me erguer e quase cai no chão. Minha perna estava engessada. Sai do quarto e desci as escadas me apoiando nos móveis e na parede. Não tinha ninguém lá.

Me sentei no sofá, o dia não parecia dia. Parecia noite.

Um jornal estava sobre a mesa.

Estranhei. Nunca comprávamos jornais.

"Festa anual termina em morte".

Meu coração apertou como uma laranja em um espremedor, minha respiração me enganou, estava ficando sem ar.

Peguei o celular que estava por perto e iniciei uma ligação enquanto lia a matéria.

Começou a tocar.

"Na madrugada...", o dia estava borrado com água, mas era algum qualquer dia de março.

Chamando...

"Um acidente de carro levou a vida de três jovens. Raphael Monteiro, de 17 anos"

Chamando...

"Fábio Teixeira, de 18 anos"

Chamando...

"E Lin Sayuri, de 15 anos..."

Lin.

Sayuri.

Ninguém nunca a chamava pelo segundo nome.

Quantas Lins Sayuris existiam no mundo? Quantas Lins tinham ido para A Festa? Quantas Lins haviam entrado num carro, na festa, em algum dia de março?

...
A única Lin.

A minha Lin.
...
Alguém atendeu o celular, um alô fraco e rouco que parecia ser da senhora Hildegard.

"Quem é? Sam... alguma amiga da Lin?", a pessoa chamou.

"Sou eu... Tia Hilde... a Amanda".

"Amanda!... Você já...?".

Eu não consegui continuar com aquilo, a voz dela dava pena.

A minha voz dava pena.

Aquela ligação dava raiva.

Aquele acontecimento dava ódio.

...
Eu desliguei.

Eu me calei.

Eu chorei.

Eu dormi.

Eu acordei.

E você continuava não estando lá.

Você continuava num caixão, o qual eu nem sequer pude ver a cor.

Continuava me devendo uma conversa e um beijo.

Tanta coisa continuava.

Tanta coisa continuou.

Menos você...

Eu nem ao menos sei em que dia de março essa porra toda aconteceu.

E não quis saber...

Não agora.

Quando eu for para Barcelona, você me contará?