2 | Happy Hour

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Don't you wanna come with me?
Don't you wanna feel my bones on your bones?
It's only natural.
- Bones, The Killers

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A vida de escritora era algo deliciosamente solitário e fácil de se acostumar. Anos atrás de um balcão, tendo que mostrar um largo sorriso e um bom humor inabalável foram o suficiente para uma vida. Desde que escrever se tornara minha profissão, não havia do que me queixar: trabalhava em qualquer horário, de qualquer lugar e não precisava comparecer a qualquer happy hour que fosse. Eu não era antissocial, tinha amigos e gostava de me divertir, mas fazer networking não era algo do qual eu me considerava fã. Era a primeira vez que eu iria socializar com os colegas de minha nova área – sem contar o produtor executivo de minha própria série, eu não havia sequer cruzado com qualquer outra pessoa até então.

E lá fui eu, acompanhada de Cris, com a aparência mais apresentável que pude montar e o melhor sorriso que pude colocar no rosto. Afinal, não era difícil de entender: você não precisa fazer amizades em todo lugar, mas é melhor não fazer inimizades. Principalmente se você é novo na cidade, e essa cidade é Los Angeles.

A Viewpoint, agência de Relações Públicas da qual Erick fazia parte, promovia um happy hour para seus agenciados a cada última segunda-feira do mês. Nós estávamos no fim de julho e boa parte das séries da Fall Season já estavam em fase de pós produção – o que, segundo Erick, dava um ar de comemoração àquela noite. Em meio a diretores, atores e outros assessores, pude encontrar rostos conhecidos em cada uma das rodinhas de conversa: Joseph Gordon-Levitt bebia vinho tinto; Elisabeth Moss ria em alto e bom som, junto a Alexis Bledel e Samira Wiley; e Jon Ford segurava uma pequena garrafa de Coca-Cola, enquanto Tina Fey e Paul Rudd bebiam uísque.

Erick fez questão de me apresentar ao máximo de pessoas que conseguiu e eu precisava admitir que ele estava empenhado em fazer com que eu me sentisse bem recebida na nova casa.

— Netflix vai produzir uma série baseada no livro dela — ele repetiu incansavelmente.

Todos sorriam e acenavam, alguns me davam as boas-vindas e outros arriscavam um leve tapinha nas costas. Mas Jon Ford se mostrou mais interessado do que eu imaginava que ficaria.

— Netflix?! É o melhor lugar para se trabalhar — ele disse, sorrindo. — Vai ficar por aqui?

— Sim! — Respondi, mal conseguindo conter minha empolgação. — Vamos precisar fazer algumas externas em Nova York, mas as internas serão por aqui.

— Ótimo! Nos vemos nos corredores, então.

— Humm... Claro.

— Gostei da jaqueta!

Eu usava a mesma saia de couro e uma camiseta preta; a única peça que se destacava na composição era uma jaqueta bomber de paetê dourado, que havia sido escolhida às pressas. Meu coração parou ao ouvir o elogio de Jon. Eu o acompanhei em uma série de TV por anos, mas nem uma tela com a melhor definição do mundo faria jus à sua beleza vista de perto, ele parecia ainda mais atraente do que eu poderia imaginar.

Erick me puxava pelo braço para longe de Jon e eu preferi me afastar antes que começasse a soar como uma idiota. Cris me seguia e fazia comentários discretos em meu ouvido:

— Se eu soubesse que um ator gato fosse melhorar o seu humor, teria levado ele para a reunião de hoje cedo.

Precisei me concentrar para não perder a pose, o que me deixou ocupada o suficiente para não pensar em qualquer resposta em defesa do comentário de Cris. Agradeci aos céus quando Erick colocou uma taça de vinho em minhas mãos. Nunca havia passado tanto tempo sem beber sequer uma gota de álcool, o vinho me ajudaria a relaxar.

Acesso L.A.Onde histórias criam vida. Descubra agora