Capítulo 9: Consequências

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― Que está fazendo aqui? ― perguntei em um sussurro urgente pra um Siever sentado elegantemente na beira da cama.

― Como assim? Eu não disse que ia embora! ― A expressão dele fez parecer que era óbvio.

― Como entrou no meu quarto sem ser visto? ― perguntei resignada e me sentei na cama também. Siever ergueu uma das sobrancelhas, como se a resposta também fosse óbvia ― Magia? Certo... certo... ― abanei a mão pra ele imaginando como ele poderia pensar nisso de forma tão trivial e olhei pela janela. O veículo de mamãe já tinha saído do estacionamento. Não tinha mais ninguém em casa. Recostei tristemente a cabeça na janela e chorei.

Depois de um tempo, Siever começou a rir. Eu só pude ficar chocada com a falta de tato dele, mas ele foi mais além. Quando finalmente parou de rir, falou com ar divertido:

― Sabe... você é patética!

Eu só pude deixar o queixo cair. Fiquei tão perplexa que parei de chorar, mas ele ainda continuou:

― Eu estava realmente imaginando que tipo de pessoa você seria, mas você não é grande coisa. É muito fraca e patética.

― Isso, não é uma coisa que se fale para alguém que você mal conheceu! ― eu reclamei ofendida.

― Não tenho culpa... é apenas a verdade...

― VOCÊ ACABOU DE ME DIZER QUE EU VOU MORRER EM QUESTÃO DE DIAS! SEM UM TRAÇO DE DELICADEZA OU TATO! ― não me contive até explodir de repente, transformando todo o medo e angústia contidos em raiva ― MINHA VIDA FOI JOGADA COMO BRINQUEDO NAS MÃOS DE UM LOUCO E DE UM SÁDICO, E VOCÊ ME DIZ QUE SOU OBRIGADA A CARREGAR O FARDO DESSA.... DESSA.... DESSA COISA, PORQUE EU SOU A ENCARNAÇÃO DA ANTIGA GUARDIÃ? EU NÃO SOU ELA, TÁ BEM? ME DESCULPE SE EU SOU PATÉTICA, MAS NÃO ACHA QUE ESTÁ PEDINDO UM POUCO DEMAIS PRA QUE EU ACEITE TUDO ISSO CALMAMENTE?

Quando terminei, estava arfando. Siever tinha ouvido tudo sem mover um dedo sequer. A expressão rosinha ainda dançava em seu rosto.Então apenas fiquei com mais raiva ainda.

― Oh.... finalmente algo interessante! ― disse ele também se levantando ― Eu pensei realmente que você iria aceitar tudo isso calmamente!

Eu tremia de raiva, mas não soube o que dizer, como contestar ou mesmo se eu precisava ou queria contestar, então ele continuou:

― Desde que você chegou lá, você não se posicionou realmente contra o que estava lhe acontecendo. Eu vi uma estranha invadindo meu quarto, e estrangulei você até você perder a consciência! Talvez até tivesse te matado se eu estivesse com um pouco mais de sono, e você ainda me aceitou calmamente depois disso. Você foi torturada e condenada à uma morte súbita, fria e dolorosa, foi recebida com animosidade em casa e mesmo assim, a gota d'água foi eu te chamar de patética?

Ouvi as palavras de Siever e as achei cruéis. O que eu poderia ter feito? Como poderia ter evitado qualquer das coisas que haviam me acontecido? De que adiantaria reclamar agora se nada poderia ser mudado?

A raiva tomou posse então de meus braços e, de punhos fechados, comecei a golpear Siever, que não se esquivou.

― Babaca... ― um soco ― cretino ― depois dois.... dez... já havia perdido a conta, o fôlego e o repertório de insultos quando parei ― eu não tive uma vida ruim... ― as lágrimas voltaram a escorrer frustradas e raivosas e dessa vez virei o rosto para escondê-las ― As coisas que foram piorando por culpa de vocês... eu não queria morrer... eu não quero morrer!

― Então eu não vou deixar você morrer! ― disse ele.

― Como assim? ― Eu só pude sentir muita certeza em sua voz.

Deuses Caídos da CriaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora