Capítulo 1
Apenas o teclar incansável do policial atrás do balcão era audível naquela sala alva, as cadeiras anis pregadas na parede impedindo qualquer alteração, o cômodo, decorado com plantas artificiais cobertas de poeira, naquele local álgido, mais duas mulheres se faziam presentes.
Uma um tanto roliça, de aparentar certa maturidade, cabelos negros amarrados de modo desleixados, a pele branca estava envelhecida e os olhos castanhos, apagados, por uma dor oculta, padecimento este que nenhum ser humano gostaria de vivenciar. A outra, ao seu lado, muito mais nova e insossa, deixava escapar de seus olhos índigos lágrimas, sofrimento era visível em sua expressão, assim como a mulher ao lado os cabelos negros e curtos estavam desalinhados.
Ambas vestiam-se em desleixo e não ligariam para qualquer tipo de julgamento alheio que lhes fossem dirigidas. A sala e o policial indiferente ao choro ou olhar de tristeza, deteriorava a aparência das mulheres, até um segundo policial se fazer presente no cômodo:
ㅡ Márcia Tessari. ㅡ Anunciou o homem fardado, corpulento e calvo, não aparentando simpatia pela expressão.
A mulher mais velha levanta-se com certa dificuldade e segue em direção ao policial para a sala de interrogatórios, enquanto a mais nova esperaria ser chamada. Seguiram por um corredor um tanto estreito da mesma tintura da sala de espera, até entrarem em uma sala com pouca luminosidade, a mesa de centro com três cadeiras, o polígrafo e um criado mudo no canto eram as únicas mobílias do cômodo. No centro da parede direita, encontrava-se um espelho grande.
Marcia acomodou-se na cadeira de plástico preto e desconfortável , enquanto o policial posicionava os fios em torno do tórax, dos dedos, além de algo que lembrava o esfigmomanômetro em seu braço direito. Assim que finalizado o procedimento outro policial entra na sala para começarem o interrogatório:
ㅡ Então, vamos dar início ao interrogatório, responda as perguntas honestamente sem fazer sinais, a senhora Tessari está pronta? ㅡ Pergunta o policial que havia acabado de entrar na sala, de aparência mais branda.
ㅡ Sim. ㅡ Respondeu a mulher com a voz embargada.
ㅡ O seu filho demonstrou algo suspeito, como nervosismo ou ansiedade durante o tempo que morou em sua casa?
ㅡ Somente a dois dias atrás.
ㅡ Ele tentava fugir?
ㅡ Sim.
ㅡ Ele disse algo sobre para onde iria?
ㅡ Não.
ㅡ Você sabia ou desconfiava que o motivo a fuga dele seria por ato de terrorismo e atentado contra o governo?
ㅡ Não.
Os policiais respiraram fundo ao perceberem que a mulher dizia verdade, isso significaria um retrocesso ao processo de perseguição aos rebeldes:
ㅡ A senhora sabe que seu filho morreu, culpado, por trazer desordem ao governo e por ser um terrorista que merecia morrer pelo bem da nação?
A mulher então fixou o olhar num ponto da sala, sem de fato olhar, mas também não respondia a pergunta que lhe fora feita:
ㅡ Responda! ㅡ Berrou o policial truculento, assustando Macia.
ㅡ Meu filho não morreu! ㅡ A mulher berra em resposta. ㅡ Ele vai voltar, eu sei que vai... ㅡ E continuava murmurando estas palavras, como uma oração desesperada de que fosse verdade.
O policial mais calmo anota algo em sua prancheta, enquanto o outro retira os fios que estavam conectados na mulher encolhida de olhos arregalados, que sussurrava a mesma frase incansávelmente.
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NULLA
Ficção GeralUma nova ordem mundial foi instaurada, agora as regras são diferentes. A narrativa acompanha a vida de Fernanda, que era apenas uma garota comum, até que seu irmão foi morto, acusado de terrorismo contra o Estado. Após esse infeliz acontecimento, re...