Um passo mais perto

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"O coração acelerado, cores e promessas. Como ser corajoso? Como posso amar quando estou com medo de cair? Mas vendo você sozinha, todas as minhas dúvidas de repente vão embora, de alguma forma. Um passo mais perto..."

(A Thousand Years - Christina Perri)

Ganhar ou perder.

Lutar ou desistir.

Ficar ou correr.

Este sempre foi o ponto. A dúvida que permeia os pensamentos da humanidade, desde que o mundo é mundo, acabou tornando-se uma realidade para mim todos os dias. 

Desistir de tudo que ganhei e conquistei ao longo da vida por causa de uma simples deficiência pareceu ser uma atitude idiota naquele momento, enquanto olhava para Ana deitada na nossa cama, ressonando baixinho enquanto dormia tranquila.

O que foram os últimos sete anos da minha vida?

Houve um tempo em que realmente pensei em desistir, joguei a toalha e trouxe um rastro de destruição por onde quer que passasse.

Apesar de não ser muito esperto, sempre tive senso de perigo e de autopreservação. Todo meu controle se foi quando Ana me surpreendeu com uma gravidez inesperada. Depois daquela descoberta, tudo virou um borrão.

A vida passa depressa quando você está envolvido com eventos que tomam sua atenção 24 horas por dia. Quando esses eventos fogem de seu controle, como a morte inesperada do seu pai, a gravidez de sua melhor amiga e o abandono quando você sofre a porra de um acidente de carro, e termina entrevado numa cadeira de rodas.

Minha vida era boa, sempre foi muito boa. Se tivesse uma queixa, seria no mínimo ingratidão. 

Pais amorosos, trabalhadores e especiais. Irmã caçula maravilhosa, parceira e disposta a me ajudar em qualquer situação. Um time, uma equipe, uma família dentro de um esporte que sempre me completou. Mulheres dispostas a me dar qualquer coisa, a fazer qualquer coisa e me apoiar em inúmeras aventuras. Carreira promissora, um cargo respeitado e a chance de sair para a rua todos os dias, podendo lutar de igual para igual com o mundo pelo pão de cada dia.

Só uma coisa estava alheia a tudo isso.

Havia algo que fazia meu coração tropeçar uma batida, depois acelerar só para acalmar em seguida. O momento de paz e serenidade que fazia tudo valer a pena. Em minha rotina severa, tinha aquela distração que me tirava o fôlego sempre.

Ana.

Aquela mulher nunca mais me deu um minuto de paz, desde o dia em que botou os olhos em mim dentro do setor de RH daquela bendita empresa.

Sete anos.

Ana.

Um filho.

Ana.

Acidente.

Ana.

Cadeira de rodas.

Ana.

Dor.

Ana.

Raiva.

Ana.

Culpa.

Ana.

Medo.

Ana.

Redenção.

Ana.

No final de tudo, toda minha vida estava resumida em uma palavrinha de três letras. Ana. Eu era um covarde, mas ela era Ana. Eu queria sumir, mas ela era Ana. Quando a vontade de morrer era a única coisa que conseguia sentir, Ana.

Poderiam passar mais sete, quatorze ou vinte um anos. No final, depois de tudo, a jornada sempre terminaria em Ana. Ainda que em mil anos, ela estaria lá. Eu estaria lá por ela, para ela, com ela. 

Não importava o quanto eu fosse idiota, um bastardo infeliz. Olhar para Ana, viver com Ana e poder amar Ana fazia tudo valer a pena.

Mil anos (Conto de "O bebê do meu melhor amigo")Onde histórias criam vida. Descubra agora