Onde está minha sanidade?

Capitulo Dois

O dia teria sido melhor se essas lembranças não me viessem à cabeça em plena manhã. Resolvi ouvir uma música e tomar meu café, antes que chegasse a hora de ir trabalhar, não podia me atrasar e ouvir todo aquele discurso decorado da Warren, a supervisora, ela me odeia...uma pena.

As meninas ainda estavam dormindo, fui até a cozinha, peguei umas panelas e corri até o quarto delas. Me sentei no chão e comecei a batucar. Não que isso fizesse sentido, aliás, nada na vida faz sentido, por que isso precisava fazer?

— Você pode se candidatar ao show de talentos lá da escola –Mary disse bem humorada com a voz rouca por causa do sono –Eu soube que o prêmio seria bom.

Vivian simplesmente se recusava a reagir a todo e qualquer barulho, essa garota é minha vida, eu a amo e tudo mais, mas dorme como uma pedra. Lancei um olhar divertido para Mary que se jogou em Vivian com um abraço desajeitado.

—Vamos meninas, andem logo, se forem rápidas no banho, terei tempo pra ir com vocês até o Starbucks –Dei uma piscadela e saí do quarto, fechando a porta atrás de mim.

Voltei à cozinha, de onde pude ouvir o noticiário da manhã, que me chamou a atenção, onde uma repórter um tanto descabelada entrevistava alguma espécie de porta-voz do governo e relatava alguns problemas na segurança do país, a Flórida já não me parecia mais um lugar tão seguro. De acordo com a manchete, havia um casal, despertando os problemas por todos os lugares, mas falharam, numa tentativa quase
incessante de incendiar uma escola. O homem foi mandado para uma prisão de segurança máxima, depois de ser espancado pelas autoridades até ficar inconsciente, poderiam simplesmente fazer um interrogatório, mesmo que fosse desnecessário, a mulher que estava com ele desapareceu.
Esses idiotas sempre se limitam aos próprios deveres.

—Inúteis –resmunguei com um pouco de raiva, aquilo realmente me entristeceu.

—Hmmmm, sabe quem deveria estar saltitando de alegria agora? –Vivian aparece cantarolando, em seguida me deposita um beijo cheio de entusiasmo –Você! Porque eu cheguei!

—Nada modesta! –respondi, lhe devolvendo um beijo na testa – Bom dia meu amor. Mary já está pronta? Daqui a pouco vamos sair.

—EU SOU O BATMAN! UHUL!– Mary apareceu rodopiando com uma blusa amarrada no pescoço – TÔ PODEROSA! Não, calma aí, eu estou homem. TÔ PODEROSO!!!

— Já te disse que o Batman não tem poderes, ele é tipo um herói sem ser super, chega a ser quase inútil –Respondeu Vivian em um tom brincalhão – Você está de azul, e a blusa no seu pescoço é vermelha, você é o Superman, esse sim é um super-herói, ele é um SUPER-HOMEM, isso faz o maior sentido.

—Ah não, mas o Batman é o cavalheiro das trevas, ele é o cara, já viu ele dando uma voadora?– Mary retrucou.

E os assuntos foram nesse mesmo ritmo até chegarmos. Tomamos o café em uma mesa próxima à janela. Tudo estava calmo, eram raros os dias que começavam tranquilos assim, o que era bom, pois aquela semana inteira havia se arrastado como uma lesma à beira da morte, se é que lesmas se arrastam quando estão morrendo...

Meu celular então explodiu em mensagens repetitivas, aquelas das quais não parariam até que eu visualizasse, era Harry, meu parceiro do trabalho:

"Ei, Bela adormecida!"

"Vamos acordar, está quase na hora"