CONSCIÊNCIA

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"Você precisa de ajuda! Respire e grite!"

Nïla


A feiticeira deixou o prato de comida ao pé do colchão de Nïla na pequena cela e sorriu antes de fechar a pesada porta de ferro. Os trincos moveram-se do lado de fora e lá estava ela, novamente, sozinha.

Estava sentada de costas para a parede, com pés descalços e uma fina camisola. O lugar cheirava a compostos que queimavam as narinas e aguçavam os sentidos. Era como se estivesse flutuando quando estava de olhos fechados, mas mesmo sentindo-se assim, sabia que permanecia em sua jaula. Aquele cheio fazia com que se sentisse mais viva e alerta e era exatamente aquele momento que estava esperando.

- Mir-diadnea... mirdia-dnea... mid-iatnea.

Era esse o nome do composto. Nïla tinha ouvido as feiticeiras conversando sobre aquele cheiro que infestava o lugar e fazia as pessoas se sentirem leves e felizes.

Abriu os olhos e tocou o chão. Não sentia mais o frio do piso de pedras... estava fazendo efeito. Há algum tempo que haviam intensificado o uso do mid-iatnea e aparentemente estavam felizes com isso, pois a feiticeira brava sempre pedia doses cada vez mais altas para que tivessem resultados mais rápidos. Mas resultados para quê? Porque estavam sufocando os prisioneiros com aqueles prazeres?

Respirou fundo e sentiu o ar gelado entrar em seus pulmões. Na segunda vez, o ar estava quente. Na terceira, frio. Na quarta, parecia líquido. Estava quase lá.

Levantou-se com cuidado para não cair, já que todo seu corpo estava dormente. Precisava olhar o que seus membros faziam, pois não sentia nada abaixo do pescoço.

Pegou a sapatilha de couro que deixavam para ela ao lado da comida, vestiu-as e encostou as duas mãos na porta de ferro. Não sabia porque, mas olhar para baixo enquanto estava em pé lhe ajudava a ir. Para onde? Não sabia... mas tinha que ir.

Respirava fundo e sentia o peso do ar líquido em seu peito. Ondas de calor e de frio atingiam várias partes de seu corpo, arrepiava-se sentindo toques em sua pele e suspiros em seu pescoço. As vozes e passos do corredor ficavam distantes, assim como seu corpo. Será que seria como aquela vez que foi mais do que um sonho? Ou foi um sonho tão real que ela se machucou sozinha?

Contraiu os dedos... seus braços começavam a doer e suas pernas formigavam. Não era normal aquilo... nunca havia se sentido assim.

Estava perdendo seus sentidos e não conseguia mais abrir os olhos. Não sabia se estava em pé ou se tinha caído. Se estava acordada ou dormindo. Ouviu vozes se aproximando e não conseguiu conter-se quando começou a gemer. Seu corpo estava respondendo à dor, mas não a obedecia!

- Não! Fique em silêncio! Se elas entrarem, você não conseguirá sair! Te doparão e você dormirá por dias. Respire e grite! Não! Porque eu disse isso? Você precisa sair! Respire e não grite!

O silêncio tomou conta da mente de Nïla. Um silêncio profundo que, de tão intenso, fazia pressão em seus tímpanos.

Abriu os olhos e o ar entrou com força preenchendo seus pulmões até não conseguir mais. Cheiro de terra molhada... água... folhas secas...

A respiração se acalmou e começou a ouvir um som extremamente agradável, com vários tons e variações perfeitamente combinadas. Alguns eram agudos, enquanto outros eram graves. Uns eram particionados e outros, contínuos. Apesar de não saber a origem, não pareciam ameaçadores. O vento chiava por entre as árvores fazendo os galhos se movimentarem e o ar úmido lhe dava arrepios de frio que se misturavam com o calor do sol que conseguia atravessar as copas frondosas.

Rainha das Imortais - Livro 2Where stories live. Discover now