DESTINOS

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"Que Deuses são esses que festejam meu sofrimento?"

Täira A'laih


Na cobertura da torre central, estavam Täira e Zamea conversando. O sol da tarde aquecia suas peles, mas a brisa não permitia que se sentisse o calor com tanta intensidade. Dali era possível ver metade da cidade, que se estendia por muitos quilômetros até a enorme muralha à beira do desfiladeiro.

Zamea apoiava-se confortavelmente sobre a mureta de pedras e disse:

- Porque você não relaxa um pouco?

Täira franziu as sobrancelhas e disse:

- Como assim? Eu já relaxo bastante.

A feiticeira afastou-se da mureta e ficou em frente à conselheira, imitando sua postura e dizendo:

- Você está assim, toda rígida. Braços rígidos com as mãos sempre delicadamente colocadas na frente do corpo, postura ereta, nunca sorrindo demais. Solte-se um pouco! - segurou as mãos de Täira e deixou os braços da conselheira balançarem ao lado do corpo. Com os dedos, forçou um sorriso nas bochechas da amiga como se estivesse moldando seu rosto e sorriu junto. - Pronto! Bem melhor! Parece que é de verdade agora!

Täira inclinou o pescoço para o lado e contraiu os lábios em desprezo.

- Eu sou de verdade.

- Precisa se esforçar mais de vez em quando. Você fica bem mais bonita assim... parecendo uma humana e não uma estátua.

A conselheira virou-se e apoiou-se na mureta, como Zamea estava antes. A amiga aproximou-se e fez o mesmo.

- O que foi?

- Nada... Só me lembrei de algumas coisas.

- Então não foi nada. Do que se lembrou?

- Penso bastante nos meus treinamentos de quando era criança no meu vilarejo. Aqui tudo é tão diferente! É tudo tão... solto... tão... livre!

- E qual o problema? Não foi justamente por isso que saiu da sua tribo?

- Foi, mas ainda assim sinto que havia uma verdade lá. Sinto que havia um motivo para que tudo acontecesse e fosse da forma que era. Aqui parece que as coisas não fazem sentido e acontecem aleatoriamente. Lá eu me sentia segura e sabia tudo que aconteceria. As coisas eram previsíveis.

Zamea virou-se para Täira e inclinou-se para ficar apoiada apenas em um dos cotovelos. Täira imitou-a e a feiticeira sorriu.

- Está aprendendo a me copiar, o que é um ótimo começo.

Ambas riram. Zamea segurou o braço da amiga e disse:

- Tente movimentar seu braço.

Täira agitou-se, mas a feiticeira a segurava com força e, além de impedir alguns movimentos, ainda a forçava a ir em outras direções.

- Sabe o que é isso? O que estou fazendo com você?

- Me segurando.

- Não. Estou te dando segurança. Você, presa aqui comigo, está segura. Se tentar se mover de alguma forma que possa ser perigosa, eu mudarei a direção. Se tentar fugir, te segurarei para que não se machuque. A única forma de eu te manter segura, é você estando ao meu lado presa a mim.

A feiticeira franziu a testa.

- Não entendo onde quer chegar.

- Eu sei que não entende. Por isso ainda está acorrentada. Toda e qualquer segurança não é libertadora. A liberdade é o inverso da segurança.

Rainha das Imortais - Livro 2Where stories live. Discover now