Enterrando as mágoas

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...

- Espera te mandaram uma mensagem esquisitona te ameaçando e você não chamou a polícia?

- O que eu podia fazer? Estavam quase na hora de vir para cá para o enterro, não tive tempo para pensar nisto.

- Tá e o que vamos fazer então, não podemos ligar agora estamos no meio da cerimônia, o que me lembra que tem que dar teu discurso a alguns minutos.

- Tá isso tudo tá bem macabro, mas não posso focar nisso deve ser só uma brincadeira de mal gosto.

- Mas o por que demorou tanto pra chegar lá em casa?.

- Bom eu fiquei um pouco chocada, e a vovó tinha chegado então eu tive que fazer companhia para ela, ela me segurou e então a hora passou mais rápido que imaginei só deu tempo de buscar você para levar para o velório.

Entendi, mas eu preciso tirar uma dúvida, por que não chamou a polícia??- Falou  quase berrando.

- Não grita, olha eu não pensei nisto direito, vamos ir daqui a pouco estão me procurando pra fazer o discurso.

Saímos do banheiro, e fomos direto para dentro da igreja, quando chegamos lá dona Merlin estava cantando uma música para preencher o espaço que minha falta havia deixado.

Sentei-me em uma cadeira bem na parte da frente e logo fui chamada para dar o discurso/texto de tristeza, Jully olhou pra mim com aquela cara dizendo em mente que eu iria conseguir.

- Ann, pra começar eu quero agradecer a presença de cada.. cada um de vocês, e quero que saibam que ele adoraria saber o carinho de voc.. vocês por ele. Algumas pessoas o conheciam muito bem, outras nem tanto, mas mesmo sem o conhecer muito bem, cada um aqui já teve algum momento intimo com ele, caso contrário não seria necessário sua vinda, eu mesmo não o conhecia tão bem talvez não seria a pessoa certa para fazer este discurso, mas como filha posso dizer que sou...- Pigarreio- que sou grata, mesmo não conhecendo tão bem, sei que era uma boa pessoa, e ninguém melhor que mamãe pra fazer esse discurso, mais uma vez agradeço a presença de vocês e sei que ele adoraria ver todo esse amor de vocês por ele, obrigado- Passo o microfone para minha mãe que balança a cabeça de um lado para o outro como se estivesse querendo dizer que não, mas insisto e ela sobe.

Enquanto descia eu ouvia minha mãe começando a falar algo que nem me importava tanto, sentei ao lado de Jully que me olhava atentamente, ela realmente não parava de olhar e aquilo estava me incomodando.

- Que foi?- disse sussurrando.

- Como assim o que foi? que discurso foi esse?

- Eu sei lá, eu só queria acabar com isso, sei que ele era meu pai mas não houve sentimento nem aliança forte com ele, ele foi embora quando eu tinha 6 anos e eu mal o via.

- Eu até entendo, mas foi estranho.

- Não faço ideia de como fazer um discurso para alguém que já morreu, nem o conheço direito Juh.

O velório acabou e fomos em direção ao cemitério para que o corpo fosse enterrado, enquanto pessoas choravam a ex do meu pai estava lá se jogando no chão, eu não me surpreendo de não reagir mal a isso eu simplesmente não tive lembranças dele quando criança nem convivência com ele me julguem o quanto quiser mas apenas o vejo como um desconhecido, o choque de perder um pai foi grande de primeira mas segundos depois eu vi que poderia viver com isso, pareço ser fria? ando me perguntando isso, na verdade enquanto vi ele sendo enterrando eu percebi que também estava enterrando as mágoas. Não minhas por ele mas por todo o tempo em que me torturei achando que a separação era culpa minha.. Eu posso até ser fria e estou realmente me sentindo um... um monstro talvez. Eu só sei que enquanto este caixão desce eu simplesmente fico viajando no tempo pensando no quanto isso pode ser importante para o futuro, talvez eu não sinta a falta agora mas depois pode ser que sinta, ou não né?

Do outro lado da sala (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora