2 ☀ Teresa

241 42 21
                                    

Talvez esse plano não seja tão correto. Eu poderia contar a minha melhor amiga que sou apaixonada por ela há anos em casa. Mas nãaao; eu meio que armei essa viagem. Agora estou aqui, numa cidade que nunca pisei antes para "fazer a cabeça" da Lorna de que podemos ficar juntas. Juntas, digo, como um casal. Contudo, eu queria sentir algum tipo de liberdade maior. Que na minha cabeça está significando 'um momento único em um lugar único'.

Não sei por onde começar! A viagem é o começo, Teresa, me lembro. Não sei como continuar! A continuação é só ser você mesma, Teresa, me lembro. Amo viajar com Lorna, mas nunca tive intenções de seduzi-la. Essa era para ser uma viagem qualquer, embora nós nunca tenhamos viajado para outro país juntas. É nossa primeira vez fazendo isso juntas. Ou seja: estou tratando essa viagem como algo especial. Como se 'primeiras vezes' fossem para ser especiais. Mas com Lorna... Ela é especial para mim. Então, eu quero que essa viagem seja mais especial do que já é.

Estamos desembarcando do avião enquanto minha ansiedade fala. Ela finalmente cala a boca quando paro para avaliar o aeroporto Pinto Martins. O aeroporto internacional de Fortaleza é impressionante. Me dá a sensação de estar num shopping.

"Vamos," Lorna me chama. "Seu pai comentou que teremos um chofer pra nos levar ao hotel. Acho que ele contratou para ser nosso motorista particular."

Sim, foi.

Um Chrysler 300C preto espera por nós. Estou sentindo mais como se estivesse em uma lua de mel do que em uma viagem qualquer. Não estou reclamando, é claro.

"Srta. Torv, srta. Gutierrez," o chofer (branco e de olhos castanhos, observo rapidamente) fala em inglês, abrindo a porta para nós.

Sorrio simpaticamente. "Obrigada."

Lorna agradece educadamente. Ela é mais fechada que eu. Evito falar com pessoas, no entanto, estou aprendendo a ser menos medrosa. Amo conversar e falo bastante, só que fico nervosa com apresentações. Em questão de aparência, eu pareço grosseira ou antipática e Lorna parece gentil. O que ela é. Dá para sentir até por foto.

O motorista fecha a porta após entrarmos e em seguida pega nossas malas para guardá-las no porta-malas. Relaxo no banco de couro. Tem champanhe, mas o que eu quero mesmo é tomar água de coco. Uma das melhores bebidas que já experimentei na vida. Quase tiro meu salto alto de tão confortável que estou. Só não tiro porque é chato calçá-los.

"Acho que aqui já é de noite," Lorna quebra o silêncio, olhando o céu pela sua janela.

"Horário e clima são uma merda." Mas eu aprendi um pouco a gostar de pesquisar esses detalhes. Antes, eles me deixavam muito ansiosa. Trabalhei isso com minha psiquiatra e agora não me preocupo tanto quando vou viajar para outro país.

Abaixo a janela para perguntar ao motorista qual seu nome. É Rafael. Rafael Souza. Provavelmente errei a pronúncia. Uma coisa que fui notando com o tempo é que, nós que falamos em inglês, temos dificuldade para falar outras línguas. Enquanto isso, Rafael fala inglês como se fosse sua primeira língua. Nem tento espanhol, pois aprendi que no Brasil se fala em português e que eles estudam muito mais inglês do que espanhol. Aproveito para perguntar se já estamos chegando.

Lorna ri. "Daqui a pouco, você estará perguntando direto 'a gente já chegou?'. Que nem o Burro do Shrek."

"É engraçado fazer isso. Mas não irei importunar o chofer."

"Claro que não. Mas comigo, né? Sempre."

Puxo ela num abraço de lado e mordo seu ombro, como adoro fazer. Ela tenta me empurrar, sorrindo.

Volto a olhar para as janelas. Estamos passando pela famosa avenida Beira Mar. Ela é longa, imensa de comprimento e largura. Avisto tantas coisas, tanto do meu lado direito, como esquerdo e frente. Vejo vislumbres do mar. Há diversos comércios, pontes, quadras de jogos, prédios belíssimos, pessoas andando de skate, fazendo corrida, passeando com seus cachorros ou simplesmente caminhando. É como se fosse uma cidade em um lugar só. Estou maravilhada.

"Chegamos, srta. Torv," Rafael nos avisa.

Reservamos nosso quarto em um hotel cinco estrelas. A ladeira para os carros subirem e pararem em frente a porta do hotel é de parar o cérebro. Moro no Upper East Side, um bairro mega nobre de New York City, mas ainda me surpreendo com luxo.

Quando descemos do Chrysler 300C, respiro fundo. A viagem oficialmente começou.

Um Amor de ViagemOnde histórias criam vida. Descubra agora