Capítulo -5

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Querida Lin, 2022. Março, qualquer dia.

Hoje eu me senti triste, ainda não fui para Barcelona, o que me dá chance de terminar a história e de ouvir mais alguns choros da minha mãe. Eu me sinto realmente mal por não parecer me importar com os sentimentos dela, mas eu apenas não vejo mais tanto sentido em viver.

E não vejo mais sentido em tomar soro todo ano, sempre no mesmo mês.

Pregos, tinta amarela...

Carro, homens...

Eu, você, Tory...

...
Caminhávamos em direção ao carro vermelho, estávamos sorrindo de excitação.
"Eu realmente não posso deixar ele se aproveitar dela assim, ela merece alguem melhor", você cochichou, eu concordei. Tory queria saber do que estávamos falando, apenas demos de ombros e continuamos andando.

Um, dois, três passos.

Chegamos em frente ao carro, ao lado dele, Rapha esperava.

"Trouxe companhia, bebê?"

Você chegou a dizer que estávamos de saída, e que apenas viemos trazê-la até o lugar. Ele sorriu.

E foi de forma retardadamente estranha. Estava bêbado e talvez algo mais. Na sua mão, um cigarro, o qual ele deu uma última tragada e jogou no chão. Se aproximou de Tory. Ela era alta, mas estava encolhida.

Ela estava com vergonha e receosa.

"percebeu agora que foi uma ideia terrivel?", falei baixo comigo mesma.

Tory tinha um sexto sentido foda para detectar quando algo de ruim estava prestes a acontecer. Percebendo isso, todas nós nos afastamos um passo.

"O que eles estão fazendo aqui?"
Tory perguntou, e só então percebemos outros garotos saírem do carro. Contei três, incluindo Rapha. As portas foram abertas, e dois dos caras nos jogaram dentro no veículo. Reclamamos. Eu não estava entendendo nada.

E então Rapha e os outros dois garotos entraram no carro. Você estava no colo de um deles, e esse tentava beijar seu pescoço. Você estava tão puta com aquilo tudo. Eu me debatia e tentava me desprender daquele que me segurava.

Você abaixou rápido e tirou um dos pregos escondidos na minha meia, sem que ele percebesse. E aguardou. Tory estava no lugar da frente. Perguntando que caralhos estava acontecendo. A mão nojenta de Rapha passeando pela sua coxa, enquanto o carro estava em movimento, saindo do estacionamento e ganhando velocidade.

Ela tentou pegar seu celular. "Chega disso, nos deixe ir". Mas Rapha tomou de sua mão e arremessou para fora do carro.

Eu percebi que as portas não estavam travadas, e num movimento rápido, abri a porta ao lado de Tory. "PULA", lembro de ter gritado.

O carro estava indo rápido, mas mesmo assim ela saltou.

Rapha gritou, você também. Ele fechou a porta do carro com força e deixou pra lá.

Eles riam alto. Gargalhadas esganiçadas e doentes.

Eu recebi uma pancada na cabeça, o garoto que me segurava havia me dado um soco.

Me virei para arranhar sua cara, me debatia nervosa. Você pegou o prego e enfiou no braço do que te segurava.

Alguém abriu a porta ao meu lado, eu segurei em sua mão para não cair.
O garoto segurava para não te soltar, o que antes me segurava já havia caído.
Foram alguns segundos de desespero.

O carro rodava pois Rapha havia perdido o controle.

"Você sabe o que vai acontecer" você disse.

Eu me assustei instantaneamente, "você disse iríamos conversar hoje!".

...
"Depois".
...

E então...

Você soltou minha mão.

A porta se fechou.

Eu cai e rolei rápido pelo chão.

Minha cabeça sangrava.

Vi quando tentou pular pela janela, mas foi segurada.

O carro estava prestes a bater em uma árvore.

Não sabia nem em que parte da cidade estávamos.

E então você gritou.

As rodas derraparam.

O carro bateu.

Tentei levantar do chão como pude, minha perna doía e minha cabeça latejava.

Lembro apenas de partes cortadas após isso.

Eu desmaiei. Fechei os olhos. Abri os olhos. Havia gente por perto, luzes vermelhas, ambulâncias e viaturas.

Fechei os olhos. Abri os olhos.

Estava em uma maca. "Perna fraturada". "É minha filha!". "Se afaste".
Vi minha mãe, de forma embaçada, sendo segurada pôr meu pai.

E luzes, mais uma vez luzes.

E fechei os olhos.

E não lembro de quando os abri novamente.

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