— QUÊ??? — Eu gritei indignada, quase engasgando com um pedaço de biscoito.
— Se todo mundo acreditar que você está morta, será mais fácil levá-la, — disse ele, como se estivesse combinando um passeio à tarde na hora da aula
— Como assim "me levar"? — Minha voz saiu esganiçada e rasgada, ainda tossindo.
Henry suspirou, impaciente. Sua expressão parecia a de alguém que queria explicar processos de Terraformação para uma criança de dois anos enquanto ela assistia programas de tv.
— Existe, eu imagino que saiba... uma ferramenta muito peculiar, em que o DNA das pessoas pode ser cadastrado e assim a pessoa pode ser localizada em qualquer lugar, viva ou morta.
— Sim, sei... foi você quem inventou. A polícia usa para localizar bandidos, pessoas desaparecidas e coisas do tipo — eu respondi aborrecida. É claro que eu me lembrava das aulas de Genética Aplicada, onde o professor, fã de cientistas revolucionários de toda a galáxia, sempre citava as invenções do famoso Siever (caramba! Ainda não acredito que é ele!!!
— Ótimo. Então, se você desaparecesse por muito tempo, as buscas iniciariam com esse aparelho. E ele não iria encontrá-la aqui — Siever cruzou as mãos sobre os joelhos e me encarou com tremenda intensidade. Eu não pude deixar de sentir como se ele fosse realmente alguém muito velho e sábio — A única maneira de um aparelho desse tipo não localizar uma pessoa, é se ela não estiver em um planeta do império, ou se seu corpo tiver sido desintegrado de alguma forma, a ponto de não restar mais nenhum vestígio sequer.
— Então a última coisa que queremos é que você tenha seu DNA cadastrado no sistema galáctico de desaparecidos, ou um escândalo interplanetário sobre sequestros, principalmente vindo do seu planeta, que também sofreu muito com as guerras xenofóbicas. Não vejo como explicar para sua mãe uma forma de levá-la comigo, sem explicar a causa de sua "doença misteriosa", ou sem usar meu nome ou do Império, o que seria igualmente problemático e chamaria atenção desnecessária... então o mais fácil é simular sua morte. Ninguém procura pelos mortos. Dessa forma, posso desvincular seu DNA de qualquer banco de dados e apagar você da existência.
Eu só pude encará-lo boquiaberta. De fato ele parecia ter um plano. E de fato ele parecia ter pesado as consequências. E de fato, isso envolvia me levar embora.
— Eu não posso fazer isso com eles! — ralhei — Temos tido problemas, mas nada que justifique! — Agora eu andava de um lado a outro gesticulando freneticamente. — Com que cara eu vou poder voltar e dizer que eu na verdade não morri? — Não tinha sido uma pergunta retórica, então me virei para Siever e esperei a resposta.
— Você não volta! — Ele foi taxativo.
Eu já imaginava que ele daria essa resposta. Já havia imaginado desde o princípio. Então me senti fraca novamente. Dessa vez de tristeza.
— Tem que haver outra alternativa... E se eu falar que fugi? Não pode ser contado como sequestro!
— Senhorita Latrell... Alésia... pense! Você ainda é menor de idade aqui. Se você fugir, óbvio que tentarão buscá-la de volta. E também, veja por esse lado: se você for tida como viva, há a possibilidade de um dia alguém descobrir sobre você. E se quiserem te usar, te atingir, em proveito de alguma causa, não acha que seguir o seu rastro genético até a sua família seria a forma mais fácil?
— Sinto muito por você ter sido carregada para essa maldição, mas ao que parece, é o seu destino, — Siever calou-se por um instante, e girou o gerador de realidade aumentada por entre os dedos — assim como foi o meu... — e soltou um longo suspiro e passou a encarar o teto. — Daqui há uns anos, eu nem poderei mais aparecer em público, por exemplo... não que eu tivesse tido vontade para isso por tempos antes de você nascer — e ficou em silêncio por um instante de novo. — A minha aparência não muda, como a sua não vai mudar. Eu sendo uma figura pública, o garoto gênio da galáxia sobre quem holofotes e refletores de imagem estiveram focando por anos, se eu mostrar meu rosto publicamente ainda parecendo um garoto... surgiriam perguntas... e onde há perguntas, há o desejo por respostas.
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Deuses Caídos da Criação
Fantasy[Esta é apenas uma amostra da novel Deuses Caídos da Criação, traduzida para o português pela equipe da 3Lobos.org] Autora: Nega Fulor Sinopse: Em um futuro milhões de anos a frente, a magia e a tecnologia já coexistiam. Os humanos expandiram-se por...