Além das Estações

I

   — Bom dia. — Digo ao me sentar na mesa do café da manhã.

   — Bom dia, Emma. — Os dois falam em uníssono. — Animada para o baile de hoje? — Meu pai pergunta levando a xícara á sua boca.

  — O que você acha? — Pergunto irônica— Devo estar realmente muito animada para conhecer o meu noivo arranjado. — Solto, sarcástica.

  — Filha, não fale assim com seu pai! — Minha mãe me repreende — O príncipe do verão é um homem de bem! Você já tem 20 anos, na sua idade eu já tinha você.

  — Mas, mã.! Eu não quero me casar. — Digo me levantando da cadeira, impaciente

  Subo para meu quarto, ignorando eles me chamando. Me jogo na cama e dou um grito de raiva, que é abafado pelo travesseiro. Eles falam desse baile a semanas, eu já não aguento mais. Por quê eu tenho que me casar com aquele tal de Baelfire? Eu nem conheço o rapaz. Pelo que sei, estamos destinados desde que crianças.

  Mesmo sabendo que iríamos nos casar de qualquer jeito, sempre me imaginei casando com meu amor verdadeiro, uma pessoa por quem eu mataria, por quem eu morreria. Sabendo que ele faria o mesmo por mim. Sei que é bobeira, mas eu realmente quero alguém pra eu amar de verdade.

  O meu único amigo dos quatro reinos é August, príncipe invernal. Sempre que preciso falar com ele, nos encontramos no centro. O ponto de limite das quatro estações. Lá existe um salão para as reuniões dos reinos. Lá é como a junção das quatro estações. É lindo.

  Nunca conheci a princesa do Outono, ela nunca sai do palácio. Seu nome é Belle, e isso é a única coisa que sei sobre ela.

  Vou até a varanda do meu quarto e vejo, bem distante, os pinheiros cobertos de neve do reino do Inverno. Por  mais que ame as flores, a neve e o clima cinzento sempre estará em um lugar especial no meu coração. As vezes é entendiante sempre ver flores, são lindas, mas se tornam chatas. Sinceramente, eu queria muito ir até o Outono ou ao Inverno, tanto faz. O Verão é igual aqui, sempre a mesma coisa, nada de menos e nada de mais.

  Certo, hora de desabafar com August.

  🌸  

   Tiro o meu vestido, coloco minha roupa de montaria e prendo meu cabelo em um rabo deixando alguns fios da minha franja soltos, desço a escadaria discretamente e saio pelas portas dos fundos, onde eu encontro os cavalos presos. Pego uma barrigueira e começo a preparar o cavalo. 

  Quando subo no animal, escuto uma voz me chamando, Graham.

  — Vossa Alteza? — Ele me chama ao me ver saindo do estábulo.

  — Graham  — Assinto e logo começo a galopar em direção ao centro.

  Sinto o vento contra meu rosto e me permito sorrir com a sensação que me causava. Depois de alguns minutos já conseguia sentir um pouco do frio. Os antecessores cometeram um pequeno erro, os palácios ficam muito perto do limite, o quê facilita muito uma fuga ou uma invasão. Pensaram muito na beleza e pouco na segurança.

  Paro perto de um lago e deixo Cacique bebendo água — Sim, eu dei nome para o meu cavalo — Vou até uma macieira e pego alguns dos frutos. Dou duas para o meu cavalo e não como nenhuma. Após o Cacique comer, logo pegamos caminho para o centro.

  Percebo que já está escurecendo e, consequentemente, o baile logo vai começar. Com esse pensamente, começo a galopar mais rápido. Aperto o cabresto, piso forte no estribo e dou um tapa no lombo do cavalo. A cada galope, sinto mais o frio do inverno, mas misturado com o calor do verão. Mesmo que eu já tenha vindo várias vezes, sempre é uma sensação nova.

 🌼

A imagem do castelo do inverno se aproxima cada vez mais, mas sinto que não conseguirei chegar, mesmo com o meu casaco mais quente, estou sentindo um frio inexplicável. Balanço minha cabeça para afastar o sono, mas é inútil, aperto os olhos afim de parar de ver os pontinhos pretos, mas também é inútil. Meu corpo fica mole e apenas sinto o impacto do meu corpo contra o chão coberto por neve. Vejo meu cavalo se distanciar e acabo pegando no sono.

        — Comandante, olhe o que encontramos! — Ouço uma voz masculina gritar  — A Princesa primaveril! —"Argh, odeio quando usam essa expressão."

  — A Princesa Swan? — Ouço uma voz rouca com sotaque irlandês. Não que eu já tenha ouvido, mas imagino que seja assim. — Você tem certeza? Por que ela estaria aqui? Ela está em perigo, não está acostumada com o frio. Vou levá-la para o castelo, enquanto isso vocês continuam o caminho.

  Sinto braços me envolvendo e me retirando da neve. Com muito esforço, abro meus olhos lentamente e vejo um homem alto com profundos olhos azuis. Sua expressão se permanece fria, pessoas do inverno não são muito calorosas.
 
  O homem que julgo ser uma guarda percebe que eu estou acordada e me dá um sorriso raso, e eu logo pego no sono novamente.

🌼

    Acordo e me vejo no meu quarto, percebo que não visto a roupa de montaria e sim o vestido de hoje de manhã. Foi apenas mais um sonho louco.