VI

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 Sentei-me no chão com a mão na cabeça onde havia me machucado, ainda estava zonza e a figura a minha frente tentava me ajudar a levantar.

 — Austin? - Perguntei com o mundo girando em minha mente. — É você?

 Ele estendeu a mão para mim, levantei- me com sua ajuda expressando uma careta de desconforto.

 — Sim, Austin Catelli, a seu favor signorina Deschievane. * - Disse com um sotaque forte.

 Ele nunca me contou que falava italiano... Mas, o mais importante, o que ele fazia aqui, sendo que deveria estar a quilômetros de distância?

 — Está tudo bem? - Perguntou.

 Meneei com a cabeça latejando.

 — Bom, espero que esteja melhor, pois isso pode doer...

 Olhei-o confusa.

 — Austin, estou toda dolorida, o que mais me fal... - Fui interrompida quando ele se jogou em mim para me dar um abraço apertado demais.

 Fiquei em silêncio absorvendo todo o impacto daquele gesto. Seu rosto se escondia em meus ombros, fazendo com que seus cachos fizessem cócegas em meu pescoço, suas mãos fechavam-se ao redor de minhas costas com força. Apenas o abracei, não com a mesma intensidade, mas podia ser considerado, se visto por alguém de longe, como um grande abraço.

 O que era estranho, pois não era como se fossemos amigos de berço, ou gêmeos separados...

 — Não, - Sussurrei. — não é Deschievane.

 — Como disse?  - Perguntou se afastando do abraço.

 — É Borella. - Sorri ao ver sua cara de confusão.

 Ele me ajudou a levar os destroços da bicicleta para casa, desejava do fundo da alma não levar um sermão por tê-la quebrado. Muito menos por levar um menino para casa.

 Já era bem tarde, disse para que ele viesse me visitar de manhã, mas ele insistira em ficar. As luzes da casa ainda estavam apagadas, o vento antes morno já estava se tornando frio e me fez esfregar os braços para esquentá-los.

 Não havia muitas pessoas na rua, perguntava-me onde meus avós poderiam estar.

 Acabei por contar a nem tão complexa história da minha vida até aquele ponto.

 —... E você, - Comecei apontando um dedo para sua face. — Nunca me contou que era italiano!

 — Muito menos você! - Exclamou rindo.

 — Mas eu não sabia disso. - Levei as mãos ao quadril e o encarei brava.

 Ele me respondeu com um sorriso ligeiro.

 — E eu não tive tempo.

 Revirei os olhos e uma onda de adrenalina invadiu meu corpo ao me lembrar da bicicleta. E se ela fosse muito importante para meus avós? Precisava consertá-la, de alguma forma, o que seria impossível para mim, uma vez que a roda dianteira desprendera-se do garfo e eu não entendia nada sobre aquela mecânica.

 — Não quero nem ver a possível cara de decepção de meus avós quando notarem o estrago.

 Ele direcionou o olhar até os destroços e riu. Se ele ria comigo ou de mim já não era mais possível identificar.

Um Destino para SophieOnde histórias criam vida. Descubra agora