XV

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 A minha cabeça estava desnorteada, meus sonhos eram confusões em massa, muitos gritos, correria, sangue... Odeio péssimos sonhos, o pior era não conseguir acordar, mas algo me dizia para não tentar, que o melhor seria continuar dormindo.

 Mas aquela voz não me permitia obedecer a minha própria mente.

 Fui forçada a acordar, em meu quarto por sinal, na casa de meus avós. Ao abrir os olhos esperava estar em outro lugar, presa por criminosos, sendo obrigada a pagar as dividas de meus pais. Foi então que me lembrei, a memória do que tinha acontecido ontem, -ou hoje, ou... não me lembro a data, estava com a mente cansada. - veio com força.

 Austin levara um tiro por minha culpa, corri floresta a dentro para fugir, tropecei em algo em meu caminho e devo ter batido a cabeça em alguma árvore velha, mas me lembro de ter visto homens uniformizados, policiais ou algo do tipo antes de apagar.

 Com a lembrança algumas lágrimas ameaçaram cair, sentei-me e encolhi as pernas para enterrar meu rosto entre os joelhos, permiti-me chorar em silêncio, ninguém me ouviria, não queria que me ouvissem.

 O ocorrido tinha sido tão surreal para mim, como eu ainda podia estar em casa?

 Comecei a soluçar em meio ao choro, a porta se abriu e meus avós entraram silenciosos, preocupados comigo.

 Violeta olhava para mim com um sorriso triste e Celino a segurava com carinho por um ombro. Meus soluços foram sumindo, pelo menos seu som, chorava tanto. Não gostava que me encarassem daquele jeito, queria que dissessem algo. Estavam me matando com o silêncio.

 — Querida? - começou minha avó atendendo ao meu pedido. — Acho bom descermos e comermos algo, não? Precisa se alimentar.

 Meus ouvidos não ficaram satisfeitos com sua sugestão. Eu queria um conselho, uma ajuda. Queria saber de Austin, queria que me contassem direito o que estava acontecendo de uma vez por todas. Comer um bolo estava fora de cogitação neste momento. Minha vontade era gritar, mas era a minha avó ali. 

 — Vovó eu... eu...

 Não consegui terminar a frase, maldito seja todo esse choro.

 — O que aconteceu? - consegui enfim perguntar. —Contem tudo por favor.

 E me explicaram.

 Meu pai fora integrante da máfia, mas desistiu após encontrar o amor de sua vida, minha mãe mudara seu mundo de tal forma que ele jamais pensaria em voltar àquele grupo de pessoas. Mas o inevitável tinha acontecido. Minha avó paterna ficara doente, tão doente que o tratamento exigiria muito dela, e do dinheiro da minha família também.

 Papai estava desesperado e recorreu ajuda a seus antigos colegas, pessoas horríveis. Conseguiu o dinheiro que queria, mas o tratamento não curou sua mãe. E como se isso não bastasse, meus pais não podiam pagar a divida com o chefe da máfia, segundo meus avós isso foi um tormento para todos. Mamãe temia isso, temia me perder e perder o marido por dinheiro.

 Alguns dias após um dos subordinados ter deixado o aviso de dívida bem claro, meus pais sofreram um acidente de carro. Pelo menos é isso que Celino e Violeta acreditam, ainda tentam acreditar na bondade humana e dizer que foi um acidente, não um assassinato mascarado por toda uma história envolvendo um carro e uma curva acentuada.

 Eles estavam tão desamparados. Mas é claro que sempre tem algo a mais para fazer você não levantar da lama. Após a morte de meus pais, uma mulher dizendo ser do serviço social tomou-me dos braços de meus avós, alegando que não eram capazes de cuidar de mim. Um casal americano me adotou e depois disso nunca mais me viram. Até eu ser mandada de volta para cá. Por tempo indeterminado.

 Eles não podiam pagar a divida de meus pais.

 — Lamentamos muito por isso - Celino disse tomando a minha mão em um gesto carinhoso. —, e agora temos que proteger você, é o que eles querem no momento.

 — Sei que isso é muita coisa, mas também estamos assimilando tudo isso. Nunca vimos você desde que era um bebê, e agora querem te levar, é tudo meio suspeito... Protegeremos você com o que resta de nossas vidas.  

 Sim, era muita coisa mesmo... Agora que já tinha saciado minha curiosidade sobre o passado, necessitava saciar a do presente.

 — E quanto a meus amigos? O que aconteceu com eles? Onde estão?

 Engoli em seco quando se entreolharam.

 — ...Austin? Quando será... - não conseguia terminar a frase, perguntar quando seria seu enterro. Um enterro que não seria necessário se meu pai tivesse um pingo de juízo.

 Minha avó sorriu gentilmente.

 — Querida, ele está lá em baixo. Com certeza gostaria de conversar com você.

 Meu coração bateu mais rápido.

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Oulá meus cannolis, como vão? Demorei pra postar, mas aqui está. Estou começando um projeto novo, algo que me vem coçando a mente faz um tempo, ficarei feliz caso queiram ler quando estiver postando, deixarei o nome da história aqui nestas notas finais quando começar a postar. E ficarei mais feliz ainda caso comentem e votem neste capitulo como sempre peço, isso me alegra de montão. Beijos de açúcar ♥         


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⏰ Última atualização: Dec 22, 2017 ⏰

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