Capítulo 5: A boa acolhida

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Eu não tinha me dado conta de que estava completamente faminta até me oferecerem comida. Aparentemente Henry Siever tinha tanto prestígio nesse lugar quanto o rapaz de olhos lilases que intimidava todos os guardas. Assim que terminou de cuidar de mim, Siever mandou me transferir daquele cômodo para uma das suítes nas dependências do palácio. Ele me deu um bom remédio para aliviar o estresse muscular causado pela tortura e um Link novinho em folha para que eu pudesse usar o tradutor simultâneo e me virar sozinha, caso eu precisasse pedir alguma ajuda.

Agora eu estava sentava em uma mesa exageradamente luxuosa provando um riquíssimo prato de carne assada. Móveis de madeira e carne não eram realmente para qualquer um. Em minha casa, ou na casa de qualquer pessoa que eu conhecia, só se comia carne uma vez ao ano, no máximo. Então eu não saberia dizer se a minha opinião estava motivada pela fome, mas essa com certeza estava sendo uma das melhores refeições da minha vida!

Me deram roupas novas e eu tinha agora permissão para andar livremente pelo palácio e pelos jardins, desde que sempre estivesse acompanhada, e Siever vinha me observar pessoalmente com muita frequência. Ele disse que estava providenciando um transporte para me enviar de volta para casa, e que provavelmente estaria tudo pronto até a manhã do dia seguinte no máximo.

Quando a noite finalmente chegou, o que demorou muito, muito mesmo, me caiu a ficha de que este realmente não era o meu planeta. O céu lilás foi se tornando violeta com estupendas rajadas alaranjadas e cinzentas, até finalmente escurecer. A maior surpresa foi que, enquanto em Sátie não se via a olho nu uma estrela sequer em muitos séculos, ali eu conseguia ver tantas... inclusive o disco da galáxia, e até uma nebulosa resplandecente cheia de pontos brilhantes.

— Poluição luminosa nos outros planetas normalmente não nos permite admirar essa visão... — Levei um baita susto. Quando me virei, Henry Siever estava parado bem atrás de mim, olhando para o céu também — Gosta de estrelas? — ele perguntou, aparentemente sem ter se dado conta que eu havia me assustado. A presença constante dele estava me deixando nervosa.

Eu murmurei concordando. Realmente era magnífico vê-las pessoalmente ao menos uma vez na vida. E eu estava adorando essa pseudo-liberdade em aproveitar meu tempo fazendo vários "nadas" diferentes, do que esperar o tempo passar olhando para uma janela falsa em um hospício. E apesar dos pesares, eu me sentia muito mais bem tratada aqui do que em qualquer outro lugar. Na boa... é um palácio! E é "O" palácio!!

— Me fale sobre você! – ele insistiu na conversa. Sentou-se ao meu lado ainda olhando para o céu completamente tenso. Realmente não o entendi.

— Como assim? O que mais quer saber?

— Bom, você não parece muito nervosa para quem atravessou meia galáxia... Como veio parar aqui pra começo de conversa?

— Não faço ideia. Só o que me lembro, como disse mais cedo... foi de estar encrencada no hospital por tudo ter explodido e depois, simplesmente acordei aqui. Eu até imaginei que isso tudo não passava de alguma alucinação!

— O que aconteceu exatamente? — ele insistiu.
Tentei me lembrar direito... aparentemente ele queria detalhes.

— Eu estava no meu quarto no hospital, quando mamãe chegou para receber o resultado dos exames com o médico. Hoje ele iria confirmar se eu realmente tinha ou não esquizofrenia.... — me arrepiei com a ideia de voltar para casa com o resultado negativo. Eu seria escrachada pelo resto da vida por que iriam achar que eu era mentirosa e delinquente — então quando mamãe saiu, as coisas começaram a explodir. A janela espatifou, os monitores ao lado da cama pegaram fogo... a câmera... a bolsa dela...

— Simples assim? — ele perguntou curioso. Parecia realmente interessado na história.

— Simples assim. Depois me colocaram na enfermaria enquanto resolviam a confusão, e quando fiquei só as coisas explodiram de novo... e depois eu estava aqui!

Deuses Caídos da CriaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora