III

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Eu tinha a sensação que a morte estava ao meu lado o tempo todo. Era incrível como essa doença maldita poderia tirar todas as forças de um ser humano. Ás vezes nos achamos tão invencíveis, mas não somos nada. Absolutamente nada.

Rose tornou-se meus braços e minhas pernas. Emagreci tantos quilos, que eu era uma perfeita caveira ambulante andando pela casa, isso quando eu conseguia andar sozinho. Quando eu assumi que minhas pernas estavam tão fracas, que não podiam me manter em pé, pedi para Rose comprar uma cadeira de rodas para mim. Foi a melhor decisão que eu havia tomado em anos.

— Rose? — fui com a cadeira de rodas até a cozinha.

— Deseja alguma coisa, Dário? — ela se aproximou enxugando as mãos em um pano de prato.

— Preciso lhe dizer algumas coisas. — inclinei a cabeça para o lado, dando um sorriso amarelado para ela; sabia que Rose ia surtar com a conversa.

Rose respirou fundo e sentou em uma cadeira.

— Por favor, não ache que eu gostaria de estar tendo essa conversa com você.

— Não tenha. — resmungou, eu apenas dei uma risada.

— Eu sei que reconhece o quão estou perto de partir.

— Sim, eu reconheço.

— Deixei cinco cartas em minha gaveta da cômoda. Todas elas têm os destinatários, assim que eu fechar meus olhos, pode enviá-las. Também quero que ligue para o palácio, avisando sobre minha morte. Deixei os números anotadas, também estão na cômoda. Essa casa será sua, assim como todo o meu dinheiro.

— Isso não é justo. — Rose limpou uma lágrima do seu rosto.

— Quem disse que a vida é justa, Rose. Venha, vamos para a praia.

— Não, preciso me recuperar disso. — ajoelhou-se perto de mim, e passou sua mão gelada em meu rosto com carinho. — Tenho idade para ser sua mãe, meu querido. Sinto isso, no fundo do meu coração. Eu daria qualquer coisa para vê-lo bem, com saúde. Quando se for, sentirei tanto a sua falta, Dário. Em meu coração ficará um imenso buraco. Você me ensinou tantas coisas em poucos meses, coisas que jamais esquecerei. Você sempre será uma lembrança doce. Eu amo você, Dário. — beijou minha testa. — Sinta o mar e o vento. Depois irei levar seu chá.

Limpei as lágrimas que estavam em meu rosto, e a puxei para um abraço apertado. A doença tinha me trazido aquela mulher maravilhosa, ao menos uma coisa boa diante de toda a minha situação.

— Eu amo você, Rose. — soltei-me dela. — Obrigado por ter ficado comigo esse tempo todo.

Comecei a andar com minha cadeira até o lado de fora da casa. Minha cadeira conseguia andar na areia da praia, Rose havia se preocupado com esse detalhe, o que eu agradeci bastante.

O mar estava bastante agitado, como se estivesse querendo me dizer alguma coisa.

— Então, meu velho amigo, algumas coisas deveriam ser ditas, não?

Uma onda se quebrou violentamente, como se estivesse lhe respondendo.

— Ah, meu amado mar, foi minha fonte inesgotável de vida esses meses. O bem que me fez, nunca terei para descrever. Sinto que estou indo embora. Minhas forças estão tão fracas.

O vento passou por mim violentamente.

— Oh, morte, está querendo me levar?

Mais uma vez o vento me atingiu com força.

— Preciso apenas ir até o mar, sentir a água em meus pés antes de partir.

Com a maior dificuldade do mundo, consegui levantar da cadeira de rodas. Aos poucos, consegui sentir a água nos meus pés. O vento passou novamente por mim, mas de maneira mais suave. A onda bateu em minhas pernas, como era boa aquela sensação.

O vento acertou meu rosto mais uma vez.

Deitei na areia da praia, esperando a água me atingir.

Fechei meus olhos.

Era um adeus, eu podia sentir.

(616 palavras)

Vento no LitoralOnde histórias criam vida. Descubra agora