"Eu não vou esquecer"

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Acordo sentindo as pequenas patas passeando pelo meu tronco, Fofinho Lindinho está mais pesado do que me lembro. Faço-lhe um cafuné no pescoço e cabeça, ainda de olhos fechados.

- Está com fome, garoto? - Pergunto ao gato em cima mim, como se fosse receber uma resposta, começo a abrir meu olhos de forma lenta e preguiçosa. A primeira imagem que tenho, são dois olhos verdes, me encarando - Você não é o fofinho lindinho! - O gato estranho chega mais perto do meu rosto e se esfrega em mim, enquanto solta um miado baixo, como se fôssemos íntimos.

Tiro os olhos do bichano e os corro pelo local, tá legal, esse não é o meu quarto.

Quer dizer, se parece muito comigo, mas não é meu. As cores neutras dos móveis, o quadro com a imagem de uma motocicleta e a mesa de som no canto fazem sim, o meu estilo. Mas esse edredom de animal print? Não, obrigado.

Esse, definitivamente, não é o meu quarto.

Mas é o quarto de quem? E porque eu estou aqui?

O gato volta a miar enquanto se aconchega no meu colo e eu decido por lhe fazer um afago. Por mais que tudo seja estranho, eu me sinto à vontade aqui.

Fico alguns minutos ali, pensando nas pessoas que conheço, que poderiam morar naquela casa, quando sou tirado dos meus devaneios pelo telefone que toca no criado mudo.

Eu devo atender? Eu nem sei de quem é está casa. Não vou. Se for importante a pessoa que ligue de novo. O gato sai do meu colo, e o vejo sair do quarto rebolando a cauda. Ele se acha uma diva.

" Oi, aqui é o Otabek- ouço minha própria voz vindo do telefone, quando foi que eu gravei isso? - E o Yuri, - quem diabos é Yuri? - Não podemos atender agora, deixe seu recado que retornaremos assim que possível"

" Beka, você tá aí? - Pergunta a voz do outro lado da linha - Amor você já assistiu ao vídeo? - Amor? Como assim amor? - Beka, nós já fizemos isso milhares de vezes, apenas assista ao vídeo, tá legal? Está no pendrive ao lado cama. - Olho para o criado mudo e vejo o pequeno objeto ao lado de uma plaquinha "me assista" - Eu não posso demorar, Lília está me chamando. Eu odeio não estar aí quando você acorda. Odeio não ser o primeiro a te contar. Apenas saiba que eu te amo. Eu volto esta noite, bem a tempo pra festa do Yuuri. Amor, eu sei que você fica triste, mas veja o vídeo. Se precisar, liga pro JJ, o número dele está no seu celular. Eu preciso ir. Eu te amo Beka. Não esqueça de alimentar a Kira.

Pode me ligar se quiser.Um beijo e bom dia. Não me esqueça!"

Tudo bem, agora tudo está muito estranho.

Sinto uma pontada na cabeça.

Quem é Yuri?

Ele me ama? Eu nem sou gay!

Nós moramos juntos?

Que vídeo é esse que ele tanto fala?

Ouço a campainha tocar, eu nem sei onde fica a porta. Essa não é a minha casa.

Levanto-me da cama e saio do quarto, passando por um pequeno corredor, com duas portas fechadas de um lado e uma aberta do outro, ao lado desta, um quadro grande com três fotografias. Na primeira um bailarino de costas, ele é loiro, está concentrado, apoiado na barra em frente a um espelho, do que deve ser uma sala de dança. Na segunda, o mesmo bailarino está com a cabeça virada para a frente, ainda na mesma posição, ele sorri para a câmera. A terceira é a que mais me pega de surpresa. Sou eu, beijando o rosto do bailarino, tenho um sorriso faceiro no rosto, e fones de ouvido no pescoço. Pareço tão...feliz. O bailarino sorri corado, segurando a câmera, registrando aquele momento.

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