• One •

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Meu corpo tremia por baixo do casaco pesado, minhas pernas balançaram de forma inquieta. Já  passava da meia noite e agradecia internamente por ainda passar ônibus a essa hora. O inverno estava rigoroso especialmente esse ano, o dia não era mais tão iluminado, e as noites eram ainda mais escuras. Haviam poucas pessoas na rua, homens e mulheres saindo de festas, alguns embriagados, outros sóbrios, casais andavam de uma lado para o outro na madrugada de mãos dadas. Sinto um vazio com a cena, em minha mão direita a sacola pesa com uma das minhas futuras distrações da noite, mas aquilo não estava sendo o suficiente. O vazio estava relacionado a alguma fonte de calor, a alguma fonte de um talvez sentimento. Deixo minha visão longe daquilo, virando para algum lugar distante enquanto a fumaça sai dentre meus lábios em um suspiro.

A grande lataria velha logo se aproxima no horizonte. Deixo com que meu corpo se levante e guie-se até o meio fio, meu braço estica dando um leve sinal para o motorista. O homem não parecia muito feliz de estar ali, ao subir comprimento com um simples boa noite, e a resposta conquistada não passará de um grunhido animalesco. Sento-me com o celular na mão, ainda me perguntando do por que estava me submetendo a isso tudo. quando recebi a ligação meu sono já me dominava, não pensei duas vezes quando sai as pressas de casa, talvez nem fosse algo realmente importante, mas era algo mais forte que tudo dentro de mim. E ela sabia disso.

Não foi tão rapido quanto imaginei. Em momentos o motorista parecia se render ao sono. Quando finalmente chego ao destino meu coração fica em paz, a casa era enorme, talvez grande de mais e velha ao extremo para apenas uma pessoa. Os portões eram de ferro já quase totalmente enferrujada, o jardim que no verão e primavera exibia todo tipo de cor e odor estava morto, coberto por neve, e novamente um suspiro. Ajeito com cuidado a sacola antes de passar pelo caminho que leva a entrada do lugar, tocando no pequeno botão que acaba emitindo um barulho por dentro do velho lugar. Até então não havia sinal algum de vida, tudo silencioso, mas finalmente passos até a porta são permitidos serem escutados antes que a porta se abra.

Seus olhos param nos meus, ainda permanece o silêncio. Meus lábios brotam um sorriso, e logo depois nos dela também. Eles eram tão perfeitos, seu formato sua cor, agora era uma gargalhada fraca, e assim como antes ela faz o mesmo. Seus atos são como um espelho, seus fios tem uma coloração dourada, como se realmente fossem fios de Ouro, suas roupas são simples, talvez até um pouco clichê para mim. Tenho vontade de lhe abraçar e dizer que tudo não passa de um momento ruim. Ela havia acabado de sair do banho, algumas gotas de água equilibravam sobre seus ombros. Sua pele era tão macia quanto um tecido de ceda, e apenas percebo isso quando suas mãos percorrem meu braço em toques leves até minha mão, onde entrelaça a sua com a minha. O vazio que antes eu sentia some por alguns momentos, o toque era estranho, mas bom. 

Por dentro tudo era ainda mais  escuro do que por fora. A porta atrás de mim é fechadas e apenas consigo ouvir os barulhos de seus passos, ainda sinto sua pele e desejo ficar assim até que tudo isso termine. A mesma me guia entre os corredores e moveis até o quarto. A cama estava totalmente desarrumada, parte das cobertas estava no chão, os travesseiros em diferentes pontos.  Seu toque muda, sinto por cima de meus ombros, obrigando-me a tirar o tecido grosso que me protegia do frio, um arrepio percorre meu corpo mas permito que ele seja levado. Minha cabeça vira em sua direção e meus olhos não encontram os seus, mas sim seus lábios.

" - Você não vai deitar ?"

ela puxa minha mão e deixa de lado a sacola me levando ate a cama, antes.

" - estava esperando você dizer algo. "

Já sem sapato me sento na cama com as pernas esticadas. os tecidos estavam quentes, mas a parede onde minhas costas se apoiavam eram geladas. Logo depois o corpo da menor junta se ao meu, atravessando a cama e pousando sua cabeça sobre minhas coxas. Ela estava tão perto de mim, eu conseguia sentir sua carne, sentir seu cheiro, quase tudo de sua essência, mas faltava algo que eu sentia falta. Há um leve êxito quando minhas mãos pousam em meu cabelo, deixando uma leve carícia no local. Sua respiração era calma mas pesada, ela estava acordada, sentia que sim, a cada leve movimento a cama emitia um rangido oco, sem palavras, apenas toque. Aquilo já era o suficiente.

Eu sentia meus sentidos desaparecendo. Eu estava perdida, não estava nem ao menos lutando contra toda essa maré, em meu peito um aperto, e antes de fechar os olhos para  tudo isso. Me deixo ser afogada pelas águas.

Mais um dia.

One More Day {(REFORMAS)}Onde histórias criam vida. Descubra agora