Capítulo -7 (fim)

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Começar como sempre, depois de lembrar de tudo isso, seria sem sentido.

Tão sem sentido quanto o que ocorreu em 8 de agosto de alguns anos atrás.

Eu descobri o dia, viu?

Era meio que minha realização pessoal descobrir... Não demorou muito.

Só uns 3 anos.

Sabe o que encontrei hoje? Enquanto conversava com as enfermeiras sobre remédios, eu estava sentada na minha cama, que tem cheiro de outros pacientes, e olhei para minhas pernas.

Há uma cicatriz.

Mas não é a de quando quebrei a perna, daquele dia...

É da primeira vez que fomos para a casa da Bruxonilda.

Pulamos o muro de forma tão desengonçada, que meu vestido favorito, o qual eu estava usando no dia, ficou preso num pedaço de tijolo desprendido da parede, e rasgou. Cai de joelhos, e em um dos lados uma cicatriz ficou, pois cai em cima de um pedaço de vidro. De uma das garrafas que os jovens bêbados jogavam.

Eu ri. Você ficou desesperada. Pegou sua bandana novinha e amarrou no meu joelho, para parar de sangrar.

Sua preocupação foi tão linda.

Você era tão linda.

...

Não sei de onde tirei coragem para fazer o que fiz.

Peguei eu seu rosto, quase tremendo, como se você fosse um boneco de porcelana muito delicado.

E quem sabe realmente fosse.

Meus dedos passearam por sua bochecha, suas mãos estavam apoiadas no chão, e seu corpo quase sentado em cima do meu.

Nossos rostos tão próximos um do outro, que não sabia onde terminava meu rosto e onde começava o seu.

Nossos lábios mal se tocaram.
E começaram a se mover, muito lentamente.

Quase não foi um beijo.

Mas foi.

E muitos outros vieram depois desse.

Mas você ainda me deve um.

E uma conversa.

E eu te devo uma explicação.

Hospital, enfermeiras, cama com cheiro de outros pacientes... Todas essas cartas.

...

Lembra de quando disse que alguém havia me dito que seria bom escrever para você?

Esse amigo está aí com você?

Como ele foi recebido em Barcelona?

...

Ele partiu alguns dias antes de eu começar a escrever.
O problema dele era diferente do meu, mas ele me ajudou, e disse que não era para eu tentar fazer algo comigo mesma nunca mais.

Não é nada muito sério, mas eu tentei suicídio.

É apenas minha fuga, que nunca dá certo.

Infelizmente, eu não sou como aquelas personagens principais de filme ou livro de câncer, que são fofas e boazinhas, ou que se tornam melhores por ter quase morrido.

Eu continuo sendo a mesma pessoa babaca de sempre, e não fiz muito esforço para ser alguem melhor desde a sua partida..

Eu só quero saber...

Em Barcelona, as pessoas podem se casar?

Eu quero me casar com você, ter vários coelhos e cachorros em casa, sair nua por aí e me esconder de todos no "Canto da Sam".

Quero observar Tory.

Quero saber quanto tempo vai demorar para ela vir a Barcelona.

Quero uma vida com você.

Mesmo que após a morte.

Quero aproveitar algum qualquer dia de março.

Quero muita coisa.

Mas principalmente, quero você.

...
Sinto que as palavras ficarão quase ilegíveis...

Minha mão está trêmula...

Sinto que estou indo embora.

Finalmente conversei com minha mae... Ela me permitiu viajar, mesmo que ela tenha ficado triste em ter que aceitar...

Vou para Barcelona.

Então vou aproveitar esses últimos minutos para me dedicar a dar um tutorial. Já que não vou conseguir enviar essa carta, e nem conseguirei levar comigo.

Para a pessoa que for enviar essa carta:

1- pegue um balão, não qualquer balão, o amarelo, o que tem a cor preferida da Lin.

2- Pegue o barbante resistente, e após encher o balão com gás, amarre-o.

3- Espere as estrelas surgirem no céu, e então, amarre essa carta ao balão com barbante.

4- Deixe o balão flutuar.

5- observe o balão flutuar e chore pelo balão flutuante.

6- sorria por nós.

E, por fim...

7- Venha, algum dia, nos visitar em Barcelona.

Fim.

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