IV

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Todas as noites eu sonhava com Dário morto na areia da praia

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Todas as noites eu sonhava com Dário morto na areia da praia. Jamais vou esquecer aquela cena; eu nunca estive realmente preparada para aquele momento. A única coisa que me confortou foi o simples fato dele ter dado adeus a esse mundo no lugar que ele mais amava: em frente ao mar.

A parte mais difícil foi comunicar aos pais dele. Ouvir o desespero da voz da mãe dele, assim como a do pai, partiu meu coração de um modo impressionante. Mas nada supera o olhar acusatório de Isabella sobre mim quando me encontrou. Lembro de todas as suas palavras amargas despejadas sobre mim, me acusando por ter escondido Dário dela. Mas, Isabelle não entendia que eu não poderia trair a confiança dele.

Os reis portugueses me agradeceram bastante pelo meu cuidado com o filho deles. Encheram-me de presentes, e respeitaram a decisão de Dário em me deixar a casa na Escócia e seu dinheiro que estava em sua conta pessoal. Nada daquilo me interessava, coisas materiais nunca encheram os meus olhos, mas acatei a decisão dele.

Diante daquele mar, pude sentir a presença dele. Como se ele estivesse com seu braço apoiado em meu ombro me explicando sobre como ele enxergava a vida. Sobre o seu amor pela biologia, cosmologia, filosofia, e sua maneira irritante de achar que estava certo em tudo.

— Dário, você precisava ver como o mar está lindo hoje. Bastante agitado, eu diria.

Como eu estava em cima das pedras, uma onda me atingiu. Dei um sorriso, parecia ser obra dele; eu não gostava muito de praia, e ele fazia questão de jogar água em mim toda vez que eu ficava distraída.

— Bem, você deveria parar com essas coisas. — fechei meu casaco. — Sabe o quão não gosto dessas coisas. Mas nunca aprendeu, não é mesmo? — comecei a chorar. — Como eu sinto sua falta, querido.

Desci das pedras e comecei a caminhar de volta para a casa antiga dele.

E o vento me acompanhou, como se tivesse levando tudo embora.

(333 palavras)

Vento no LitoralOnde histórias criam vida. Descubra agora