Tudo é revelado.

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Elas já estavam andando pela estrada há horas quando Emily começou a se cansar, durante o percurso a menina se apresentou como Megan, e disse que conhecia aquelas terras como as palmas de sua mão. Magra, cabelos negros e pele clara, tinha aparentemente a mesma idade de Emily. Usava calça de couro e uma camisa regata enquanto as outras duas ainda vestiam o manto. Tinha uma cicatriz no pulso.

- É aqui. - ela indicou.

Era uma caverna grande protegida por dois jovens garotos.

- Eu estou com elas. - disse para eles.

E então eles a deixaram passar, não antes de algemarem Ramona e Emily.

- O que estão fazendo? - Emily perguntou assustada.

- Ela é a princesa, vocês sabem com quem estão mexendo? - Ramona se indignou, as duas sendo empurradas para dentro da caverna escura.

- Para onde estão nos levando? - Emily perguntou intrigada.

Megan não deu resposta. Eles entraram em um local totalmente iluminado por raios de sol que refletiam nas rochas e se tornavam azuis. Emily e Ramona observaram o lugar: cheio de jovens armados, quase soldados se não fosse pela falta da armadura. Eles cercavam um relevo onde um homem estava sentado em uma espécie de trono feito a base de rocha e raízes.

- Olá, convidadas. - a voz dele era aguda e amigavél.

Ramona paralizou, uma onda de choque invadiu seu corpo dos pés a cabeça. Os olhos ceios de lágrimas, a boca aperta sem acreditar.

- O que houve, Ramona? - Emily perguntou com as mãos amarradas.

Ela abriu a boca mas não conseguia soltar a voz, estava tremula. As pernas bambas, um dos soldados teve que segura-lá para se manter em pé. Até que enfim ela respondeu, olhando fixamente para o homem.

- Kurt!

- O que foi, parece até que viu um fantasma. - ele falou dando um sorriso.

Então Emily reparou a semelhança com sua tia Tasha. Os cabelos e olhos negros. Não podia, não deveria, não estava certo. Kurt estava morto há mais de dezessete anos. Se não estava, como conseguiu se esconder por tanto tempo e por que? A princesa ficou tremula, seu pai estava a alguns metros à sua frente. Isso significava que as histórias contadas dizendo que havia se sacrificado por ela eram mentiras. Kurt estava vivo e era a mais pura verdade já que Ramona o reconheceu. Escorriam lágrimas dos olhos das duas neste momento.

- Você está vivo? - Emily começou a questionar. - Como? Por que não voltou para casa? - ela estava revoltada e o tom de voz alto.

Kurt havia mudado, tanto na aparência quanto nas atitudes. Agora estava vestindo roupas rasgadas e parecia estar mais a vontade, sendo rei ele tinha que transparecer poder e sinceridade a todo o momento. Ele se levantou do trono e andou em direção à elas.

- Você cresceu. - disse para a filha.

Se direcionou para Ramona e tocou as pontas do dedo no queixo dela, levantando seu rosto.

- Kurt, como pode estar vivo? - ela perguntou. - Você tem noção das coisas que eu passei, do abismo de tristeza que senti?

- Por que não voltou para casa? Eu sou sua filha! Você me abandonou me fazendo pensar que estava morto!

- Você não é a única filha dele. - um dos guardas observou.

- O que? - ela sentiu medo e angústia.

- Megan. - disse Ramona. - Eu percebi a cicatriz no pulso, do machucado que teve quando nasceu.

A menina se aproximou deles.

- Isto mesmo, mãe. - disse olhando para ela.

- Como assim, Ramona? - Emily estava se sentindo uma completa tapada no meio de tudo aquilo.

- Eu estava grávida quando fui visita-lo no dia do casamento, e isso eu não te contei. - Ramona abaixou a cabeça.

- E então você me abandonou. - disse Megan cruzando os braços. - Temos está semelhança, Emily, seu pai te abandonou, minha mãe me abandonou e assim é a vida.

A cabeça dela estava explodindo de tanta informção em tão pouco tempo.

- Então, Megan é sua filha? - ela esperou que Ramona confirmasse.

- Sim.

- Estamos falando de uma meia-irmã. Você deveria ter me contado!

- Emily, não é simples assim! - ela se defendeu.

Emily percebeu que acabará de falar "meia-irmã", olhou para Megan fixamente, de fato ela tinha uma semelhança com Ramona, os cabelos e a cor da pele. Emily nunca pensou em ter uma irmã até por que não tinha um pai para fazer aquilo acontecer, mas a ideia a animou nem que por um segundo no meio de todo aquele caos. Imaginou as duas andando juntas, comendo e treinando durante um lindo por do sol. Os pensamentos logo foram afastados de sua cabeça.

- Megan, eu não tinha escolha! Era uma fugitiva, não queria que tivesse uma vida ruim. - Ramona tentava explicar para a filha.

- E então decidiu me abandonar? - Megan retrucou.

- Alguém iria cuidar de você, era o que eu pensava.

- E de fato, quando ela tinha seis anos eu a levei comigo. - disse Kurt.

Megan abraçou o pai fortemente. Emily sentiu uma ponta de inveja.

- O que aconteceu com o castelo? Nós vimos tudo pegando fogo!

- Donovan invadiu e tomou o castelo facilmente, ninguém esperava. - Kurt explicou. - Não sabemos se Margaret e os outros estão vivos.

- Isso não pode estar acontecendo, de jeito nenhum! - Ramona estava indignada.

Emily mostrou um choro seco, estava preocupada com a familia e revoltada com seu pai. Ela não descartou a possibilidade de estarem todos mortos, na verdade era no que mais acreditava, se tratando de Donovan. Tirou os pensamentos da cabeça, fingindo não se importar e se concentrou no agora.

- A questão é, por que você não voltou para casa, para mim, para sua familia? - ela jogou na cara.

- Se acalme, mana. - Megan tocou em seu ombro.

Ela sentiu um forte arrepio. Era o primeiro contato fisico com sua meia-irmã, seu corpo se estremeceu. As duas tinham muito o que conversar, precisariam de um tempo juntas.

- Eu não voltei por causa de sua mãe.

Emily ficou confusa. Não sabia o que ele estava querendo dizer.

- Sua mãe não parece quem diz ser.

Falando isso, ele segurou a testa dela firmemente e Emily desmaiou no mesmo instante. Ela mergulhou em uma visão, a visão de sua mãe tramando planos com Donovan para assassinar Rei Derick I, visões de sua mãe aos beijos com o Senhor das Trevas. Visões de sua mãe jovem planejando ser rainha de Donovan e ele ser seu rei e os dois governarem. Kurt tirou sua mão da testa dela e ela acordou, com um grande suspiro.

- Donovan me mostrou estas visões antes de perfurar meu peito e me jogar do penhasco.

Emily acabara de descobrir que sua mãe era uma tirana, acabará de descobrir que era uma assassina que matou seu avô. A expressão dela mudou drasticamente, o contorno de seus olhos estavam vermelhos, cheios de lágrimas e agora sua face estava fechada, cheia de ódio. Margaret era tão culpada quanto Donovan e não deveria estar reinando.

Salvadora: A Profecia - FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora